23 de abril de 2024
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Retrocesso

Mesmo com desconto, dois anos de Bernal acumulam atrasos e demandas reprimidas

Prefeito continua devendo e, sem resultados convincentes, promove adversários que ameaçam sua reeleição

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Está certo: Alcides Bernal perdeu 17 meses dos 48 que deveria ter para exercer integralmente o mandato e, nesse período, cumprir uma das suas promessas mais marcantes de campanha: fazer Campo Grande avançar 40 anos em quatro. Entretanto, nada o impediria de reduzir ao máximo essa meta e, no tempo que restou após recuperar o cargo, poderia ao menos fazer apenas o que não foi feito.

 

No dia 15 deste mês Bernal  completou 730 dias (ou dois anos) de mandato, somados os dois períodos em que governou de forma  ininterrupta. E ainda festejou o “aniversário”, mesmo sem ter razões convincentes para comemorar. A cidade continua no caos. Os setores essenciais não funcionam a contento e a execução dos serviços básicos precarizada, conforme se vê no acúmulo de pacientes nas filas dos postos de saúde, nas ocorrências de doenças endêmicas, na produção diária e alucinante de crateras que fazem da malha viária uma imensa peneira urbana, no funcionamento irregular do transporte coletivo, das creches e dos programas de atendimento emergencial às famílias em situação de risco.

 

Diante das conjunturas locais e nacionais de mudanças políticas e crise econômica, não seria de exigir do prefeito a realização de grandes obras – mesmo porque estão contingenciadas as verbas do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), a principal fonte de investimentos do Município desde o governo do presidente Lula. A grande obra, hoje, seria recorrer ao simples e ao necessário, em vez de 40 anos em quatro fazer dois anos em dois, por meio de intervenções eficazes na manutenção adequada do sistema viário; na melhoria dos serviços em educação, saúde, transporte e mobilidade urbana; no relacionamento institucional produtivo com as forças sociais e políticas, especialmente a Câmara de Vereadores e as entidades organizadas da sociedade.

Bernal assumiu em janeiro de 2013 e foi destituído pela Câmara em março do ano seguinte. Pode até alegar que esse período de 14meses e meio pode ter sido para tomar pé da situação, recompor o funcionamento da máquina e trabalhar com o orçamento do prefeito anterior para preparar o próximo exercício, e então, em 2014, entrar para valer na execução do seu ambicioso programa de governo. Mas veio a sessão da Câmara que o afastou e a capital do Estado ficou 17 meses sob a gestão, igualmente desastrosa, do vice-prefeito Gilmar Olarte. Mais um período para esquecer.

 

Quando Bernal reassumiu em agosto de 2014, graças a uma liminar judicial, Campo Grande já havia perdido mais da metade dos quatro anos de exercício administrativo  2013-2016. O que restava, então, em vez de uma corrida inglória na tentativa de vencer o tempo perdido, seria dar cabo das demandas mais urgentes e inadiáveis para o tempo que sobrou. Nem isso está sendo feito. Os buracos só aumentam a cada chuva, favorecidos por operações tapa-buracos de discutível qualidade – lembrando que uma das primeiras decisões de Bernal foi suspender os contratos da Prefeitura com as empreiteiras responsáveis pela manutenção viária.

 

Daqui a pouco mais de três meses o eleitorado campo-grandense vai às urnas para escolher quem quer para governar sua cidade. Pode ser que o atual prefeito não esteja muito preocupado com isso. Se estivesse, continuaria liderando as pesquisas folgadamente, como era em 2012, quando venceu a disputa atropelando todo mundo. 

 

Hoje, pesquisas registradas na Justiça Eleitoral e divulgadas atestam que os irmãos Trad (o deputado estadual Marquinhos e o ex-prefeito Nelsinho) reduzem as chances de Bernal. Marquinhos é a novidade, mas seu irmão, Nelsinho, que está no sereno e vem de uma derrota acachapante na sucessão estadual, parece estar de volta, com novo fôlego...ressuscitado politicamente pela incompetência do seu sucessor.