29 de março de 2024
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O PT APRENDEU A LIÇÃO?

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Romeu Tuma Jr propôs dividir o Brasil em dois por causa do placar eleitoral da sucessão?

Romeu Tuma Jr é aquele cavaleiro de triste figura que lançou um libelo pró-moralidade e remeteu PT, Dilma, Lula e petistas em geral aos quintos? Pois então, que não o condenemos. Ele está fazendo um favor aos petistas honrados, que formam a grande maioria deste partido. Ele nos desperta para a necessidade de perseguirmos no mínimo uma atenção mais respeitosa ou menos pré-concebida dessa fração territorial brasileira que reprovou Dilma. Ele está sugerindo que, entre verdades e mentiras, entre fatos e boatos, nós, petistas comprometidos com nossa história, entendamos que o PT precisa desvitimizar-se e assumir-se como toda grande corporação: excelência nos acertos, excelência no reconhecimento dos erros e mais excelência ainda na coragem de sangrar-se para que a erva daninha não prospere.

Não é preciso que a língua dos opositores – algumas venenosas, outras maledicentes - nos chame à realidade. O oposicionista cumpre seu papel. Se faz jogo sujo ou não, o problema é entre ele e o nível de sua educação, de sua formação moral, do tipo de valores que adotou para viver. O que precisamos é preocupar-nos conosco. Acumulamos muitas conquistas e vitórias, e estas nenhum oposicionista, acreditado ou não, irá nos tirar. A História já nos reconhece. As nações de maior visibilidade nos reconhecem. Mas isso não basta. Está posto. O que precisamos é sair de dentro de nós quando estamos na planície dos confrontos com adversários não-raramente implacáveis.

PRIORIDADES - Dilma reeleita, seu maior compromisso, a meu ver, não é combater a inflação. Desta é uma das prioridades, sem dúvida. Porém, nossa economia já tem estrutura conceitual e institucional para suportar o tranco das intempéries conjunturais internas e externas. Seu maior desafio, presidenta, é liderar como governante e como petista a maior revolução de costumes que uma governança política e partidária já teve neste País. A revolução da verdade. A revolução da certeza. Não podemos mais conviver com as dúvidas sobre o que fazemos e o que não fazemos quando o assunto é corrupção. E atingimos um estágio em que não é suficiente ser honesto. É fundamental parecer honesto.

Em vários casos tivemos petistas ou albergados surfando no arrivismo. Partido e governo foram condescendentes com alpinistas do oportunismo patrimonial. E estamos pagando um alto preço, mais alto ainda por conta do acréscimo das injustiças que hoje estão misturadas às justiças por aquilo a que fomos condenados sumária ou regularmente.

No governo e no partido temos experiências desabonadoras, sim. Em nome da governabilidade construída criamos abismos continentais entre o PT da verdade e o PT da casualidade. A governabilidade é essencial, busca-la é recurso legítimo. E governabilidade não acontece sem negociação. Não cai do céu. A cultura partidária e congressual do País está arraigada. Mas não há necessidade de fazer desse processo um balcão de negócios.

Nada impede que se recrutem inteligências de outros partidos para fazer parte de um governo. Que seja um recrutamento à luz. E isto é responsabilidade do governo, do próprio Parlamento e também da sociedade. À luz. No Brasil nenhum presidente governa se não tiver maioria no Congresso. Mas o Executivo não pode ser refém do Legislativo e vice-versa. O Legislativo não pode legislar sobre matéria financeira criando ou aumentando despesas. Então estabelece, como auto- compensação, a ferramenta regimental de bloqueio e engessamento do Executivo.

DE NÓS, PARA NÓS - Não é apenas à Nação que nós, petistas, devemos dar satisfações sobre o que não fizemos para combater a corrupção dentro do Governo. É certo que Lula e Dilma ganharam de goleada dos governos anteriores no que diz respeito às operações da Polícia Federal contra a corrupção e o crime organizado que se instalou na plataforma do poder público. Devemos dar satisfação também - e primeiro - a nós mesmos. Ser mais críticos, autocríticos e rigorosos no ato de preservar a instituição à qual pertencemos. Quem é contra o PT por convicção ideológica, religiosa ou classista não vai mudar. Todavia, além de respeitar o contra precisamos fazer de tudo para que essa rejeição não seduza grandes parcelas do conjunto da sociedade, como aconteceu nesta campanha.

Reclamamos muito da linguagem e das posturas rasteiras, infamantes e em vários casos criminosas que alguns anti-petistas e meios de comunicação nacionais fizeram contra Dilma e o PT. Eles têm 50% de responsabilidade e de influência no resultado da eleição e na maiúscula votação de Marina e Aécio. Contudo, os outros 50% estão debitados em nossa conta. Por permitir que a falta de efetivo posicionamento transformassem as denúncias que tanto nos incomodaram em “verdades” e condenações. Não deveríamos hesitar em afirmar à Nação que estávamos fazendo de tudo para garantir a investigação dessas denúncias e, se necessário, o enquadramento de responsáveis, fossem João ou Maria, Papai ou Mamãe, Amigo e Amiga, Aliado ou Apoiador.

Não podíamos deixar nenhuma dúvida sobre nosso compromisso com a defesa da ética, ainda que acuados por um midiatismo inescrupuloso. Nossa resistência seria defender e insistir na afirmação da verdade, e esta vai além das nossas palavras e das convicções sobre a lisura de companheiros. A verdade, queiramos ou não, se liquidifica na máxima corte julgadora que temos. Protestamos de maneira enviesada contra a condenação dos companheiros submetidos à torquemádica corte, quando tínhamos de manifestar nossa submissão à lei, sem deixar de questionar as impropriedades jurídicas. Vai daí que ao fazer a grande e comovente mobilização de solidariedade e apoio às pessoas atingidas pelas sentenças do Supremo, o PT acabou permitindo que esse gesto fosse interpretado como cumplicidade e compadrio. Tudo isso porque antes do julgamento tivemos um posicionamento dúbio, frouxo e vitimizado.

CONVIVÊNCIA - Em tudo isso, no entanto, renova-me a convicção no ideário do PT. Assusta-me a carga raivosa e destrambelhada de ódio, preconceito e infâmias que saem das cabeças e línguas inconformadas com a vitória de Dilma. São pessoas que não convivem com a democracia e não convivem com a sociedade, a não ser que seja a sua exclusiva sociedade, seu mundo fechado, sua tramela segregacionista. É triste, sobretudo, ler e ouvir manifestações de cristãos – talvez, agora, com aspas – amaldiçoando a presidenta eleita ou insuflando o ódio e a desavença com sua conveniente interpretação da Palavra de Deus.

Ora, de seus dez mandamentos Deus nos eleva para dois, vitais, reveladores do compromisso verdadeiro de cada cristão: Amar a Deus sobre todas as coisas e Amar ao próximo mais que a si mesmo.

Edson Moraes