18 de abril de 2024
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Chefe da Casa Civil

Primeiro mês de Bolsonaro é teste de resistência para Lorenzoni

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Não se pode afirmar que a situação de Onix Lorenzoni seja desconfortável. Mesmo no alvo de denúncias que incomodam, ele tem a confiança e a proteção do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Porém, a conjuntura não é das mais tranqüilas para o ministro-chefe da Casa Civil, acossado por denúncias envolvendo-o em operações suspeitas ou, no mínimo, trajadas pela dualidade do legal e imoral.

Durante a transição, confirmado como condutor daquele processo e primeiro a ser nomeado na equipe, já sofreu o primeiro disparo quando a imprensa revelou ter sido beneficiado com doação ilegal de campanha (caixa 2) por parte do Grupo JBS. O fato aconteceu nas eleições de 2014, quando o Grupo JBS, por meio de fundos secretos, doou R$ 100 mil para a campanha de Lorenzoni a deputado federal pelo DEM do Rio Grande do Sul. 

COM DEUS - A operação foi confirmada por Lorenzoni três anos depois, quando disse ter utilizado o dinheiro para pagar dívidas de campanha e não contabilizou a doação. Ele pediu desculpas pelo ato, gesto que o tornou perdoável para o ex-juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro. Mais adiante, Lorenzoni diria não temer possível investigação e que já se havia resolvido com Deus. 

“Se tem um cara tranquilo, este sou eu. Primeiro, eu já me resolvi com Deus, o que é importante para mim. Segundo porque, agora com a investigação autônoma, que não é nem inquérito, vou poder esclarecer definitivamente. Nunca estive envolvido com corrupção. A gente não pode ser hipócrita de querer misturar financiamento e o não registro de um recebimento de um amigo, que esse erro eu cometi”, frisou Lorenzoni.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, determinou a apuração sobre o pagamento de caixa 2. Os delatores da JBS disseram depois que foram dois repasses de R$ 100 mil, um em 2012 e outro em 2014. Lorenzoni já foi investigado por supostamente receber R$ 175 mil em repasse da Odebrecht posto sob suspeição, mas o inquérito acabou rejeitado pelo STF. Sobre as acusações, Jair Bolsonaro foi incisivo: "Havendo qualquer comprovação ou denúncia robusta contra quem quer que seja e que esteja ao alcance da minha caneta Bic, ela será usada”, avisou.

NOTAS EM SÉRIE - Outra denúncia que fere os calcanhares do chefe do Gabinete Civil chegou a publico em uma reportagem da Gaúcha Zero Hora, revelando que Onix Lorenzoni usou 80 notas fiscais de uma firma de consultoria tributária para justificar o recebimento de verba de gabinete em seus 10 anos na Câmara dos Deputados. No total, foram pagos pela Casa R$ 317 mil, com 29 cupons emitidos em sequência pela Office RS Consultoria. 

Suspeita-se que Lorenzoni tenha sido o único cliente dessa empresa, que pertence a um amigo e colaborador regular de suas campanhas eleitorais. O amigo - César Ferrão Marques - esá filiado ao DEM, partido de Lorenzoni, há 24 anos, e a empresa não tem registro no Conselho Regional de Contabilidade. O ministro e o empresário negaram as irregularidades. 

Para completar, Lorenzoni também admitiu ter usado verba da Câmara para voar pelo Brasil fazendo a campanha presidencial de Jair Bolsonaro, revelou a Folha de S.Paulo. Lorenzoni rebateu, dizendo que não cometeu qualquer irregularidade e não tem que explicar nada. “Está tudo rigorosamente dentro da legislação da Câmara. Enquanto congressista e deputado, eu tenho a prerrogativa e direito de andar no lugar do Brasil que eu quiser e eu estava ajudando a construir o que, hoje, nós estamos vivendo: a transição de um novo futuro para o nosso país”, alegou.  

Entre essas e outras, em dias de indormida sequência de contatos e articulações por interesses do presidente e do governo, Lorenzoni vem respirando o fôlego de seu crédito pessoal junto a Bolsonaro. Mas não ignora que já existem pressões pelos bastidores, principalmente por parte de políticos aliados e assessores de Bolsonaro que não teriam sido muito simpáticos à escolha do presidente para chefiar o seu Gabinete Civil. O que está em jogo agora já não é mais o grau de confiança e de afeição de Jair Bolsonaro por Lorenzoni, mas a durabilidade de sua permanência no cargo de maior relevância do staff presidencial e que não pode funcionar em uma conjuntura de vulnerabilidade política..