20 de abril de 2024
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Puccinelli se fortalece, mas aliança anti-Dilma garante Azambuja

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O afastamento de Dilma Roussef (PT) e a entronização de Michel Temmer (PMDB) no cargo mais poderoso da República vai trazer para Mato Grosso do Sul alguns impactos de grandeza específica. Embora assuma a caneta mais importante do Palácio do Planalto, Temmer não vai ter autonomia total para saciar todo o apetite fisiologista de seus correligionários, porque seu partido e a oposição (especialmente PSDB, DEM e PPS) estabeleceram reciprocidade quase absoluta para efetivar a defenestração de Dilma e, em consequência, adquirirem juntos o direito partilhar o butim.

Com Temmer na presidência da República, os peemedebistas de Mato Grosso do Sul ganham preferência na distribuição dos cargos federais. Fala-se até em nomes para o ministério a ser formado, como os do ex-governador André Puccinelli e do deputado federal Carlos Marun. E é necessário frisar que Puccinelli e Marun possuem recortes de proximidade bem acentuados com os novos personagens da cúpula real palaciana: o ex-governador goza de prestígio e de consideração afetiva junto a Temmer e o deputado firmou-se com reconhecidos méritos como principal batedor e escudeiro de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara que abriu e conduziu o processo de abertura do pedido de impeachment de Dilma Roussef.

Além de revigorar a perspectiva de, conforme a conjuntura, se consolidarem como opções do partido para a disputa sucessória em Campo Grande, Puccinelli e Marun estarão em condição privilegiada para melhorar sua influência no mosaico político local. Outras duas personalidades de ponta no peemedebismo guaicuru que devem ganhar oxigênio novo com a investidura de Temmer são os senadores Waldemir Moka e Simone Tebet.

No caso de Moka, o fato de ter seu nome sempre citado para assumir um ministério – foi até relacionado entre as opções para a Pasta da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no governo Dilma – serve para reavivar as credenciais que lhe foram atribuídas quando aceitou analisar um convite formulado à época pelas lideranças do PMDB no Congresso Nacional. Quanto a Simone, há rescaldos históricos das relações entre seu pai, o falecido senador Ramez Tebet, e Michel Temmer.

Em princípio, nem Moka e nem Simone cultivam intenção de entrar no páreo sucessório dos municípios de sua maior base eleitoral, Campo Grande e Três Lagoas. Contudo, a nova ordem de poder transforma-os em pontos obrigatórios de referência na montagem do tabuleiro em torno da disputa por duas da maiores prefeituras de Mato Grosso do Sul – a da capital é a primeira e a treslagoense a terceira no ranking numérico do colégio eleitoral.

PRÓS E CONTRAS – A investidura de Temmer na presidência e a automática ascensão de Cunha ao posto constitucional de segundo nome da linha sucessória da Republica sugere que o PMDB tenha superioridade na relação das forças que destituíram Dilma. Todavia, o jogo de poder a ser desenvolvido se o Senado aprovar o impeachment de Dilma vai depender, e muito, e em caráter decisivo, das cartas do PSDB, DEM, PPS e demais partidos (ou personagens) que deram seu voto para laurear os peemedebistas com o comando do País.

Nesse caso, os favores trocados implicam dependência recíproca como questão intransferível de sobrevivência política. Longe de representar pleno e reatamento afetivo, o instinto de sobreviver põe PMDB e PSDB-DEM numa mesma embarcação, que só não entra a deriva se todos remarem juntos. Essa imposição estará viva e determinante na definição estratégica e tática dos partidos que se enfrentarão em outubro. Os tucanos sulmatogrossenses têm no governador Reinaldo Azambuja uma liderança prestigiada pela cúpula partidária, que, com certeza, vai amparar seus projetos eleitorais, sobretudo na briga pela prefeitura do maior colégio eleitoral do Estado.

Além do senador Aécio Neves, outros líderes nacionais do PSDB e das siglas aliadas que se preparam para tomar Brasília frequentam a lista de sólidas relações afetivas e políticas de Azambuja. Este círculo de influências serve de blindagem e de impulso para os projetos que o PSDB têm para Mato Grosso do Sul – um deles, quem sabe, pode ser removido. A evidente intenção do PSDB de aniquilar com o PMDB e o andrezismo pode ser aliviada em nome de uma convivência nacional que não pode ser fragilizada, sob pena de jogar água abaixo toda a vitoriosa articulação engendrada para trocar os detentores do poder e consagrar novo inquilinato no Palácio do Planalto.