28 de março de 2024
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De olho nas eleições

Saída do PDT da base aliada de Rollemberg acirra disputa eleitoral em 2018

A um ano das eleições, a sigla rompe a aliança com Rollemberg e abre caminho para uma candidatura própria em 2018. Agora, o chefe do Executivo local enfrenta o desafio de manter a influência nas votações no Legislativo e de se reaproximar dos servidores

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A já deteriorada aliança entre a Executiva Regional do PDT e o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) chegou ao fim. A sigla anunciou, ontem, que vai colocar à disposição do Executivo local os cargos preenchidos por indicações políticas e vestiu a camisa de uma posição independente. Assim, na contagem regressiva para as eleições, o chefe do Palácio do Buriti vai enfrentar o desafio de reconstruir a base aliada para a disputa de 2018, além de pacificar a desgastada relação com o funcionalismo. A aprovação do projeto que reformulou a Previdência e aliviou a situação financeira do GDF aumentou a pressão de várias categorias que esperam pelo pagamento de reajustes salariais e também suscitou a expectativa de que obras prometidas saiam do papel.

A reunião do PDT que determinou o rompimento durou cerca de duas horas. A tendência é que, frente à ofensiva, o comandante do Executivo local exonere os comissionados apontados pelos pedetistas. Segundo o presidente regional do partido, Georges Michel, a decisão se deve à dificuldade de diálogo com Rollemberg, além de falhas na gestão. “Foi uma reunião muito democrática, em que cada um colocou seu posicionamento. E tomamos a decisão de ter independência para nos posicionarmos. O GDF tem falhado na concretização do plano de governo. Com essa decisão, ficamos livres para realizar as cobranças”, afirmou.

Também participaram da reunião da Executiva Regional do PDT o vice-presidente da sigla no DF, Fábio Barcelos; os distritais Joe Valle e Reginaldo Veras; o secretário de Trabalho e Empreendedorismo, Thiago Jarjour; e outros 25 nomes da legenda.O movimento evidencia as pretensões do partido quanto ao próximo pleito. A sigla trabalha para emplacar um candidato próprio ao Palácio do Buriti. Os nomes do presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), e do ex-secretário de saúde Jofran Frejat (PR), caso ele se filie ao partido, são cotados.

Em nota, o GDF lamentou a decisão  do PDT, “que o obrigará a rever o espaço administrativo que o partido ocupava até então”. Ressaltou que acredita não haver motivo político na decisão, a não ser o de dar “respaldo a um projeto eleitoral”. “O Governo de Brasília espera que o PDT realmente respeite os seus compromissos com a cidade e sua população e vote a favor de projetos que são do interesse e importantes para o desenvolvimento econômico e social do Distrito Federal”, finaliza o texto.

Dificuldades

O rompimento do PDT é mais um acrescentado à lista dos aliados que deixaram a base governista e deve agravar as dificuldades de gestão de Rollemberg. Isso porque os pedetistas têm dois representantes na Câmara Legislativa — votos que fazem falta em votações de matérias prioritárias. “As propostas de maior impacto, como a reforma da Previdência e a criação do Instituto Hospital de Base do DF, já passaram pelo plenário. Mas proposições importantes para o governo chegarão em pouco tempo, como a Luos”, apontou o secretário adjunto de Relações Legislativas, José Flávio de Oliveira.

Mesmo com a aprovação da proposta que uniu os dois fundos previdenciários, liberando cerca de R$ 170 milhões por mês para os cofres do governo, o Palácio do Buriti avisou que não há brecha para retomar negociações salariais. O orçamento do GDF para 2018 não contempla o repasse de reajuste a nenhuma categoria e restringe novas nomeações. A falta de recursos e de disposição do Executivo para negociar com o funcionalismo, entretanto, deve ter um preço alto nas eleições: rivais de Rollemberg exploram o assunto na tentativa de desgastá-lo.

Uma das categorias que mais enfrentam atritos com o governo é a dos policiais civis, que cobram aumento salarial de 37%, em isonomia com o reajuste concedido à Polícia Federal. Durante a campanha de 2014, Rollemberg deu declarações públicas, que foram gravadas, de que respeitaria a paridade salarial com a PF. Mas, diante das dificuldades de caixa, suspendeu as negociações.

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal, Rodrigo Franco, o Gaúcho, tem buscado apoio de outros políticos. Ontem, os policiais estiveram com o deputado federal Laerte Bessa (PR). Na última segunda-feira, foram recebidos pelo presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), potencial candidato ao governo. “Estamos procurando vários políticos para cobrar apoio à retomada das negociações”, diz. “Na última reunião com deputados do Distrito Federal e com o governador, há cerca de um mês, Rollemberg firmou o compromisso de que, após a aprovação da reforma da Previdência, ele nos chamaria para uma nova reunião. O projeto passou pela Câmara há mais de duas semanas, mas ainda não fomos recebidos”, reclama.

O presidente do Sindicato dos Servidores e Empregados da Administração Pública (Sindser), André Luiz da Conceição, diz que a folga financeira do governo, acarretada pela reformulação da Previdência, impõe uma retomada das negociações com o funcionalismo. “Somos contra o projeto do Iprev e temos convicção de que o governo está melhor financeiramente por vários motivos, como aumento de receitas. Mesmo arrecadando mais, o governo não quer honrar seus compromissos”, reclama André.

Consequências

Para o cientista político David Fleischer, os problemas do mandato de Rollemberg começaram com uma bomba-relógio fiscal deixada pela gestão de Agnelo Queiroz (PT) e agravaram-se com falhas da atual gestão, como o troca-troca de secretários e a má articulação política com o Legislativo. “No início, ele teve que tomar medidas impopulares em nome da austeridade fiscal e, assim, feriu a própria imagem. Mas também falhou em vários aspectos. Um deles é, em meio à recessão, manter tantos comissionados. Outro agravante é não saber dialogar tanto com os distritais quanto com a classe trabalhadora”, pontua.

O estudioso destaca, ainda, que a reeleição está condicionada a uma série de readaptações. “Politicamente falando, para que Rollemberg melhorasse a própria imagem, teria de escolher duas ou três áreas e investir, para conquistar novas realizações. Também teria de se aproximar do funcionalismo e da classe de policiais, duas bases políticas fortes, com representações na Câmara Legislativa”, acrescenta.

Lei aprovada

O texto da Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) foi aprovado por unanimidade, na noite de ontem, pelo Conselho de Planejamento Urbano e Territorial do Distrito Federal. Depois de uma tarde de deliberações, o projeto de lei recebeu o aval dos 30 conselheiros presentes. O governador Rodrigo Rollemberg presidiu a reunião, realizada no Palácio do Buriti. Com a aprovação no Conplan, o projeto de lei da Luos poderá ser enviado à Câmara Legislativa.

Ex-aliados

Rodrigo Rollemberg (PSB) terá de construir novas coalizões para alcançar a reeleição, isso porque, ao longo dos quase três anos de gestão, o chefe do Palácio do Buriti perdeu os mais fortes aliados, que o acusam de descumprir promessas de campanha. Confira quais foram:

Cristovam Buarque e Celina Leão

Eleitos pelo PDT, Celina Leão e Cristovam Buarque desembarcaram da legenda para se filiar ao PPS em fevereiro de 2015. À época, a distrital adotou um posicionamento de oposição contra Rodrigo Rollemberg. O senador, por sua vez, levou mais tempo e anunciou o rompimento apenas em fevereiro de 2016. De acordo com os dois, o comandante do Palácio do Buriti erra ao ouvir pouco.

Rogério Rosso e Renato Santana

Integrante da coligação que emplacou Rollemberg como chefe do Palácio do Buriti e partido do vice-governador Renato Santana, o PSD não assume, publicamente, o rompimento. Mas a insatisfação é demonstrada em pequenos gestos. A legenda, inclusive, anunciou que não estará com o chefe do Executivo local nas próximas eleições. “As bandeiras do PSD não estão sendo observadas pelo Governo de Brasília e isso será imperioso na decisão que o partido tomará em breve”, disse ao Correio o presidente regional da sigla, Rogério Rosso.

Reguffe

Cotado como candidato para o Palácio do Buriti em 2014, o senador Reguffe (sem partido) decidiu apoiar Rodrigo Rollemberg à época. Entretanto, com o passar dos anos, a relação dos dois se deteriorou. O senador adotou uma posição independente aos desejos do ex-partido, o PDT, e deixou a legenda, integrante da coligação que elegeu o chefe do Executivo local. Além disso, segundo Reguffe, o governador não cumpriu compromissos de campanha, como reduzir impostos, isentar de tributos uma cesta de medicamentos essenciais e reduzir em 60% os cargos comissionados.