19 de abril de 2024
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Eleições

Tabuleiro agora beneficia Rose e complica Bernal

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André Puccinelli, sem surpreender, confirmou a decisão já anunciada e reiterada de que não disputará a eleição. Vai permanecer, de fato, atuando nos bastidores políticos, mas dando a prioridade à família, com atenção especial aos netos. O “vovorista” - ou motorista de neto – sai de cena, porém continua sendo decisivo na formação do tabuleiro sucessório em Campo Grande. Nele, duas pré-candidaturas se vitaminam, as do deputado estadual Marquinhos Trad (PSD) e da vice-governadora Rose Modesto (PSDB). O prefeito Alcides Bernal (PP) ganhou razões de sobra para temer por sua reeleição, se for este seu objetivo.

 

Sem Puccinelli no páreo, o PMDB perde mais que um fortíssimo candidato a prefeito. Perde também sua maior motivação para fazer as disputas pela Prefeitura e Câmara Municipal. Bom de palanque e de rua, certamente o ex-prefeito e ex-governador não terá a empolgação de antes para viver intensamente o dia-a-dia de uma campanha na qual seu partido não entra com a mesma competitividade de outras eleições.

 

Em princípio, aos peemedebistas só restariam três saídas. Uma, e não necessariamente a primeira, lançar chapa própria. A lista de nomes sem Puccinelli parece que deixou como opção única o deputado estadual Márcio Fernandes, que já havia sido indicado informalmente. A vereadora Carla Stephanini, os senadores Waldemir Moka e Simone Tebet, mais o deputado federal Carlos Marun já são cartas fora desse baralho. Caberá à direção e aos estrategistas do partido avaliar o que é melhor ou menos pior, entrar numa disputa para perder novamente – a exemplo de 2012 – ou integrar uma aliança com perspectiva de vitória.

 

Outro caminho do PMDB é exatamente o de uma coligação, na qual, já sabe de antemão, fará o papel de figurante, seja com o PSDB ou o PSD. O PP de Alcides Bernal está fora de qualquer cogitação. Nesse caso, o desafio maior será encaixar o partido e Puccinelli na mesma solução. Com tucanos ou pessedistas não há unanimidade entre os peemedebistas. Há fiéis de Puccinelli que não engolem Marquinhos Trad, mas aceitam acordo com o PSDB de Reinaldo Azambuja. Como se sabe, Marquinhos e Azambuja puseram o PMDB e Puccinelli como seu alvo principal dos ataques políticos que permearam a disputa pelo governo estadual em 2014.

 

COMPOSIÇÕES - Política, contudo, não se faz com a barriga e é como a nuvem, já ensinavam Tancredo Neves e   Ulysses Guimarães. E o PMDB – em outra lógica entronizada na política guaicuru pelo decano Londres Machado – pode cair e fingir-se de morto ao saber que o tombo será inevitável. Em miúdos: Puccinelli e seus liderados podem digerir, sim, um entendimento que pode significar a sobrevida da legenda e de seus projetos, entre os quais a imediata necessidade de eleger um bom número de vereadores. Com o PSDB, essa expectativa de ganho se ampliaria inclusive na direção de disputas em outros municípios nos quais os tucanos de Azambuja precisam do apoio do PSDB para respirar melhor em outubro.

 

É o caso de Três Lagoas, onde a candidatura do deputado tucano Ângelo Guerreiro correria menos riscos se tivesse no PMDB um de seus pilares de sustentação. Já em Dourados, a dificuldade que pode afetar o projeto confiado por Azambuja a Geraldo Resende seria reduzida se, por força ou consequência de um acordo em Campo Grande, os peemedebistas douradenses trocassem a aventura de um voo-solo com o deputado Renato Câmara por uma composição politicamente lucrativa com o partido do governador.

 

O que pode obstruir a rota de um acordo com o PSDB é o peemedebismo avivar-se na revolta contra os propósitos atribuídos ao governador tucano de liquidar o PMDB e o andrezismo. Tal varredura, anunciada no calor das disputas de 2012 (eleição municipal) e 2014 (sucessão estadual), foi acusada nos últimos 15 meses com o festival de filiações que engordaram o PSDB e fizeram o PMDB emagrecer em várias regiões. Nesse caso, por amor próprio e orgulho ferido, os peemedebistas e o próprio Puccinelli teriam campo e liberdade para prestar apoio a Marquinhos Trad, mesmo com um histórico recente que o alinha ao seu irmão, o ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB), e ao governador Azambuja, entre os principais ex-aliados que se tornaram desafetos declarados do italiano.

 

O quadro que se desenha é sinalizador de situações que encurralam o prefeito Alcides Bernal num isolamento indesejável para quem pretende permanecer mais quatro anos no poder com o voto popular. Ele perdeu cerca de 90% das forças partidárias que o carregaram na vitoriosa campanha de 2012. Se ficar sem o PDT, a perda será total. 

 

Os trabalhistas lançaram a pré-candidatura do deputado federal Dagoberto Nogueira, mas ainda procuram ter certeza se haverá estrutura suficiente para dar mobilidade e fôlego à campanha. Caso contrário, abrem mão da chapa majoritária, apostam tudo na eleição de vereadores e ficam abertos a alianças com outros partidos, entre os quais o PP de Bernal, o PSDB de Rose e até o PSD de Marquinhos.