O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou ontem, 3 de dezembro em evento no Palácio do Planalto, em Brasília, que descobriu recentemente que existem pessoas que moram em lixões. O discurso foi feito em solenidade organizada pelo Governo em comemoração ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, que teve a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). "Há três semanas nós visitamos alguns lixões. E o que a gente viu é algo que eu nunca tinha pensado que existisse. Pessoas morando nos lixões, e vivendo no chorume", declarou ele. A fala confronta diretamente uma afirmação da autoridade do executivo, Jair Bolsonaro, presente na reunião.
O presidente afirmou em 19 de julho de 2019, que não há fome no Brasil. Durante café da manhã com correspondentes de jornais estrangeiros, o chefe do Planalto disse que "não se vê gente, mesmo pobre, pelas ruas, com físico esquelético" e criticou o que chamou de "discurso populista".
NÚMEROS DA FOME
À época da declaração de Bolsonaro haviam milhares de pessoas passando fome, porém nesse ano de 2020, em meio a pandemia o Brasil retrocedeu no combate a fome e voltou a visitar o chamado Mapa da Fome, é o que afirmou o economista Daniel Balaban, chefe do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), a maior agência humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU).
Estimasse que cerca de 5,4 milhões de pessoas passem para a extrema pobreza em razão da pandemia. O total chegaria a quase 14,7 milhões até o fim de 2020, ou 7% da população, segundo estudos do Banco Mundial.
A insegurança alimentar grave atingiu o lar de 10,3 milhões de brasileiros entre 2017 e 2018, como retratou a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 17 de setembro desse ano.Significa que quase 5% da população brasileira convive novamente com a fome.
“O Brasil já está dentro do Mapa da Fome. Vamos ter que fazer todo um esforço de reconstrução. Esperamos que um dia se reponha a participação social no país, de forma que possamos, novamente, sair do Mapa da Fome, e oferecer condições de alimentação com comida de verdade para nossa população”, afirmou Francisco Menezes, ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em entrevista ao Brasil de Fato.
Apesar do peso inegável da covid-19, na avaliação de Menezes, o vírus não pode ser apontado como o único responsável pelo cenário desastroso. Segundo Menezes, desde 2016 as ações de combate a fome e a extrema pobreza diminuíram muito.
Ainda no ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) havia alertado que o Brasil poderia voltar a ser incluído no Mapa da Fome, ou seja, na relação de países que têm mais de 5% da população ingerindo menos calorias que o recomendável. Desde 2014, o país havia deixado essa lista.