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PT e PSDB ensaiam casamento em camas separadas

Ensina uma das regras mais elementares da convivência humana, inclusive para os relacionamentos políticos, que sem compartilhar da mesma cama um casal não dura muito tempo junto.  Ou, a rigor, sem essa condição sequer chegam a fo
O senador Delcídio Amaral (PT) e o deputado federal Reinaldo Azambuja (PSDB) têm a justa ambição de se unir para a conquista de objetivos eleitorais comuns este ano. Ainda que tal união seja possível apenas num contexto extra-legal, mas de custo-benefício interessante para seus principais protagonistas, o arranjo político capaz de torná-la possível tende a mostrar seu flanco de fragilidade no desenrolar da campanha. E se isso ocorrer, será como um casamento em que os nubentes, PT e PSDB, dormirão em camas separadas, embora no mesmo aposento.
Ensina uma das regras mais elementares da convivência humana, inclusive para os relacionamentos políticos, que sem compartilhar da mesma cama um casal não dura muito tempo junto.  Ou, a rigor, sem essa condição sequer chegam a formar um casal, pouco importando o desejo de serem parceiros.
Delcídio e Azambuja vão de encontro a essa lógica, desafiando-a por um viés simplista de ganho político: derrotar um inimigo comum, o PMDB do governador André Puccinelli. Para isso, vale até o matrimônio antes inimaginável entre dois partidos que nacional e regionalmente sempre - até agora, ao menos - foram como água e óleo , por questões de ideologia, ocupação de espaços e hegemonia.
O primeiro passo deste insólito casamento foi o noivado extra-oficial nas eleições campograndenses. No segundo turno, tucanos e petistas somaram-se na primeira hora à corrente de apoios que ajudou o candidato do PP, Alcides Bernal, a derrotar o então peemedebista Edson Giroto, esperança de Puccinelli e do prefeito à época, Nelson Trad Filho, de conservar a hegemonia do partido no poder municipal. Desenhava-se, naquela conjuntura, a solução que hoje ganha formas viusíveis nas andanças lado a lado interior afora e nas declarações reciprocamente amistosas de Delcídio e Azambuja.
TROCA DE APOIOS - Derrotar o PMDB é tão determinante para os petistas que até o ex-governador Zeca do PT admite a "coligação branca" na troca de apoios entre os candidatos Delcídio (ao Governo) e Azambuja (ao Senado). No entanto, esse entendimento faz aflorar alguns intrigantes questionamentos políticos de forma e conteúdo. Pergunta-se, por exemplo, se Azambuja vai pedir votos para Delcídio e vice-versa? Como se sabe, os dois partidos não podem fazer uma coligação formal.
Numa campanha que terá como principal disputa a sucessão presidencial, PT e PSDB, partidos nacionais, se digladiarão num embate sem quartel e de golpes baixos. Em busca da reeleição e por ser favorita, a presidenta Dilma Roussef é o alvo-mor dos ataques tucanos. Especula-se que em ambiente local, pelo minguado peso eleitoral do Estado na campanha nacional, petistas e tucanos poderão fazer o que quiser, inclusive trocar apoios e até evitar o tiroteio a ser travado pela alta cúpula.
Contudo, o ambiente estadual tem outro ingrediente que pode azedar o cardápio da festa desse inusitado enlace político-ideológico: os interesses eleitorais. Cada partido tem a necessidade de defender a eleição de seus quadros na briga pelas 24 cadeiras da Assembléia Legislativa e oito da Câmara dos Deputados. Para esse objetivo uma das receitas imprescindíveis é montar as melhores coligações. E vem então outra pergunta: quais os partidos que se coligarão com o PSDB, sem que um e outro se veja ameaçado de perder espaços na representação proporcional?
Sem que estejam brigados e distantes de um rompimento, no amor e na paz o PT e o PSDB, pelas mãos de Delcídio e Azambuja, cogitam dificultar de vez o projeto do PMDB de conservar a hegemonia estadual. Mas nem mesmo no amor e na paz conseguirão deixar de deitar-se em camas separadas. No mesmo quarto.
AZAMBUJA NA CABEÇA - Enquanto isso, as bases dos dois partidos treinam o que fazer quando chegar a hora de definir a tática e a estratégia política do ano eleitoral. No PSDB, não por acaso, evolui a tese da chapa própria, sob dois argumentos motivacionais: a) a melhor alternativa para não ficar refém de nenhum dos dois partidos (PT e PMDB); b) Reinaldo Azambuja, com o reforço de prestígio que adquiriu na sucessão campograndense, pode ser a terceira via e ganhar maior competitividade. Para quem pensa assim, o raciocínio baseia-se num simples pressuposto: o PSDB tem um campo maior e mais amplo de legendas e forças para construir suas alianças.
O PMDB quer este cenário, pulverizado, para limitar o avanço de Delcídio. Livrar-se de Azambuja é também um anelo peemedebista, que sonha em ver o tucano sem mandato. Não o perdoa por ter dado o grito de independência e saltado fora da carona que ocupou durante duas décadas. Mas em qualquer cenário - provam as simulaçlões de pesquisas já divulgadas e registradas na Justiça Eleitoral -, vale ressalvar, o favorito consolidado é Delcídio Amaral. Tirá-lo dessa condição é po enigma que PMDB e PSDB precisam decifrar. Sem combinar com o eleitor, nada feito. E o eleitor não vai entender porque um casal que se ama dorme em camas separadas.
Edson Moraes, especial para MS Notícias