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PANDEMIA | BRASIL

"Catástrofe Humanitária" no país é reflexo de falta de "vontade política", diz MSF

Médicos Sem Fronteiras apontam que ausência de resposta efetiva, por parte do poder público, custou a vida de milhares de brasileiros

Médicos Sem Fronteiras publicou apelo às autoridades brasileiras para que reconheçam a gravidade da crise - (MSF/Facebook)

Com base no boletim do Observatório Covid-19, da Fiocruz, a Organização Médicos Sem Fronteiras classificou a atual situaçao brasileira como uma "catástrofe humanitária". A falta de uma resposta efetiva por parte do poder público, de vontade política de reagir são pontos apontados pela MSF como a causa da morte de milhares de brasileiros.

Em um apelo, publico nesta 5ª feira (15.abr.2021), a Médico Sem Fronteiras pede às autoridades brasileiras para que reconheçam a gravidade da crise e coloquem em marcha uma resposta centralizada e coordenada para impedir que continuem ocorrendo mortes que podem ser evitadas.

Como bem ressaltou o presidente internacional de MSF, Dr. Christos Christou, simples medidas de saúde pública se transformaram em tema de disputa política no Brasil. Para ele a "consequência disso é que ações de política pública com fundamento científico são vinculadas a posicionamentos políticos, em vez de estarem associadas à necessidade de proteger indivíduos e suas comunidades da COVID-19", disse no comunicado.

Dados da semana passada mostram que mais de vinte e cinco (26,2) porcento das mortes de todo o mundo aconteceram no Brasil. Ainda no dia 8 desse mês, em 24h morreram 4.249 pessoas. Para a MSF, esses números apontam a falta de habilidade das autoridades em lidar com a crise humanitária - e de saúde - que atinge o país e seu fracasso em proteger os brasileiros, especialmente os mais vulneráveis, do vírus.

Mas em seguida, a diretora-geral da organização, Meinie Nicolai, lembra que "a resposta à COVID-19 no Brasil tem de começar na comunidade, não na UTI”. Para ela, a logística para transportar suprimentos médicos e fazer com que eles cheguem onde precisam, como oxigênios e sedativos, é tão importante quanto as atitudes que cada um pode tomar no dia-a-dia.

"A uso de máscaras, o distanciamento físico, medidas de higiene e restrições a atividades não essenciais e à movimentação devem ser promovidas e implementadas no nível da comunidade, de acordo com a situação epidemiológica de cada região", destacou

Segundo o Boletim da Fiocruz, números da semana passada indicam que 19 das 27 capitais brasileiras estavam com sua taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva (UTI's) acima de 90%, incluindo Campo Grande (MS).


 

BRASIL SEGUNDO MSF

Na pandemia vivida no Brasil, os casos de escassez não ficam restritos ao oxigênio. Em muitos hospitais faltam inclusive sedativos - que são essenciais para pacientes em estado crítico que precisam ser intubados - e, com isso, muitos médicos vêem  pacientes que teriam tido chance de sobrevivência ficarem sem acesso a cuidados adequados de saúde, segundo nota do MSF.

“A devastação que as equipes de MSF testemunharam pela primeira vez no Amazonas se tornou a realidade na maioria do território brasileiro. A falta de planejamento e coordenação entre as autoridades federais de saúde e suas contrapartes nos estados e municípios está tendo consequências de vida ou morte”, disse o coordenador de emergência da organização no Brasil, Pierre Van Heddegem.

Aliada às precárias situações das unidades do sistema de saúde, ao negacionismo e falta de adoção de medidas de proteção pessoal por parte da população, diante da pandemia, ainda entra na conta a limitação de que médicos estrangeiros (e brasileiros formados no exterior) não podem trabalhar com atendimento a pacientes no Brasil.

A nota ressalta a rejeição e politização do uso de máscaras, distanciamento físico e restrição de movimentos e de atividades não essenciais, causada pelo volume de desinformação que circula pela sociedade atualmente. Esses itens são apontados como "alimentadores" do ciclo de doença e mortes pela Organização Médicos Sem Fronteiras.

"Além disso, medicamentos como a hidroxicloroquina (usada geralmente contra malária) e ivermectina (um vermífugo) são apregoados [divulgados] por políticos como panaceia (aquilo que se emprega para remediar dificuldades) e receitados por alguns médicos tanto como profilaxia quanto como tratamento para a COVID-19", salienta o texto.

“As autoridades brasileiras têm acompanhado o avanço sem freios da COVID-19 durante todo o último ano. A recusa em colocar em prática medidas de saúde pública baseadas em evidências científicas resultou na morte prematura de muitas pessoas. A resposta à pandemia precisa urgentemente de um recomeço, baseado em conhecimentos científicos e bem coordenado, para evitar mais mortes desnecessárias e a destruição de um sistema de saúde conceituado e prestigiado", finaliza o Dr Christou no comunicado.