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'EXECUÇÃO À QUEIMA ROUPA'

CENAS FORTES: PMs executam jovens negros com 30 tiros

Crime aconteceu há menos de uma semana, oficiais envolvidos foram ouvidos no domingo (13.jun.2021) e presos preventivamente

(Reprodução)

Em São Paulo, há menos de uma semana, no bairro de Santo Amaro, Policiais Militares executaram dois jovens negros em um carro após uma perseguição. Felipe Barbosa da Silva, 23 anos, e Vinicius Alves Procópio, de 19, bateram o carro que dirigiam em outro veículo e em seguida num poste, por volta das 19h da última 4ª feira (09.jun.2021), segundo informações do portal Ponte.

Mesmo com os rapazes acidentados, em um vídeo que flagra o momento da execução, compartilhado pela Ponte, no período de 7 segundos é possível ouvir cerca de 12 tiros. A Justiça Militar pediu ainda no domingo (13.jun.2021) a prisão preventiva dos policiais envolvidos, o sargento André Chaves da Silva e do soldado Danilton Silveira da Silva, da Força Tática do 1º Batalhão da PM Metropolitano. 

O inquérito policial, que foi analisado pelo capitão Rafael Oliveira Casella concluiu que "não houve qualquer disparo de arma de fogo por parte dos criminosos, demonstrando muito excesso na ação policial em questão”. O caso foi registrado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. 

Familiares dos rapazes prestaram depoimento ao ouvidor das polícias na tarde de ontem (14.jun.2021), acompanhados do advogado especialista em direitos humanos Ariel de Castro Alves, que é membro do Grupo Tortura Nunca Mais. 

Esse vídeo divulgado foi essencial para o Tribunal de Justiça Militar acatar o pedido de prisão preventiva aos envolvidos na execução. Os familiares do rapaz mais novo, em depoimento, relatam que viram o momento da execução através da página no Instagram da própria Força Tática, em que ele foi exibido “como se fosse um mérito da polícia”, segundo contam. Eles revelaram ainda que o material foi apagado em seguida. 

Ariel de Castro, advogado que acompanha o caso, ainda ressalta o comportamento dos oficiais, onde “aparentemente os PMs não estão agindo como em uma situação de confronto, pois em nenhum momento eles se protegem de disparos”.

Ambos os envolvidos prestaram depoimento e relataram que Felipe desceu portando uma arma na cintura e apresentava risco "iminente" de agressão, enquanto Vinícius, que ficou no banco traseiro do veículo, teria tentado atirar contra os policiais, mas a arma falhou. 

Em relato, a esposa de Felipe contou que o esposo trabalhava como motoboy, enquanto Vinicius trabalhava com o pai com transporte escolar, mas estava parado devido à pandemia. 

Entretanto, antes mesmo de ouvir os familiares - que tinham ido até à delegacia para levar os documentos dos dois -, o caso foi registrado como  roubo, lesão corporal em acidente de trânsito e morte decorrente de intervenção policial. 

Os Policiais Militares disseram que os jovens estavam em um carro roubado e fugiram da abordagem policial. Apontaram também que o carro em que os rapazes estavam havia sido roubado um dia antes. Em contradição, eles revelaram que, durante perseguição no dia da execução, o veículo em que estavam chegou a parar, quando duas moças desceram do carro, que teria seguido em fuga na sequência.

Sobre as últimas palavras, a esposa de Felipe contou em depoimento que o marido ligou para ela, por volta de 19h20, quando foi possível ouvir “moiô, moiô, eles vão matar a gente”. Segundo ela, o marido contou onde estava e se despediu, dizendo que amava a esposa e a filha. Ele ainda teve tempo de pedir para que avisasse a família do amigo sobre o que estava ocorrendo.

“As informações são de que o Felipe foi atingido por 27 disparos e o Vinícius por 23 disparos. Esses dados por si só já configuram um fuzilamento. E os jovens, conforme os próprios PMs, não efetuaram nenhum disparo. Os PMs dizem que um teria descido do veículo com arma na cintura e o outro teria tentado fazer um disparo e a arma falhou. Os jovens foram fuzilados”, disse o advogado Ariel de Castro Alves, que os acompanhava.