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ARTE | CULTURA

Filho de delegado, André Tristão vira ator e professor de teatro respeitado em MS

Artista fala sobre oficinas em que desenvolve técnica respeitada em todo Brasil e conta sobre a carreira no estado

Esse é André Tristão. Foto: Tero Queiroz.

André Tristão Artero, conhecido apenas como André Tristão, de 33 anos, nascido em Coxim e criado em Aquidauana, é ator e professor de teatro em Campo Grande (MS), um dos poucos artistas sul-mato-grossenses a estudar e pesquisar a Técnica Klauss Vianna, que se usa da dança e educação somática enfocada no estudo do movimento a partir da escuta do corpo para criar a cena. 

— Comecei a fazer uma especialização na PUC de técnica Klauss Vianna, só que por questões da vida acabei não completando, mas fiz uma extensão e tenho o respaldo das pessoas da técnica de que fiz e estudo, podendo desenvolver sobre — explicou. 

Destacado professor de arte, agora André brilha nas telas de cinema e em 2022 deve impressionar o público de todo o país com a estreia de um projeto nas telas – em entrevista ao MS Notícias, porém, o artista fez segredo.

— Vamos esperar, preciso dizer que estou feliz, ansioso, agradecido, mas por hora vou querer ver primeiro, antes de celebrar — justificou o artista. 

Falamos com André na tarde de 23 de novembro de 2021, em sua casa no bairro Nova Campo Grande, na Capital sul-mato-grossense. Ele nos recebeu em um quarto arejado no fundo do imóvel, local onde nos ofereceu assento em um sofá e ele se sentou sobre uma cama, onde ao mesmo tempo que respondia as perguntas, fazia a pintura das unhas, sendo iluminado pela claridade da tarde que invadia o local por uma grande janela de vidros. 

Filho da enfermeira Ana Maria, de 62 anos, e de um delegado de Polícia Civil, André enfrentou diversas barreiras em um estado onde ser artista e se profissionalizar é uma batalha travada no ambiente familiar e consigo mesmo. Ele revela como escolheu a faculdade de teatro.

— Eu prestei para Artes Visuais na UFMS, mas não passei no vestibular. Eu tinha 19 anos quando fui passar férias em São Paulo, minha mãe tinha ido visitar o namorado e ela encontrou comigo lá em São Paulo, meio que trabalhando no São Paulo Fashion Week, indicado pela mãe de uma amiga minha. Aí minha mãe me viu feliz em São Paulo, trabalhando com arte e ela mesmo falou: filho, você tem que vir para cá — lembrou.

Na época André já mantinha um grupo em Campo Grande e fazia um trabalho de pesquisa corporal com um diretor chamado Leandro Melo. Apesar disso, ir fazer teatro em São Paulo não o impediria de voltar à Capital sul-mato-grossense depois da formação. — Aí eu fui. Minha mãe me ajudou, fiquei 5 anos lá. Eu queria ficar mais lá em São Paulo, mas não tinha dinheiro para me manter lá. Eu vim para cá e já cheguei dando aula na Rede Municipal, porque eu era professor e ator de teatro. E não tinha muito sentido eu ficar lá, tudo que eu tinha estava aqui. Cheguei aqui trabalhando também no Teatral Grupo de Risco — detalhou. 

Antes de falar sobre André, precisamos falar sobre seu pai e sua mãe.  — Ele e minha mãe, todos da minha família são do interior de São Paulo (Pirajuí, Cafelândia, Lins...), eles vieram para cá porque meu pai passou no concurso, no comecinho da divisão do estado e logo depois veio minha mãe, que também passou em um concurso de enfermeira. O meu pai, para você ter uma ideia, é da primeira turma de delegados do estado, aqui ainda era meio terra sem lei quando ele veio, trabalhou muito e meu pai aposentou em 97, com 40 e poucos anos — disse.

O pai de André vive atualmente em Aquidauana, onde mantém uma pousada. Ao ser questionado como é a relação com o pai atualmente, André disse que com o passar dos anos ele foi entendendo e agora estão bem, mas no início a rejeição pelo filho ter escolhido viver de arte era muito grande.  

— Ele era muito contrário a isso. Os aquidauanenses tem como referência de ator o Rubens Corrêa. O pessoal vivia dizendo, que o Rubens foi para São Paulo e virou ‘viado’... esse era o medo do meu pai, mal sabia meu pai que quando falavam isso eu já era ‘viado’ — comentou. Rubens Alves Corrêa foi um ator aquidauanense de grande destaque no teatro, cinema e TV. Rubens estrelou na TV numa participação original da versão da novela Pantanal da TV Manchete em 1990, onde deu vida ao personagem ‘Deputado Ibrahim Chaguri’. Rubens, na verdade, saiu de Aquidauana e estabeleceu carreira no Rio de Janeiro, onde morreu aos 64 anos em 22 de janeiro de 1996.

O pai de André, passados 14 anos do filho vivendo exclusivamente de arte, hoje compreende e respeita a decisão.

— Eu vou lá, fico com ele lá. Temos o entendimento e ele passou a respeitar, já que comecei a conseguir meu dinheiro e viver exclusivamente de arte — ressaltou.

SEPARAÇÃO

Os pais de André separaram-se quando ele tinha 14 anos. André, a mãe e os outros dois irmãos foram morar em Campo Grande. E seria o próprio irmão mais velho quem levaria André a encontrar seu futuro. 

— Eu sempre quis trabalhar com arte, aí eu quis ser jornalista, queria ser repórter, sou criado pela Hebe e pelo Gugu, na tentativa de fazer alguma coisa eu brincava. E como eu era muito hiperativo, quando meus pais se separaram e a gente veio morar aqui [Campo Grande], meu irmão viu um curso de teatro e indicou para eu fazer, na intenção claro, de me tirar de casa. A gente tinha a relação comum de irmão, com 8 anos de diferença de idade, ele já estava na faculdade, eu no colégio e ele não me aguentava... aí eu sabendo disso fui para fazer uma oficina no Aracy Balabanian, com o Arce e com o Isac Zampiere. Aí eu fiquei um tempo lá, aí eu vi o Vitor Hugo Samudio e Patrícia, tinham um projeto de leitura dramática, eles estavam precisando de gente, aí falaram com o Isac e ele me indicou. Foi quando eu estreei no teatro, fiz duas leituras com eles — lembrou. 

Um ano mais tarde, de acordo com André, Fernanda Guedes, é a profissional que na sequência apresentou o teatro, verdadeiramente. — Eu sou cria do José Octávio o Guizzo, foi lá que eu fiz verdadeiramente teatro. Encontrei o teatro de verdade nas mãos da Fernanda Guedes, ela me passou “as moral” do ofício, sabe? Mas não precisa falar isso na reportagem, se não ela enche a bola demais (risos)... E daí em diante eu só trabalhei com arte, nunca mais fiz nada fora da arte — disse.

Antes, porém, aos 16 anos André parou de fazer teatro devido a escola, naquele momento ele entendeu que a sua vida não existiria mais sem o fazer artístico.

— Em um ano sem fazer teatro eu fiquei louco. Eu falava: agora fudeu, acabou minha vida! Na sequência, estava rolando uma oficina de dança teatro com a Sônia Rolon... quem fazia parte era a Luciana Kreutzer, a Dani, irmã do Juninho. Aí eu entrei para tocar um atabaque, porque eles estavam sem som e eu entrei para tocar; porque eu sempre gostei de percussão, minha família é do samba, faz roda de samba, sabe? Aí a Sônia estava precisando de uma pessoa para cobrir no espetáculo. Ela falou: que se eu pegasse a coreografia em 15 dias eu estava no espetáculo. Aí eu peguei a coreografia e apresentei — contou.

IDA PARA A FACULDADE

"Essas fotos foram feitas para o Book de um amigo meu que é ator: André Tristão", diz a autora desse registro Meliane Koike em seu blog em 2010.  

Para ir a São Paulo aos 19 anos, André precisou de ajuda financeira. Essa ajuda viria de seus pais.

— Eu fiz licenciatura e bacharelado, me formei como ator e professor com auxílio finaceiro dos meus pais. Ao todo, passei 7 anos na faculdade, sendo que dois anos desses eu ia só final de semana. Na época da Dilma Rousseff a passagem era barata e eu ia aos finais de semana de ônibus — esclareceu. 

A faculdade na qual André cursou teatro era, na época, um dos melhores cursos de teatro do país.

— Não era um curso caro. Quem pagou, no final, foi meu pai, por negociação de separação — completou.

CINEMA

Quando voltou de São Paulo, André encontrou-se com uma nova paixão. Ele diz que assim que chegou em MS, já foi convidado a fazer o filme “Não Eu”, do diretor Breno Benetti.

— Foi muito legal, muito legal. Não passou muito tempo, ele fez a séria Simão Morto, que também fiz um personagem legal lá — destacou. 

Ele também atuou no filme Madalena, de Madiano Machetti. 

Dirigiu e atuou no vídeoarte "Eu Preciso Que Vocês Me Escutem...", realizado ao ser selecionado em 1º lugar no Edital Edson Profeta - Lei Audir Blanc - FCMS.  

Dirigiu e atuou na série de vídeoarte "O Que Digo Com Suas Palavras". Trata-se de 3 videoarte realizados após serem contemplados pela Lei Audir Blanc por meio da FCMS.  

PROFESSOR EM CURSOS DE TEATRO

André Tristão, é bacharel e licenciado em Teatro pela Universidade Anhembi Morumbi de São Paulo/SP, com extensão em Técnica Klauss Vianna pela PUC-SP. Foto: Tero Queiroz

De acordo com André, ao retornar ao Mato Grosso do Sul, ele levou um certo tempo para iniciar seus cursos.

— Eu comecei mesmo após um tempo, precisei passar vários apertos, entender que meu lance era com adulto... Eu dava aula para crianças na Rede Municipal, mas nas escolas o professor de teatro não consegue executar, porque professor de arte vira decorador e coreógrafo... eles [da Rede Municipal de Educação] faziam uma pressão muito louca. A minha formação toda é de processo, não é de produto. Então, eles exigiam produto, produto, produto e eles me colocavam como incapaz. Então, o olhar que eles tinham para mim, era de que eu não prestava para ser professor. Eles diziam que meu trabalho era lindo demais para estar dentro de um colégio, porque se pensa demais, precisamos do produto — recordou.

Diante disso, André se afastou do ofício de educador, até que no futuro foi convidado para dar aula no UFMS.

— Aí uma professora me chamou para eu dar aula para adulto na UFMS, aí lá funcionou demais. Eu coordenei o núcleo experimental de teatro lá em 2017, 2018 e 2019... Montanos espetáculos, apresentamos na UFMS, apresentamos no Centro Cultural, aí eu consegui vender para o Sesc, logo na sequência veio a pandemia — contou.

SAÍDA DO TGR

André em cena, ao fundo, no espetáculo de rua “A Princesa Engasgada”, a frente está o ator Yago Garcia. Foto: Divulgação | Helton Perez

Ao longo de todos os anos que esteve em Mato Grosso do Sul após sua formação, André esteve integrando o Teatral Grupo de Risco (TGR). Durante a pandemia, André tomou a decisão de finalmente se separar do grupo.

— Fui construindo essa minha saída, fiquei por 8 anos lá. Desde que vim para cá, desde 2013. Todos os meus grandes trabalhos no teatro fiz com eles. Eu saí e meu coração ficou lá — disse.

O que levou André a deixar o Grupo é justamente a sua pesquisa e sua vontade de desenvolvê-la.

— Estava aflito lá, fazia um tempo, por incompatibilidade criativa. Eu tenho um modo de trabalhar e uma referência estética extremamente diferente do restante do grupo. Isso era bom na hora da construção coletiva, mas as diferenças foram ficando maiores. E em determinado momento eu entendi que não haveria um acordo para encaixar minhas vontades lá, então eu decidi por deixar — afirmou.

No TGR, André trabalhou nos espetáculos: “Guardiões” – escrito por Lú Bigatão e dirigido por Roma Román. Fez a “A Princesa Engasgada” – escrito por Márcia Frederico e dirigido por Lú Bigatão. Esteve como ator no “Mito do Mato”- escrito por Virginia Fonseca e dirigido de maneira coletiva pelo Teatral Grupo de Risco. E fez a “Revolução” – escrito por Augusto Boal, com adaptação e direção coletiva do Teatral Grupo de Risco.

TÉCNICA KLAUSS VIANNA

Da esquerda para direita: Klauss, a esposa Angel e o filho, Rainer. Foto: Arquivo pessoal

Klauss Vianna foi um bailarino e coreógrafo na década de 1950. Ele propôs estudos em Belo Horizonte, Minas Gerais, de práticas que mais tarde sua esposa e filho continuariam e viria a se tornar a chamada Técnica Klauss Vianna (TKV). 

O baliraino estimulou estudos das direções ósseas do balé clássico, misturadas as linhas sugeridas nas obras de diversos artistas plásticos. Buscou estudos anatômicos e cinesiológicos, experimentando uma nova forma de ensinar a dança.

Natural de BH, onde fundou o Balé Klauss Vianna (hoje dá nome a um teatro), Klauss espalhou sua pesquisa na Bahia, na Escola de Dança da Universidade Federal – UFBA. Em 1964 morou no Rio de Janeiro, onde trabalhou na Escola Municipal de Bailados, ao mesmo tempo em que desenvolveu um intenso trabalho corporal com atores, dando forma a função de preparador corporal no Brasil.

No Rio de Janeiro, Vianna dirigiu a Escola Oficial de Teatro Martins Pena e o Instituto Estadual das Escolas de Artes. Em 1981 fixou-se em São Paulo, onde foi diretor da Escola Municipal de Bailados e do Balé da Cidade de São Paulo. No dia 12 de abril de 1992 Klauss Vianna faleceu aos 64 anos em São Paulo.

A esposa de Klauss, Angel Vianna, vive atualmente no Rio de Janeiro. Ela tem 93 anos e desenvolve ainda um intenso trabalho como diretora da Escola e Faculdade Angel Vianna – FAV, destinada à formação profissional em dança.

Em 1992, o filho do casal, o bailarino Rainer Vianna (1958-1995) fundou, em São Paulo, a Escola Klauss Vianna, que oferecia o curso de formação profissional na Técnica Klauss Vianna. Ao lado da esposa Neide Neves, Rainer fez a estruturação didática dos princípios trabalhados em sala de aula resultando no que nomeou de Técnica Klauss Vianna (TKV). O bailarino morreu precocemente, afogado aos 37 anos de 26 de agosto de 1995 numa na Praia de São Conrado, Rio. 

A pesquisa de Rainer pode ser continuada pela professora, pesquisadora Jussara Miller, que trabalhou ao lado de Rainer Vianna, participando do processo didático da Técnica Klauss Vianna, na Escola Klauss Vianna. A escola fechou no mesmo ano da morte do bailarino.  

Apesar disso, com a prática e os ensinamentos vivenciados na Escola Klauss Vianna como professora do curso de formação profissional, Jussara Miller expandiu a sua pesquisa didática e criativa para um estudo acadêmico de Mestrado em Artes na UNICAMP com o registro inédito da sistematização da Técnica Klauss Vianna, o que resultou no livro: “A Escuta do Corpo: sistematização da Técnica Klauss Vianna”. Em 2010, concluiu o Doutorado na UNICAMP com a reflexão sobre os desdobramentos da pesquisa dos Vianna, nomeando como “Escola Vianna” este pensamento sobre o corpo, o que resultou no livro: “Qual é o corpo que dança? Dança e Educação Somática para adultos e crianças”.

Em agosto de 2012, foi co-criadora do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Técnica Klauss Vianna, na PUC-SP, local onde André estudou. Inclusive, André teve Jussara como mestra.  

André, em 2019 durante curso de TKV com Jussara Miller. A mestra é a mulher de calça vermelha. Foto: Arquivo pessoal

Por isso, com vontade de seguir com sua pesquisa, André tenta desenvolver o que estudou em suas oficinas e ainda criar sobre isso em MS.  

— Depois que ministrei os cursos na UFMS eu me vi capaz e comecei, ainda no TGR, a montar turmas com minhas oficinas. Com a minha saída do grupo, fui acolhido na Casa de Ensaio.

Deu certo a parceria com a Casa. André disse que abriu duas turmas e de repente aumentaram os pedidos, assim ele teve que ampliar as turmas com alunos e alunas a partir dos 16 anos.   

— Eu tive que abrir mais, agora estamos com 4 turmas no período da noite no próximo dia 18 e 19 de dezembro, encerramos as oficinas deste ano, foram 4 meses e meio de trabalho, por causa da pandemia. O resultado são cenas curtas, porque nessas oficinas muitas pessoas entram e algumas naturalmente desistem, não dá para montar um espetáculo. As cenas são apresentadas no máximo em dupla, num festival que fazemos com os alunos — esclareceu.

Os cursos ocorrem duas vezes no ano, isso porque cada processo tem a duração de 6 meses. As turmas de no máximo 15 pessoas ensaiam duas horas por noite, às terças, quartas, quintas e sábados. 

Durante os cursos de cenas curtas, os alunos são apresentados às técnicas de iniciação teatral.

—Trabalho com estado cênico, na Técnica Klauss Vianna, trago a eles muita noção de corpo, presença, de estado: eu preparo o corpo da pessoa para que ela esteja em cena. No primeiro mês tem preparação corporal. Eu trabalho jogos teatrais, o Ewerton que trabalha comigo dá preparação vocal e inseri esse semestre técnicas de mímica e desenvolvemos o texto — apontou. 

Em 2022 o professor quer abrir cursos profissionalizantes livres, com 100h de duração.

— Devo fazer no sábado, com 4h de duração. Vamos trazer mais professores e melhorar o aprofundamento na iniciação teatral, será um curso mais robusto — prometeu.

Cada aluno que quiser estudar com André pode se inscrever para as oficinas no dia que preferir. O investimento é de R$ 150 ao mês.

— Isso paga as 4 aulas ao mês que teremos. Na Casa de Ensaio, o espaço adequado é amplo, mas diante da pandemia estamos com essas turmas de máximo 15 pessoas —. 

ARTE EM MS

André diz que novos estratégias devem ser traçadas para atingir resultados objetivos. Foto: Tero Queiroz

Para o professor, fazer arte em Mato Grosso do Sul é uma questão de dois lados.

— Vejo que falta, falta, falta... é sabido que não é fácil, temos que ficar indo atrás e torcendo, para tirar sumo das coisas. O poder público deveria oferecer para todos nós coisas que fazem a coisa evoluir, de verdade. Precisamos de formação, mesmo. Seria muito massa se tivéssemos aqui uma escola técnica... A gente vê um monte de ator, atriz, formado por workshop no Sesc. Nunca fez nada na vida, não dá para se formar em uma profissão tão delicada com apenas um workshop, precisa de mais — analisou.

Para André, a política cultural precisa de organização.

— Não adianta 6, 7, 8 pessoas irem gritar, não adianta. É muito mais sábio manifestar objetivamente. Precisamos, nós aqui em MS, propor. Esses embates ríspidos fazem criar asco da classe. É isso que acontece, é o que o que o Estado enxerga da gente: um bando de pessoas que não conseguem conversar... é óbvio que a gente não consegue conversar, a gente está desgastado, a gente está com raiva, está judiado. No meu ver, nesse momento a gente precisa passar um perfume, fazer um documento e levar para brigar de igual para igual — opinou.

Conforme o ator e professor, a classe cultural sul-mato-grossense encontra-se desmobilizada.

— Óbvio, a classe está desmobilizada. Eu vejo assim, uma pessoa mobilizar cartaz, palavras de ordem, numa classe que nem trabalha. Mas quando é ele que está apresentando seu produto cultural não faz nada. Lá na apresentação pessoal não faz. Aí quando vem um grupo que todo mundo quer ver, artistas aclamados em todo país, quer fazer barulho. Isso está errado, estamos atacando no momento errado — comentou.

FUTURO PROFISSIONAL

André no Palco do Campão Cultural. Foto: André Patroni

Naquela tarde, André pintava as unhas para estar como apresentador no palco do Campão Cultural a convite da Fundação. O ator e professor falou sobre as ambições futuras. 

— Na UFMS eu comecei a colocar em prática a minha pesquisa estética e devo colocar em prática de forma solo as coisas que acredito esteticamente. Vou trazer um pessoal massa para trabalhar comigo. A Jussara Miller, minha mestra fará minha preparação corporal e a Ligia Prieto fará a provocação cênica. Minha promessa do ano que vem é fazer isso — prospectou.

André, então, falou sobre o novo projeto que deve ser lançado em 2022. — Eu voltei com sede de fazer mais coisas depois que fui gravar lá e...

MSN: Gravar o que?

André: (risos) Não posso falar ainda! É meu primeiro trabalho na TV, uma pequena participação. Sempre pirei em trabalhar com isso, sempre. Lá em São Paulo, para trabalhar com isso eu tinha que fazer uma manutenção muito louca, sair na noite, de encontrar com o pessoal...

MSN: Não pode falar?

André: Como eu não falei nada ainda, nada será falado ainda. Não sei até que ponto falar antecipadamente é saudável, sabe?

MSN: Mas pode falar sobre o que fez?

André: Fiz um personagem que é a chegada de um dos personagens principais na trama. Eu estou ansioso. Eu achei muito legal... eu sempre quis trabalhar com audiovisual. 

MSN: O momento é legal?

André: Agora eu me sinto mais maduro, mais capaz. Consigo entender meu perfil. Antes eu meio que queria me pintar de príncipe, mas fui entendendo. Eu compreendo hoje onde a minha cara pode ser encaixada para contar uma história.  Estou feliz para o ano que vem, vou trabalhar para não me iludir. Sei onde estou e sei onde quero chegar. Não podemos, nós artistas cair na ilusão: foi muito louco trabalhar com estrelas lá... se a gente não tem a cabeça no lugar a gente se ilude de um jeito que podem acabar nos derrubando.

MSN: Como aproveitar isso?

André: Estou produzindo um material, fui fazer fotos com uma amiga em São Paulo. Um amigo estilista de moda fez o figurino para esse ensaio. Me matriculei para janeiro, um curso de férias para TV e cinema. No teatro eu sei onde estou, mas no audiovisual é diferente. É algo sutil, por exemplo, lá onde gravei esse projeto, os artistas falam quase cochichando. Eu já perdi testes foda, hoje, enxergo que porque eu perdi a mão. Eu fiz dois testes para o filme 'A Vida Invisível', do Karim Aïnouz, lá não tinha esse know how. 

MSN: Como conseguiu o teste para esse projeto de 2022?

André: Fui indicado para eles desse projeto do ano que vem por meio de uma amiga. Assim eu cheguei lá. Eu fiquei lisonjeado, vou gravar num estúdio, uma cena fantástica. Eu quero ver como o público vai reagir, por isso prefiro não revelar.

*Às 22h30 de 18 de dezembro de 2021 foram feitas alterações e trechos foram suprimidos nesta reportagem.