CRIME | INTERNET
YouTube suspende monetização do canal de Monark; 'defensor do nazismo'
Monark segue livre e caçoando do crime que cometeu; diz que abrirá próprio podcast, após ser demitido do Flow
O YouTube suspendeu a monetização do canal de Bruno Aiub, conhecido pelo apelido Monark, apresentador que foi desligado do podcast Flow por defender a existência de um partido nazista no Brasil.
O apresentador publicou nesta sexta-feira (18) um tuíte em que informa ter sido avisado pela plataforma que está proibido de criar um novo canal, por ter violado "políticas de responsabilidade do criador de conteúdo" estabelecidas pela plataforma.
A decisão foi tomada porque o apresentador descumpriu as regras da plataforma, informou o YouTube.
O comunicado da suspensão foi enviado ao apresentador na noite de quinta-feira (17.fev.22).
Nele, o Youtube informou que Monark teria 24 horas para contestar a decisão, que poderia ser revogada de acordo com o comportamento do apresentador.
"Caso o apelo não seja considerado, ele segue suspenso de monetizar conteúdo. Ele pode publicar conteúdo novo, pode criar um novo canal, só não pode monetizar."
O YouTube informou ainda que a decisão de suspensão de monetização não é definitiva, pode ser revogada, mas não tem um prazo definido.
Em post no Twitter o podcaster afirmou que está "sofrendo perseguição política" da plataforma.
Monetização é o valor pago pelo YouTube pelos anúncios que rodam nos vídeos dos criadores. É uma forma de rentabilizar o trabalho como youtuber, seguindo as políticas da plataforma.
Ele ainda compartilhou, no post, o email recebido pela plataforma, que explica o motivo da suspensão e cita:
"Assim, concluímos pela suspensão da monetização do seu canal Monark. A partir do momento em que essa medida for aplicada, você não terá mais acesso às ferramentas e funcionalidades da monetização, o que inclui o suporte online a criadores de conteúdo."
"Enquanto a suspensão permanecer, você não poderá criar um novo canal ou se utilizar de um canal de terceiros para burlar as restrições do Programa de Parceiros do YouTube – o que seria uma violação de nossos Termos de Uso e poderia resultar em remoção permanente de seu canal da plataforma."
CRIME
Em junho de 2021, um adolescente de 17 anos foi expulso de um shopping center de Caruaru (PE) após ser flagrado ostentando uma suástica (a cruz gamada do nazismo) no braço. No dia seguinte, o secretário de Turismo de Maceió, Ricardo Santa Ritta, foi às redes sociais e expressou surpresa com o tratamento dado ao jovem: “Pensava que a liberdade de expressão existisse”. A prefeitura rapidamente demitiu o secretário municipal.
O shopping de Caruaru e a prefeitura de Maceió não agiram de forma arbitrária. A lei federal antirracismo (Lei 7.716, de 1989) afirma que é crime “veicular símbolos” do nazismo “para fins de divulgação”. Em caso de condenação, a pena é de multa e prisão de dois a cinco anos.
O mesmo artigo enquadra como criminosas as pessoas que produzem, vendem ou distribuem material que contenha símbolos nazistas e também as que utilizam publicações e meios de comunicação para disseminar as ideias do nazismo. Diversos países têm leis semelhantes.
O advogado Luiz Kignel, que é presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, compara:
— Quando um indivíduo decide sair em público vestindo a camiseta de um time de futebol, ele está deixando claro, sem precisar dizer uma só palavra, que admira aquele time, que o respeita, que o apoia, que concorda com ele. A mesma coisa acontece quando um indivíduo ostenta algum símbolo nazista. Um ato desses não é inocente. Os símbolos do nazismo trazem consigo as ideias de intolerância, ódio, racismo e extermínio do outro, que não podem ser admitidas.
Apesar de tudo o que a Lei diz, Monark segue livre e caçoando do crime que cometeu. Em um último post na rede social o podescater disse: "Curtindo minhas férias forçadas de cancelamento.", escreveu. O podcaster disse também que criará um "podcast em casa" com o nome: "Podcast Cancelado... ou Monarki", comentou em um vídeo.
O QUE DEFENDEM?
O nazismo prega a destruição de todos os povos e indivíduos que possam contaminar a presumida pureza da raça ariana (brancos castos). Essa ideologia foi posta em prática por Adolf Hitler nas décadas de 1930 e 1940, como política de Estado, na Alemanha e nos países invadidos pelo ditador.
Entre as vítimas dos nazistas, estiveram judeus, negros, gays, pessoas com deficiência física ou mental, ciganos, comunistas e testemunhas de Jeová. Todos, por ordem do ditador, deveriam ser extirpados da terra, mortos com metodos de tortura.
Apenas entre 1941 e 1945, 6 milhões de judeus foram executados nos campos de extermínio nazistas. Para efeitos de comparação, esse é quase o mesmo número de habitantes da cidade do Rio de Janeiro hoje. O genocídio do povo judeu ficou conhecido como Holocausto e é reconhecido como um dos episódios mais traumáticos da história da humanidade.
A lei brasileira de 1989 que elenca os crimes de racismo se baseia no artigo da Constituição que os descreve como inafiançáveis e imprescritíveis. Originalmente, contudo, a lei se concentrava no racismo sofrido pela população negra e não tocava de forma explícita no nazismo e na sua ideologia racista.
A primeira referência à apologia do nazismo foi incluída nessa lei apenas em 1994, por meio de um projeto do deputado Alberto Goldman (PSDB-SP). A segunda referência, em 1997, com uma proposta do então deputado e hoje senador Paulo Paim (PT-RS).
Quem na época achou exagerados os acréscimos à lei e argumentou que os preceitos extremistas de Hitler jamais encontrariam solo fértil no Brasil, tão pacífico e distante da Europa, acabaria sendo surpreendido pela realidade.
AUMENTO DOS CRIMINOSOS
A ONG Safernet, que defende os direitos humanos na internet, identificou um recente aumento no número de sites com conteúdo nazista. Em junho de 2020, conseguiu a remoção de 7,8 mil páginas com essa temática. Em junho de 2019, havia conseguido derrubar 1,5 mil. A ONG recebe denúncias eas encaminha para o Ministério Público.
Estudos acadêmicos apontam um crescimento no número de células neonazistas (grupos organizados de pelo menos três pessoas) no Brasil. Atualmente existem em torno de 530, espalhadas por todas as regiões do país, de acordo com a antropóloga Adriana Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
As denúncias apuradas pela Polícia Federal também explodiram. Até pouco tempo atrás, eram poucos os inquéritos, entre 4 e 20 a cada ano.
Com a aleição de Jair Bolsonaro, declarado apreciador de ideais radicais de direita, em 2019 foram abertas 69 investigações de apologia do nazismo. A situação piorou em 2020, quando os policiais federais investigaram 110 casos — um novo inquérito a cada três dias, em média.
*Com Agência Senado
