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ORQUESTRADO | CAMPO GRANDE (MS)

'Funcionárias tramaram roubo, patroa reagiu e foi esganada', diz polícia

A pecuarista foi esganada pelo cunhado de sua doméstica; uma das suspeitas era 'comadre'

Da esquerda para a direita:  Andreia Aquino Flores, de 38 anos, Lucimara Rosa Neves, de 43 anos e Jéssica Neves Antunes, de 24 anos

Lucimara Rosa Neves, de 43 anos e Jéssica Neves Antunes, de 24 anos, mãe e filha, respectivamente, tramaram um roubo contra a pecuarista Andreia Aquino Flores, de 38 anos, morta na quinta-feira (28.jul.22), num condomínio na Rua Nossa Senhora das Mercedes, Parque Cachoeira, em Campo Grande (MS).

A pecuarista foi esganada pelo cunhado de Lucimara, Pedro Ben-Hur Ciardulo, de 23 anos, que está foragido. A polícia disse que desvendou o caso nesta sexta-feira (29.jul.22), após confissão das funcionárias.  

De acordo com os investigadores, mãe e filha teriam orquestrado um plano para roubar R$ 20 mil da vítima. Entretanto, as coisas saíram do controle após a pecuarista reagir (entenda abaixo).  

Mostramos aqui no MS Notícias ontem, que todas as informações ainda eram “hipóteses”, de que Andréia teria sido espancada e morta por dois criminosos que invadiram o condomínio de luxo após fazer as funcionárias reféns. Essas informações foram passadas pelas próprias funcionárias que ontem eram "supostas sobreviventes".  

Ontem, as suspeitas narraram que haviam sido rendidas por dois criminosos ao irem ao mercado fazer compras usando o carro da patroa. Disseram que quando retornaram com as compras e entraram no veículo, no banco de trás, havia dois homens que lhes apontaram uma faca e mandaram que elas “seguissem até a casa da patroa”. Assim, os homens teriam entrado sem problemas no condomínio para cometer o alegado crime.  

Porém, o delegado Francis Flávio Freire, da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf), disse que as suspeitas, na verdade, convidaram o cunhado de Lucimara para simular o assalto.  

Mãe e filha já haviam levantado suspeitas no dia do crime, quando em depoimento, não souberam esclarecer como a porta do veículo foi aberta para que os supostos 2 criminosos já estivessem lá dentro quando elas retornaram com as compras.  

Durante investigações, a polícia descobriu por meio de imagens de câmera de segurança que as próprias funcionárias da vítima abriram a porta do veículo, com um controle remoto. Confrontadas sobre a versão “fantasiosa”, as mulheres acabaram assumindo o crime, explicou o delegado.

CRONOLOGIA

Na verdade, segundo a polícia, a dinâmica do crime foi a seguinte:

As funcionárias chegaram entre 6 e 7h para trabalhar no dia 28 d e julho e encontraram Andreia embriagada ainda acordada.   Elas fizeram limpeza na casa e na sequência, pouco depois da 9h30, avisaram que iriam ao atacadista realizar compras para a casa da patroa.     Mãe e filha foram ao atacadista na Rua Marquês de Lavradio — a 7 minutos do condomínio — e fizeram compras de fato, no valor de R$ 786,69 pagos no cartão de uma delas depois que a patroa havia feito Pix de R$ 1 mil. A nota fiscal do supermercado mostra que as duas terminaram de passar os produtos no caixa às 10h16. Elas, então, levaram os produtos até o carro no estacionamento, foi quando o cunhado embarcou. Depois disso, o trio seguiu em direção ao condomínio. No trajeto, os suspeitos passaram numa loja de utilidades, na Avenida Ministro José Arinos, para comprar uma arma de brinquedo que seria usada na encenação. Na sequência, o trio parou em um posto de combustíveis para comprar cigarros e seguiu para o condomínio. Ao chegarem, dentro do condomínio de luxo, os primeiros a entrarem foram Pedro e Jéssica, essa última fingindo estar refém de Pedro. Embriagada, a vítima resistiu à investida do assaltante para amordaçá-la. "Ela se debatia e ele apertava um pano contra o rosto dela, até que Andreia desfaleceu", narrou as suspeitas em depoimento.  Diante disso, o corpo da patroa foi levado para o 1º andar do imóvel. Momento em que Lucimara ainda disse ter tentando reanimar a patroa, jogando "água no rosto dela". Sem sucesso na ressuscitação, Lucimara levou o assassino até a casa dele, no Tiradentes, voltou para a residência da patroa e junto com a filha, passou a pedir ajuda, tendo encontrado um vizinho.   O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 12h.  Às 12h20 da quinta (28.jul), o caso passou a ser considerado latrocínio. 

SAIU DO CONTROLE

O objetivo, disseram elas, era ‘apenas simular o roubo’ para que Andreia fizesse a transferência do dinheiro, mas a pecuarista reagiu e acabou sendo enforcada pelo cunhado de Lucimara.  

“A ideia do planejamento era fazer com que a vítima realizasse no momento do assalto, uma transferência bancária, um pix, de aproximadamente R$ 20 mil, a vítima teria reagido, as coisas saíram do controle e o rapaz acabou matando a vítima mediante esganadura”, explicou o delegado.

A arma de brinquedo foi encontrada na bolsa de Jéssica. Mãe e filha, que segundo Freire, eram muito próximas da vítima – inclusive, Andreia era madrinha do filho de Jéssica – foram presas por latrocínio.

Com ajuda do Grupo de Operações e Investigações (GOI), buscas são realizadas na tentativa de localizar o cunhado de Lucimara.

IRMÃ DA VÍTIMA

“Simular um roubo”, foi uma ideia que surgiu há 15 dias, explicou Lucimara em depoimento. Ela disse que a irmã de Andreia a procurou e propôs um pagamento de R$ 50 mil para que Lucimara convencesse a patroa a assinar um documento, “usando os meios que quisesse”. As irmãs tinham uma briga relacionada a cabeças de gado. A polícia, entretando, não apontou a ligação da irmã ao crime. 

Lucimara disse que iria aproveitar o pedido da irmã para realizar um plano mais ousado e tentar ganhar algum dinheiro. Depois, Lucimara acredita, que Andreia pensaria que foi a "irmã que mandou o criminoso para lhe fazer ameaças", em razão da briga das pecuaristas por cabeças de gado.  

PASSADO

Andréia foi investigada em inquérito de suposto atentado a tiros contra o ex-marido, um empresário de 48 anos. Ele foi vítima de tentativa de homicídio, na tarde do dia 18 de janeiro deste ano, em Ponta Porã (MS), na fronteira de Pedro Juan Caballero, no Paraguai. O empresário foi atingido de raspão no braço. Os tiros disparados pelo garupa de uma moto destruíram a porta de vidro de uma clínica beterinárias a qual o ex-marido de Andreia era dono, localizada na Rua Visconde de Taunay. O nome do empresário está sendo preservado. 

Os dois casos que marcam o passado de Andréia aconteceram em Ponta Porã, região em que a família dela vive e possui propriedades. A vítima é filha do pecuarista Ocídio Pavão Flores, que foi diretor do Sindicato Rural de Ponta Porã.

Em junho de 2015, Ricardo Carvalho Cristaldo foi executado no centro de Ponta Porã enquanto dirigia um Hyundai Ix35, que estava em nome do pecuarista. Ele foi alcançado por outro veículo e executado com mais de 18 tiros. O homem tinha passagens por tráfico de drogas e estava fora da cadeia há 11 meses quando foi morto.