MS Notícias

DEVASTADO PELAS CHAMAS

Há um ano, irmão tenta reconstruir casa destruída em incêndio

Criador do 'Fusca Transforme' faz sacrifício em prol da família

(5.ago.23) - Celso Aristimunho mostra madeira da antiga casa destruída por incêndio. Foto: Henrique Kawaminami

Celso Ramos Aristimunho, de 64 anos, está sentado no interior de uma espécie de lavandaria, num terreno na Rua São Sebastião, na Vila Taveirópolis, em Campo Grande (MS). Ele dorme no cômodo improvisado desde 7 de julho de 2022, dia em que a casa da irmã, Vânia Ramos Aristimunho e da sobrinha, Juliana Aristimunho Colman, foi completamente destruída por um incêndio.

O fogo teria sido causado por curto-circuito em luzes de pisca-pisca. “Só sobrou esse galpão onde estou agora me acomodando”, introduziu Celso em entrevista ao MS Notícias, no dia 5 de julho deste ano. 

Antes do incêndio, Celso morava num cômodo de alvenaria nos fundos do quintal, entretanto, cedeu a peça para a irmã e a sobrinha terem comodidade. 

Agora, ele está vivendo num quartinho de 6 metros quadrados e pouco mais de 2 metros de altura. No local ele organiza seus materais e também repousa.

Fomos convidados a entrar no ambiente. As paredes do cômodo são feitas por divisórias de madeira e uma mureta de alvenaria.

(5.jul.23) - Há um ano, Celso Aristimunho está vivendo em uma cobertura improvisada. Foto: Henrique Kawaminami

Não há portas. A cobertura são pedaços de telhas de fibrocimento. Dentro do ‘galpão’ há diversos materiais eletrônicos.

 (5.jul.23) –  Há um ano Celso dorme entre objetos de reciclagem numa cobertura improvisada. Foto: Henrique Kawaminami

Numa prateleira estão empilhadas caixas com parafusos,  calçados, capacetes, papéis de alumínio, isopores, cartazes, televisores, CPUs, ventiladores, entre diversos outros materiais.

Num canto, espremido entre a parede, há roupas e um colchão já desgastado. O idoso, repetidas vezes salienta: “Não reparem a bagunça, por favor!”. Assista: 

Celso conta que até hoje, apesar de ter havido uma comoção com seu caso, ele ainda não conseguiu apoio suficiente para reconstruir a casa da irmã e da sobrinha e retornar para onde vivia. Ele revelou que na época em que ‘virou notícia’, algumas pessoas o ajudaram financeiramente, mas o valor levantado, de R$ 6,5 mil, não deu para iniciar uma nova casa.

Devido a isso, Celso conta que os pouco mais de R$ 6 mil foram usados numa pequena reforma na peça em que Celso vivia e guardava materiais reciocláveis, nos fundos do quintal. "Arrumamos, demos uma ajeitada para as meninas irem para lá". 

Mesmo antes do incêndio, Celso era conhecido na Capital sul-mato-grossense por desfilar num fusca reconstruído todo com materiais recicláveis. O carro apelidado de “Fusca Transformer” também não foi atingido pelo fogo.

Celso diz que é difícil morar no local improvisado, mas o que mais lhe dói é se lembrar que se desfez de muitos dos seus materiais recicláveis. “Nós pegamos onde era meu depósito de recicláveis, arrumamos tudo lá. Acomodamos elas e hoje elas estão onde eu morava no meu depósito. E eu fiquei aqui no que restou da casa, que era o lavabo. Tive que jogar muita coisa boa fora”, lamentou. 

A aparência cansada e o corpo bastante magro, sugerem que Celso não tem se alimentado bem. O idoso conta que não é aposentado e que tem dificuldade de se alimentar devido a vários problemas de saúde.

Questionado sobre sua sua renda, ele explica que está 'levando' graças ao benefício do Bolsa Família. Além dos problemas de saúde, Celso argumenta que a falta de espaço para trabalhar o impede de retomar a venda de recicláveis.

O FUSCA TRANSFORMER

(5.jul.23) - Fusca foi todo construído com uso de materiais recicláveis. Foto: Henrique Kawaminami

Conforme Celso, o 'Fusca Transformer' foi construído ao longo de dois anos somando sua paixão por reciclagem a um pedido da sobrinha dele, de 39 anos, que sofre de transtorno mental. Juliana é tratada com muito carinho pelo tio, que a considera uma filha. Ele dá detalhes de como foi o processo de desenvolvimento do veículo:

Devido as suas diferentes carenagens, logo o fusca passou a ser usado como entretenimento à população e também uma maneira de Celso conseguir dinheiro extra para comprar medicamentos da sobrinha.

(5.jul.23) - Celso passou a deixar o veículo em praças e outros pontos aquecidos da Capital, para entretenimento da população. Foto: Henrique Kawaminami

Agora, porém, o fusca está parado, com documentação atrasada e com problemas mecânicos. Ao longo da entrevista, Celso aponta que caso receba apoio novamente, irá se esforçar para recolocar o fusca em atividade. 

Em determinado ponto da entrevista, Juliana surge chamando de pai. Celso explica para Juliana o motivo da presença da equipe do MS Notícias. 

RECICLAGEM

Apaixonado pela reciclagem desde a adolescência, Celso revela que ajudou os pais e se alimentou a vida toda com lucros da venda de seus materiais. Apesar de muitas vezes ser considerado 'louco' e 'sem juízo', ele disse que nunca se deixou abalar, pois considera a reciclagem de importância vital para a sociedade e para o meio ambiente. "Eu desisti de tudo o que eu era para cuidar de casa, da minha família... começei cuidando dos meus pais trabalhanco com reciclagem. Como eu já vendia pão caseiro na Feira, eu já tinha uma visão de trabalhar...". 

(5.jul.23) - Celso monstra uma lanterna a manivela que ele construiu com uso de recicláveis. Foto: Henrique Kawaminami

Durante a adolescência, Celso morava com os pais numa casa na Rua Maracaju e foi catando recicláveis, que conseguiu fazer um puxadinho e inaugurar um ponto de comércio. Ele sorri ao se lembrar que lá vendiam pães, balas, salgados, refrigerantes, entre outros produtos. "Foi aumentando a freguesia e infelizmente faleceu minha mãe... Aquilo desgostou a gente e eu e me pai decidimos vender. Nisso, havia um conhecido na época que comprou o ponto. Foi bem vendido e meu pai comprou uma chácara. Desde o sempre o reciclável me alimentou", considerou. 

Prova de que reciclar é parte de Celso, é que mesmo diante da tragédia do incêndio, ele recuperou vários objetos atingidos parcialmente pelo fogo:

ESPERANÇA

Para Celso, a solidariedade é o único meio de conseguir retomar a vida que levava antes do incêndio destrutivo. Assista a íntegra da entrevista no vídeo abaixo: