OPERADOR DAS RACHADINHAS
ÁUDIOS: Fabrício Queiroz reclama de herança 'leprosa' de Bolsonaro
Áudios revelam pressões de Fabrício Queiroz sobre a família Bolsonaro
Não é novidade que Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, é capaz de desestabilizar não apenas o filho do presidente, mas também o próprio Jair Bolsonaro. Após o escândalo das rachadinhas, Queiroz desapareceu e tornou-se famoso por sua pergunta icônica "Cadê o Queiroz?". Ele foi posteriormente encontrado na casa do advogado Frederick Wassef, um dos principais defensores da família Bolsonaro. Embora a investigação oficial sobre as rachadinhas tenha sido encerrada, Queiroz continua a ser um problema para a família do ex-mandatário.
A coluna de Rodrigo Rangel divulgou na 5ª feira (23.nov.23), um conjunto de áudios que ilustram a pressão exercida por Queiroz e como ele ainda representa uma ameaça para a família Bolsonaro. As mensagens foram enviadas por WhatsApp a Alexandre Santini, ex-sócio de Flávio Bolsonaro em uma loja de chocolates que, segundo o Ministério Público, foi usada para lavagem de dinheiro. As mensagens revelam que Queiroz procurou Santini para pedir dinheiro e ameaçar expor os bastidores de sua atuação nas transações heterodoxas a favor da família. Além disso, Queiroz admite ter recebido apoio financeiro e reclama por não receber tratamento igual ao de outros aliados dos Bolsonaro.
Problemas que vão além das finanças: a conexão entre Queiroz e Santini
Em 2022, Fabrício Queiroz buscava ajuda financeira e recorreu a Alexandre Santini. O que Queiroz não sabia era que Santini havia rompido laços com Flávio Bolsonaro. Embora amigos próximos desde a época em que Flávio era deputado estadual no Rio, Santini e Queiroz estiveram sob investigação do Ministério Público por conta do caso das rachadinhas. Nessa época, Queiroz contatava a família presidencial através dessa conexão em busca de dinheiro e proteção.
Queiroz se queixa da falta de suporte e se vangloria de sua lealdade ao clã, enquanto argumenta que Santini faria o mesmo se estivesse em seu lugar. Ele diz estar passando por momentos difíceis e afirma que Santini, sendo um homem de verdade, o apoiaria até o fim.
'Migalhas do Clã'
Fabrício Queiroz e Alexandre Santini se reconectaram recentemente após um período sem se falarem. Devido às investigações sobre o esquema de peculato, Santini, que já teve laços estreitos com Flávio Bolsonaro, foi orientado a evitar conversas telefônicas com Queiroz.
O ex-assessor de Queiroz expressou sua frustração com Santini: “Nem sei se posso mais te ligar de amigo porque da última vez que te liguei, você disse que não podia falar comigo e desligou o telefone na minha cara. ' Pouco depois, Queiroz admite que recebia ajuda financeira, mas as ajudas esporádicas que recebia não eram suficientes para aliviar as suas dificuldades financeiras. “As migalhas que me dão de vez em quando não resolvem a minha vida, cara”, reclama.
Homem-bomba assumido
Em mais um áudio, Queiroz diz que se seus filhos estão desamparados. Afirma que dois deles, Felipe e Nathália, até haviam conseguido alguma renda com o auxílio de um aliado de Flávio Bolsonaro, mas que, como vieram a público as contratações secretas realizadas por meio do Ceperj, uma fundação ligada ao governo do Rio, acabaram perdendo a boquinha. Ao mencionar o assunto, ele cita o nome do ex-árbitro de futebol Gutemberg Fonseca, nomeado secretário de Esportes do governo de Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, por indicação de Flávio Bolsonaro.
Muito próximo do senador, o secretário teria sido o responsável, segundo Queiroz, por conseguir a boquinha para seus dois filhos. Só que, como o contrato não durou muito tempo, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro se sentiu enganado. Queiroz põe ainda na conversa o nome de outro homem de confiança de Flávio, o advogado João Pedro do Nascimento, que durante o governo Bolsonaro se tornou presidente da poderosa CVM, a Comissão de Valores Mobiliários.
Nascimento chegou ao posto – onde está até hoje – por indicação do filho 01 do então presidente da República, de quem é amigo pessoal. “Esse filho da p. desse Gutemberg Fonseca, isso é um vagabundo esse Gutemberg Fonseca. Eu sei das tretas dele todas, cara. Sei que… Sei das tretas dele todas junto com o João Pedro… Eu não sou de bobeira, entendeu? Você sabe que informação é o que eu mais tenho”, afirma.
Pedido de empréstimo para pagar dívida
Em uma mensagem enviada a Alexandre Santini, Queiroz relata que não entrou em contato diretamente com Flávio Bolsonaro para não colocá-lo em uma situação difícil, já que o país passava por um momento complicado após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais. Ele também reclama do tratamento que recebeu da família Bolsonaro, afirmando que outras figuras de confiança do clã estavam "bem", enquanto ele próprio enfrentava dificuldades.
Embora tenha solicitado um empréstimo a Santini, Queiroz curiosamente afirma que quem pagaria seria "o amigo" - uma referência a Flávio Bolsonaro. "Eu preciso de um empréstimo e depois eu vejo com o amigo lá pra te pagar, cara", pede. "Eu sei que eles (os Bolsonaro) estão em uma situação difícil. Acho que eles queriam tudo na vida, menos esses problemas que estão enfrentando com esse bandido aí voltando ao poder", continua, referindo-se à derrota de Bolsonaro para o seu rival político, o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Ameaça explícita
Os áudios mostram que a família de Fabrício Queiroz estava habituada a pedir auxílios de todo tipo a pessoas da estrita confiança do clã Bolsonaro. Até para pagar mensalidades da faculdade dos filhos o ex-assessor esperava contar com a ajuda da turma. Neste áudio, Queiroz conta que sua mulher havia procurado Victor Granado, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, pedindo dinheiro para colocar em dia os boletos do curso de uma de suas filhas, Evelyn Mayara. “Acumula, fica seis meses, ela liga, se não (pagar) ela não pode renovar a matrícula. Eles (referindo-se aos filhos de Jair Bolsonaro) fizeram faculdade, eles são tudo (formados em) faculdade particular, eles sabem como é que funciona isso”, queixa-se.
Ao se referir, mais uma vez, a outros aliados da família que estariam com a vida resolvida, Queiroz aponta a nomeação da mulher de Victor Granado no gabinete de Flávio no Senado (Mariana Frassetto Granado ocupa cargo comissionado desde 2019, com salário de pouco mais de R$ 20 mil) e diz que o próprio Granado teria parceria milionária com uma das advogadas de confiança do senador.
“A mulher do Victor tá lá pendurada no gabinete ganhando 20 mil, o Victor tá com um contrato milionário com a Luciana… Eu não sou otário, pô, eu sei de tudo, entendeu?”, diz. Ele afirma ainda ter informações de que vinha sendo criticado pelos filhos de Jair Bolsonaro e ameaça: “Eu quero falar isso com o amigo (Flávio), frente a frente. Porque, se for verdade, eu vou pro pau mesmo. Foda-se, eu sou homem pra c.”.
FONTE: METRÓPOLES
(com edição de arte de Gui Prímola, design de Yanka Romão e Mia M., fotografia de Vinicius Schmidt, programação de Saulo Marques e edição de vídeo de Tauã Medeiros e Renato Nagano)
