Sob gestão precária do transporte, Consórcio Guaicurus é alvo de CPI em Campo Grande
O vereador Landmark Rios (PT) tem sido uma das vozes mais ativas na cobrança por melhorias no transporte coletivo de Campo Grande, que enfrenta uma crise crescente.
Com a 3ª tarifa mais cara do Brasil, o sistema de transporte da cidade está cada vez mais precarizado sob a gestão do Consórcio Guaicurus – composto pelas empresas Viação Cidade Morena LTDA., Viação São Francisco, Jaguar Transportes Urbanos e Viação Campo Grande – que detém a concessão do serviço há 12 anos.
Em resposta a essa situação, Landmark lançou a campanha #ArNoBusão e propôs um projeto de lei que obriga a instalação de ar-condicionado em todos os ônibus da capital.
Nesses últimos 12 anos, a população da cidade registrou um crescimento de 11,5%, passando de 805.397 habitantes em 2012 para 898.100 em 2022, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa mais recente divulgada sobre o tema, realizada pelo Instituto de Pesquisa Resultado (IPR) em parceria com o Correio do Estado, mostra que 83,5% dos entrevistados avaliaram o transporte coletivo como insatisfatório, atribuindo notas baixas, enquanto apenas 4,85% deram avaliações positivas. O estudo publicado em janeiro de 2025 confirmou que, apesar de um aumento populacional de 11,5% na cidade, a frota de ônibus sofreu uma redução de 24,7% desde o início do contrato.
A cidade, que contava com 574 veículos em 2012, hoje possui apenas 460 em operação, o que justifica a sobrecarga e a falta de capacidade para atender à demanda.
Ao cumprir uma parte do contrato, o Consórcio estrangulou outra.
O conjunto de empresas diminuiu o número de ônibus articulados, que oferecem maior capacidade de transporte, e inseriu alguns carros mais modernos, porém com menor capacidade. Então, seria necessário adquirir mais carros. No entanto, para não cumprir a medida, o Consórcio Guaicurus alega que tem enfrentado dificuldades financeiras que impactaram na renovação da frota e na manutenção dos veículos.
A falta de uma frota adequada levou a uma superlotação nos ônibus, com passageiros enfrentando condições precárias durante o trajeto.
A prefeitura de Campo Grande e o Consórcio Guaicurus, em 2019, chegaram a realizar uma pesquisa intitulada “Origem e Destino”, uma espécie de cópia da pesquisa realizada pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (SEINFRA) de Belo Horizonte (MG), que mostrou que 45% dos passageiros que utilizam o transporte coletivo na Capital mineira relatam que enfrentam superlotação nos horários de pico.
Além disso, 38% dos usuários mineiros indicaram que os ônibus são insuficientes para a quantidade de passageiros, aumentando os tempos de espera e a frustração com o serviço. A pesquisa de Campo Grande, porém, nunca foi divulgada.
Mas não é preciso uma pesquisa aprofundada, basta utilizar o transporte coletivo campo-grandense que verá que o cenário é desolador na Capital sul-mato-grossense, com ônibus operando até 30% acima da capacidade indicada.
As altas temperaturas climáticas em Campo Grande têm aumentado ainda mais o sofrimento dos usuários de ônibus circular. A cidade apresenta uma média de 35°C ao longo de todo o ano, o que agrava a situação de desconforto nos ônibus.
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) indicam que a capital sul-mato-grossense é uma das mais quentes do Centro-Oeste. Ainda assim, grande parte da frota existente não possui sistema de climatização.
Ao entrar em um ônibus em Campo Grande, os usuários relatam aumento de insatisfação com a situação de vida, o que reverbera na saúde física e psicológica. Os principais alvos da falta de qualidade no transporte coletivo são pessoas idosas, crianças e pessoas com doenças respiratórias.
Diante desse cenário, o vereador Landmark Rios (PT) lançou a campanha #ArNoBusão e propôs um projeto de lei que obriga a concessionária do transporte coletivo de Campo Grande a instalar ar-condicionado em todos os ônibus.
A ideia central do projeto é oferecer conforto básico aos passageiros, garantindo que todos os ônibus novos adquiridos pela empresa possuam ar-condicionado. Para os ônibus já em circulação, a proposta estabelece um prazo de até um ano para a adaptação. "Se o Consórcio Guaicurus não consegue dar conta de oferecer um serviço adequado, que entregue a concessão e permita que a cidade tenha um transporte público de qualidade para seus moradores”, defendeu o vereador.
Landmark ainda destacou a responsabilidade das autoridades municipais:
"O poder público não pode continuar fazendo vista grossa diante dessa situação.
Os moradores de Campo Grande merecem um transporte que atenda suas necessidades de forma decente, e não podemos esperar mais para agir”.
“NÃO TEM DINHEIRO!”
Apesar do péssimo serviço oferecido pelo Consórcio, nos últimos cinco anos, a tarifa aumentou 25,32%. Em 2020, o preço era R$ 3,95, um real mais caro que o atual.
Em agosto de 2024, o Consórcio Guaicurus obteve direito à isenção fiscal no valor de R$ 31,7 milhões até 2027.
Uma perícia feita por determinação da Justiça revelou que o Consórcio Guaicurus teve lucro líquido de R$ 68,5 milhões nos primeiros sete anos de concessão – até 2019 – que foi o período analisado pelos peritos contábeis.
Um balanço constante no processo mostra que o lucro anual da empresa era de R$ 195 milhões quando tinha mais carros nas ruas. Portanto, ao retirar quase 40 ônibus de circulação, esse lucro deve ter aumentado.
Ainda assim, a Concessionária insiste no discurso de que ‘não tem dinheiro’ para melhorar a qualidade dos ônibus.
Pesquisas indicam que a empresa possui uma frota envelhecida, com a maioria dos veículos em operação ultrapassando a média de 6 anos de uso.
A empresa, no entanto, alega que os custos operacionais, incluindo a manutenção da frota e o pagamento de salários aos funcionários, são elevados, o que dificulta os investimentos necessários em melhorias, como a instalação de ar-condicionado e a renovação da frota.
Além disso, a empresa argumenta que enfrenta pressão devido ao aumento da tarifa de ônibus.
CPI DO TRANSPORTE PÚBLICO
Outra medida que segue na Casa de Leis é a de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que mira os cofres da Concessionária Guaicurus.
O requerimento de instalação da CPI do Transporte Coletivo foi protocolado em 19 de fevereiro. De autoria do vereador Júnior Coringa (PSD), o documento recebeu 11 assinaturas, incluindo as dos vereadores Landmark, Luiza Ribeiro e Jean Ferreira.
A CPI terá como objetivo investigar o reiterado descumprimento, por parte da concessionária Consórcio Guaicurus, das cláusulas contratuais que regem a prestação do serviço de transporte coletivo.
Além disso, a comissão deve apurar quais medidas a administração municipal adotou para exigir o cumprimento do contrato e esclarecer os motivos do descumprimento do Termo de Ajustamento de Gestão (TAG TC/2947/2020), que trata do equilíbrio econômico-financeiro da concessão.
Outro ponto central da investigação será a alteração na estrutura do consórcio, originalmente composto por quatro empresas, que passaram por fusões ou outras modificações jurídicas.
A CPI uniu parlamentares de esquerda, de centro e de extrema direita em busca de uma solução. Além dos já citados, também assinaram o pedido de criação da CPI os vereadores: Ana Portela (PL), André Salineiro (PL), Fábio Rocha (União Brasil), Flávio Cabo Almi (PSDB), Maicon Nogueira (PP), Rafael Tavares (PL) e Ronilço Guerreiro (Podemos).
FUTURO DO TRANSPORTE COLETIVO EM CAMPO GRANDE
O transporte coletivo de Campo Grande está em um ponto crítico. A crescente demanda da população, somada à diminuição da frota de ônibus e à qualidade do serviço prestado, exige ações imediatas para melhorar a mobilidade urbana e o conforto dos cidadãos.
A campanha #ArNoBusão é uma tentativa de dar um passo importante nesse processo, mas para que o transporte coletivo se torne uma opção viável, acessível e de qualidade para todos, é preciso que haja um esforço conjunto entre o poder público, as concessionárias e a população.
Apenas observando dados de pesquisas e dados oficiais, fica claro que o transporte coletivo de Campo Grande enfrenta problemas estruturais graves. Somente por meio de investimentos em infraestrutura, na renovação da frota e na implementação de medidas que garantam a sustentabilidade financeira do sistema será possível garantir um transporte coletivo eficiente e de qualidade para todos os cidadãos.
