FORÇA REGIONAL
PSDB de Mato Grosso do Sul é voz diferenciada nos debates da direção nacional sobre fusão
O fim do PSDB no Brasil está próximo. O partido que já elegeu e reelegeu um presidente da República e foi hegemônico nas várias casas legislativas e governos estaduais e municipais, atualmente é uma força em decomposição eleitoral, política e orgânica. Resumido a três governadores - Raquel Lyra (PE), Eduardo Leite (RS) e Eduardo Riedel (MS) - o PSDB viu sua bancada definhar, caindo de 22 para 13 deputados federais, além de não eleger um prefeito sequer nas 26 capitais.
A realidade: das 27 unidades federativas (26 estados e o Distrito Federal), o tucanato só respira forte e soberano em Mato Grosso do Sul, onde as lideranças do ex-governador Reinaldo Azambuja e do governador Eduardo Riedel mantêm há mais de 10 anos o domínio absoluto de todas as instâncias representativas, com ampla maioria de prefeitos, vereadores e bancadas de deputados federais e estaduais.
TRAUMA MENOR
Assim, dentro de um processo inevitável de esvaziamento partidário, os dirigentes nacionais tentam encontrar uma solução menos traumática que a total desintegração orgânica. A saída mais em conta parece ser uma fusão com siglas de centro ou centro-direita. As primeiras tentativas foram com o PSD e MDB. Ainda não evoluíram, mas as conversas continuam. O passo seguinte é o Podemos, que sinaliza melhor condição, sobretudo nas questões de identidade programática, cláusula de barreira eleitoral e tempo de rádio e TV.
Para avançar nessa busca, lideranças e dirigentes nacionais, liderados pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, vêm visitando e consultando as bases estaduais. E é aí que emerge o peso diferenciado dos tucanos de Mato Grosso do Sul. As vitoriosas performances em seis eleições seguidas, com disputas estaduais e municipais, deram ao PSDB guaicuru singular musculatura para opinar, sugerir e ter voz decisiva na definição do futuro dos social-democratas.
DIVISOR DE ÁGUAS
Para que a receita da incorporação partidária seja efetivada, há um outro ponto, e bastante polêmico, localizado no limite chamado “divisor de águas”: é o posicionamento a ser adotado em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao seu partido, o PT. No PSDB, talvez seja unânime ou amplamente majoritária a vontade de fazer oposição ao petismo e a Lula. Mas muitos militantes e lideranças receiam que tal decisão sirva para dar fôlego ao bolsonarismo ou à extrema-direita.
A divisão de opiniões sobre apoiar Lula ou não é mais visível no MDB e no PSD, partidos que foram contemplados com ministérios no governo petista. O quadro mais importante dos emedebistas, a ministra Simone Tebet, do Planejamento, é cotada como forte alternativa para ser a vice de Lula ou disputar o Senado em 2026. Baleia Rossi e Gilberto Kassab, dirigentes do MDB e PSD, também não se entendem.
Enquanto Rossi acena para prosseguir aliado ao Planalto, Kassab vem sinalizando interesses diversos, inclusive aproximar-se de Jair Bolsonaro. E esta vinculação interessa, por exemplo, a lideranças locais do pessedismo, como o senador Nelsinho Trad, identificado com as forças bolsonaristas e de extrema-direita. Por sua vez, prudentes e demonstrando que vão decidir com absoluta segurança, Azambuja e Riedel esgotam o tempo que resta em conversas com suas bases.
Não é segredo para ninguém que os dois maiores líderes tucanos em Mato Grosso do Sul analisam com interesse e simpatia a possibilidade de seguir com Bolsonaro. Para isso, poderiam incluir o PP da senadora Tereza Cristina e da prefeita Adriane Lopes no arco de legendas disponíveis para a incorporação tucana. Este arranjo provocaria grandes estragos nas demais forças direitistas, entre elas o PL.
