DEU AULA
Jean rebate fake news sobre cartilha e provoca colega: "Desejo enrustido"
Líder do PT na Câmara de Campo Grande esclareceu desinformação sobre gestação de homens trans
O vereador Jean Ferreira (PT) deu uma aula sobre diversidade para colegas da Câmara Municipal de Campo Grande, na 3ª.feira (8.jul.25). Após questionamentos a respeito de uma cartilha sobre gestação de homens trans realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), o parlamentar petista usou de seu direito à fala para explicar o tema.
A cartilha, cujo objetivo é conscientizar agentes de saúde e a sociedade civil sobre o tema da gestação entre homens trans, contou com apoio do vereador e foi alvo de uma campanha de desinformação. De acordo com influenciadores de extrema direita, a cartilha teria sido distribuída “com dinheiro público”.
Na sessão anterior da Câmara Municipal de Campo Grande, o vereador André Salineiro (PL) afirmou que o material trazia “um barrigudo dizendo estar grávido”, em referência à ilustração que representa um homem trans gestante. Para abafar uma crise de popularidade recente, quando recebeu centenas de comentários negativos por tentar agredir um manifestante dentro da Casa de Leis, o parlamentar bolsonarista postou um vídeo com acusações sobre a cartilha, que gerou grande repercussão.
Já na sessão de terça, Jean explicou que homens trans, em geral, possuem útero, já que nascem categorizados como pessoas do sexo feminino e se identificam com o gênero masculino. O vereador utilizou o exemplo do parlamentar Thammy Miranda, que é vereador em São Paulo e nacionalmente conhecido. “Se essas pessoas engravidam e vão para o sistema público de saúde, elas têm o direito de ser atendidas”, pontuou o petista.
Jean também questionou qual o motivo do incômodo para com a população trans. “Eu gostaria de entender: qual é o problema com pessoas trans? Qual o problema com pessoas LGBTQIA+? Nós vamos sim discutir”, destacou o líder do PT na Câmara campograndense. “Não sei se é uma tentação, se é um desejo enrustido, se é ódio”, afirmou. “Qual é o problema, vereador André Salineiro?”, questionou o petista, que é homossexual assumido, ao colega, que não respondeu.
VEREADOR COMBATIVO
Jean Ferreira é o primeiro vereador a se declarar publicamente LGBTQIA+ em Campo Grande. Desde que foi eleito, o petista de 26 anos de idade tem sido alvo de campanhas difamatórias por parte da extrema direita, tanto diretamente quanto por meio de ataques a seus projetos ou iniciativas que contam com seu apoio.
Ainda durante o segundo turno das eleições municipais, um vídeo circulou no WhatsApp acusando Jean de defender “cartilha gay em escolas” e “cirurgias de ‘mudança de sexo’ em crianças”. Ao declarar apoio à candidata Rose Modesto (União) contra a prefeita bolsonarista Adriane Lopes (PP), o petista se tornou alvo entre grupos de extrema direita que apoiavam a reeleição de Adriane. “Olha só quem também está apoiando a Rose: o mais novo vereador Jean ‘Todes’”, dizia um dos vídeos.
Nas redes sociais, vereadores do PL e páginas de extrema direita têm realizado vídeos comentados, os chamados ‘reacts’, em que rebatem falas de Jean na Câmara, sobretudo as que se referem a diversidade e inclusão. O parlamentar do PT não se intimida: “A cada mentira que eles espalharem, nós vamos responder com a verdade”, afirma Jean.
Em maio, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) postou em seus stories uma foto de Jean a A Medalha Celina Jallad, destinada a mulheres de destaque na sociedade campograndense, à professora e atriz Emy Santos, que se identifica como travesti. “Vereador petista homenageia homem com medalha para mulheres”, afirmou o parlamentar mineiro de extrema direita. Emy havia sido atacada por Nikolas após realizar uma aula vestida de Barbie, em atividade lúdica em que todos os docentes se fantasiaram de personagens.
De acordo com Jean Ferreira, as campanhas difamatórias apenas dão mais força. “A todo avanço na sociedade, uma parcela que se sente ameaçada pelos direitos alheios costuma reagir, e hoje não é diferente”, pontua Jean. “O fato de se sentirem incomodados significa que estamos alcançando espaços que anteriormente eram de difícil acesso”, conclui o vereador.
