TAXAÇÃO AMERICANA
"O Brasil aceita negociação, mas não imposição", avisa presidente Lula
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou a disposição do Brasil em buscar soluções equilibradas para o impasse comercial com os Estados Unidos, criticando a recente imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A conversa foi realizada na manhã desta 5ª feira (17.jul.25), diretamente do Palácio do Planalto.
Ao comentar sobre a medida unilateral anunciada por Washington, Lula classificou a decisão como inesperada e contrária aos princípios do diálogo internacional. “Para mim foi uma surpresa. Não só o valor da taxação, mas como foi anunciada”, disse. Segundo o presidente, a medida ignorou um processo de negociações que já durava meses. “Dia 16 de maio, mandamos uma proposta depois de dez reuniões [...] Para nossa surpresa, em vez de resposta à carta, recebemos a notícia publicada no site do presidente da República.”
O presidente também questionou a justificativa apresentada para o aumento tarifário. Em sua avaliação, houve distorções sobre o funcionamento da justiça brasileira, os dados comerciais entre os países e a regulação das big techs. “Achei que foi um equívoco, porque a carta está cheia de inverdades. [...] Se a gente vai cobrar ou não imposto das big techs é um problema do governo brasileiro.”
Lula afirmou que o Brasil está disposto a manter a mesa de negociações aberta, mas não aceita atitudes impositivas. “O Brasil é um aliado histórico dos Estados Unidos. O Brasil preza a relação econômica entre o Brasil e os Estados Unidos. Mas o Brasil não aceita imposição. O Brasil aceita negociação.”
O líder brasileiro enfatizou que, diante da ausência de diálogo, o país poderá buscar respaldo em organismos internacionais. “Vamos utilizar todas as palavras do dicionário tentando negociar. Se não der na negociação, você pode ter certeza que a gente vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).”
Durante a entrevista, Lula destacou a importância do respeito à soberania nacional e à democracia. “Eu não sou um presidente progressista, eu sou o presidente do Brasil. [...] A melhor coisa é sentar numa mesa para conversar. Até agora, ele tem demonstrado que não tem interesse, porque acha que pode fazer as tarifas que quiser.”
O presidente também abordou as estratégias de diversificação de mercados externos e ressaltou avanços de sua gestão nesse campo. “Em apenas dois anos e meio de governo, eu criei 379 novos mercados para os produtos brasileiros no mundo.”
Em relação ao BRICS, Lula defendeu maior autonomia para o grupo nas transações comerciais. Ele argumentou que o bloco tem papel fundamental no equilíbrio geopolítico global e reiterou que sua existência não se dá em oposição ao Norte global. “O que queremos é ter mais liberdade nas transações comerciais entre os países do BRICS. [...] O BRICS não foi criado para brigar com o norte.”
No campo ambiental, o presidente destacou o compromisso do Brasil com o combate às mudanças climáticas e fez um convite direto ao presidente norte-americano. “Espero que o presidente Trump venha à COP30, que vai ser no coração da Amazônia.”
Lula ainda abordou as guerras em Gaza e na Ucrânia, defendendo um papel mais ativo da ONU e cobrando liderança responsável dos países mais poderosos. “Eu espero, sinceramente, que o presidente Trump, ao invés de vender mais armas, seja mais cuidadoso para tentar fazer a paz.”
Crítico da atual estrutura da governança internacional, o presidente defendeu uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, com mais representatividade. Para ele, a atual composição perpetua uma lógica de poder que ignora as demandas de regiões como América Latina, África e Oriente Médio. “Vamos mudar para ver se a gente consegue estabelecer, pelo menos, a esperança de que o mundo vai ter mais paz do que guerra.”
A entrevista reiterou a posição do governo brasileiro de defesa firme da soberania nacional, do multilateralismo e do diálogo como caminhos para a solução de impasses globais.
