MINISTRO DO STF
Chantagem internacional por anistia é confissão de crime, diz Moraes
Ministro impõe tornozeleira, toque de recolher e proíbe Bolsonaro de contatar autoridades estrangeiras ou ir a embaixadas
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ultrapassou mais uma linha vermelha — e desta vez, confessou em público o que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou como uma tentativa descarada de extorsão contra a Justiça brasileira. A fala ocorreu em meio à crise provocada pela taxação imposta pelo governo dos EUA às exportações brasileiras. Segundo Moraes, Bolsonaro tentou condicionar o fim do “tarifaço”, também conhecida como 'taxa Bolsonaro', pois mira à sua própria anistia criminal do ex-presidente.
Em decisão contundente nesta 6ª feira (18.jul.25), o ministro impôs uma série de medidas restritivas ao ex-presidente: uso de tornozeleira eletrônica, toque de recolher noturno, proibição de contato com autoridades estrangeiras e aproximação de embaixadas. Moraes apontou que Bolsonaro, ao lado do filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atenta diretamente contra a soberania nacional ao articular, desde os Estados Unidos, pressões políticas para interferir em processos judiciais em curso no Brasil.
O ministro foi direto: Bolsonaro confessou sua atuação criminosa ao condicionar publicamente a retirada das tarifas impostas por Trump à concessão de anistia por parte do Congresso Nacional. Em suas palavras, a conduta do ex-presidente é “grave, despudorada, consciente e voluntária”.
Não é apenas a fala que preocupa. Moraes revelou que, em 13 de maio de 2025, Bolsonaro repassou R$ 2 milhões via PIX ao filho Eduardo, já nos EUA — uma movimentação considerada “um forte indício de alinhamento e ação coordenada para desestabilizar o Brasil” e influenciar diretamente decisões do STF.
Além disso, a Polícia Federal encontrou na casa do ex-presidente uma cópia da petição inicial de uma ação movida pela plataforma de vídeos Rumble contra Moraes na Justiça dos EUA — um ataque jurídico promovido em conjunto com o Trump Media & Technology Group, do presidente Donald Trump. A ofensiva acusa Moraes de “censura” e tenta impedir que decisões do STF tenham efeito sobre redes nos EUA.
Em declarações públicas nos últimos dias, Bolsonaro — com o cinismo habitual — tentou transformar a crise diplomática em chantagem política. Disse que “com a anistia, haveria paz para a economia”, e chegou a questionar: “Vamos supor que Trump queira anistia. É muito?”.
A fala, carregada de arrogância e desprezo pela Constituição, foi interpretada por Moraes como uma tentativa explícita de coação, obstrução de justiça e atentado à soberania nacional. Para o ministro, a estratégia bolsonarista é escancarada: desestabilizar a economia, pressionar o Judiciário e instrumentalizar relações internacionais a favor de seus interesses criminais.
Na mesma decisão, Moraes lembrou que as ações de Bolsonaro se intensificaram justamente após a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar suas alegações finais e pedir a condenação do ex-presidente no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado.
A PGR foi clara: Bolsonaro “alimentou o caos social” e atuou deliberadamente para sabotar a democracia após sua derrota nas urnas. Caso condenado por organização criminosa armada, golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de Direito e outros crimes, Bolsonaro pode pegar mais de 40 anos de prisão.
Mesmo diante de tantos indícios, o ex-presidente voltou ao velho script de negação e vitimismo. Disse que vive uma “suprema humilhação” e afirmou que as investigações têm “natureza política”. “Nunca pensei em sair do Brasil ou ir para uma embaixada”, disse, ignorando o histórico recente: em fevereiro de 2024, passou dois dias na embaixada da Hungria, logo após a PF apreender seu passaporte.
Bolsonaro repete o padrão: nega o óbvio, mente com convicção e tenta reescrever os fatos. Agora, com tornozeleira no tornozelo, restrições impostas e cada vez mais evidências contra si, o ex-presidente não enfrenta apenas a Justiça — enfrenta a realidade, algo que ele há muito tempo parece ter abandonado em favor de suas fantasias autoritárias.
