NÚCLEO CRUCIAL
Sem personalidade, defesa de Bolsonaro o entrega à cadeia
O cansado discurso de elevar ex-mandatário ao cargo de mero espectador, diante das evidências acumuladas pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República (PGR), fracassou
A defesa de Jair Bolsonaro (PL) tentou, nesta 4ª feira (3.set.25), no Supremo Tribunal Federal (STF), pintar o ex-mandatário inelegível como uma inocente vítima de acusações infundadas. Em uma sustentação que mais pareceu um roteiro de “não sei de nada”, os advogados Celso Vilardi e Paulo Cunha Bueno negaram que Bolsonaro tenha atentado contra a democracia, participado de minutas golpistas ou tido qualquer ligação com os violentos atos do 8 de janeiro.
Desde 3ª feira (2.set.25), quando o julgamento do Núcleo Crucial começou, foram ouvidos os advogados dos réus Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier e Anderson Torres, Augusto Heleno, do general Paulo Sérgio Nogueira, do ex-ministro da Defesa, e do general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa. Além da defesa de Bolsonaro, que dentre todas, foi a mais fraca em argumentos.
Vilardi e Bueno se destacaram, não por força, mas pela fragilidade e pela evidente falta de uma estratégia que possa livrar Bolsonaro da cadeia ou sequer diminuir sua pena.
O cansado discurso de elevar ex-mandatário ao cargo de mero espectador, diante das evidências acumuladas pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República (PGR), fracassou. As autoridades tem provas contundentes, de que Bolsonaro é mentor e executor de um plano para derrubar o Estado Democrático de Direito. O relatório da PF é categórico: “tinha plena consciência e participação ativa” nos atos golpistas.
A estratégia da defesa se resumiu a negar tudo, desmerecer a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e questionar a ausência de provas diretas.
Vilardi chegou a afirmar que “não há uma única prova” ligando Bolsonaro a Punhal Verde Amarelo, Operação Luneta e ao 8 de janeiro, ignorando o peso das provas circunstanciais e dos relatos consistentes. E sem apresentar qualquer evidência que sustente a acusação de que um delator “mentiu contra o presidente”.
Em sua fala, Vilardi ainda criticou o volume de provas reunidas — mais de 70 terabytes de dados — alegando que não teve tempo para analisar todo o processo. Pareceu, na ocasião, mais uma desculpa para a evidente falta de preparo e empenho da defesa, do que qualquer justificativa plausível.
Além disso, a defesa tentou minimizar os crimes imputados, argumentando que não houve “violência ou grave ameaça” por parte de Bolsonaro. Defender que discursos públicos recheados de ataques ao sistema eleitoral e articulações para impedir a posse de um presidente eleito não configuram ameaça é uma afronta à lógica e ao bom senso.
O argumento de que Bolsonaro colaborou para a transição do governo Lula também soa fraco e tardio, diante das inúmeras resistências públicas e da demora em reconhecer o resultado das urnas, inclusive a fuga de Bolsonaro para os Estados Unidos, onde está seu filho agora, Eduardo Bolsonaro, tramando contra o país para conseguira anistia e livrar seus pais dos crimes que cometeu.
Enquanto a PGR pede penas que podem chegar a 43 anos de prisão, a defesa tenta transformar um caso robusto em uma novela de “não houve nada”. O que fica claro, porém, é que, com uma defesa tão sem personalidade e frágil, a trajetória de Bolsonaro parece cada vez mais rumo à cadeia.
