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LEGISLATURA NA CAPITAL

Entre cálculo e constrangimento, Câmara vota moção de repúdio a Eduardo Bolsonaro

Parlamentar inimigo do Brasil atacou a Senadora Tereza Cristina

Vereadores de extrema-direita apoiaram o traidor da pátria, Eduardo Bolsonaro, e, assim, sinalizaram contra a senadora Tereza Cristina.

A Câmara Municipal de Campo Grande (MS) protagonizou nesta semana um episódio que escancarou, com rara nitidez, as fragilidades e contradições do discurso político local. O vereador Marquinhos Trad apresentou uma moção de repúdio ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), inimigo do Brasil que trama contra o país nos Estados Unidos (EUA), após declarações do parlamentar contra a senadora sul-mato-grossense Tereza Cristina (PP).

O gesto de Trad, que defendeu a senadora lembrando que Tereza teve mais votos em Mato Grosso do Sul do que o próprio pai de Eduardo, o ex-presidente inelegível que cumpre prisão domiciliar Jair Bolsonaro, e que sempre foi uma defensora firme de suas convicções e dos interesses do Estado, acabou servindo de gatilho para uma sessão marcada por silêncios constrangidos, discursos ambíguos e votos mais pautados pelo cálculo político do que pela coerência ideológica.

Marquinhos Trad (PDT) propôs moção de repúdio a Eduardo Bolsonaro por atacar a ministra Tereza Cristina.
Foto: Izaias Medeiros/CMCG

O JOGO DUPLO DO CENTRÃO MUNICIPAL

A moção, em tese, tratava-se de uma simples manifestação simbólica. Na prática, revelou-se um teste de fidelidade que dividiu a base aliada e expôs o jogo de conveniências na Câmara.

Os vereadores do Centrão, especialmente os alinhados à prefeita Adriane Lopes (PP), se viram encurralados. De um lado, não poderiam se voltar contra Tereza Cristina, símbolo de prestígio nacional e figura central em seu próprio partido. De outro, também não poderiam contrariar o bolsonarismo, que ainda exerce forte influência sobre suas bases eleitorais.

O resultado foi um desfile de discursos evasivos e posturas cuidadosas. Herculano Borges, Wilson Lands e Maicon Nogueira, todos integrantes da base da prefeita, falaram em “ponderação” e “respeito”, mas deixaram evidente o desconforto de quem tenta agradar a dois chefes ou, nas palavras de um observador atento, “servir a dois senhores”.

PL DIVIDIDO E SILÊNCIO CALCULADO

Ana Portela (PL), André Salineiro (PL) e Rafael Tavares (PL) votaram contra Tereza Cristina em favor do traidor da pátria, Eduardo Bolsonaro. Fotos: Izaias Medeiros/CMCG

Os três vereadores do Partido Liberal (PL), legenda de Eduardo Bolsonaro, optaram por uma postura de silêncio calculado. Nenhum deles ousou criticar Tereza Cristina, reconhecendo publicamente sua importância e o trabalho prestado por Mato Grosso do Sul. Ainda assim, votaram contra a moção de repúdio, como se o simples gesto simbólico de defesa à senadora pudesse ser visto como deslealdade ao clã Bolsonaro.

Votaram contra a moção os vereadores bolsonaristas Rafael Tavares (PL), André Salineiro (PL) e Ana Portela (PL).

A atitude revela um dilema recorrente na extrema direita e direita brasileira: a submissão a personalismos e a incapacidade de divergir com independência, mesmo quando o alvo é alguém do próprio campo político. Defender Tereza Cristina, nesse contexto, passou a ser interpretado como quase uma heresia ideológica, ironicamente, contra a própria ex-ministra do governo Bolsonaro.

ESQUERDA MANTEVE COERÊNCIA E EXPÔS A HIPOCRISIA

Landmark Rios (PT) apontou que votou em favor da senadora, que tem um trabalho de grande relevância em MS. Foto: Izaias Medeiros/CMCG

Enquanto a direita local se equilibrava em cima do muro, os vereadores de esquerda mantiveram coerência no discurso. Criticaram abertamente Eduardo Bolsonaro, apontando que o deputado federal “hoje mais prejudica o Brasil do que ajuda”, ao estimular divisões e discursos de ódio que paralisam o debate público.

O vereador Landmark Rios (PT) disse que votou a favor da moção de repúdio a Eduardo "por entender que a senadora Tereza Cristina presta um relevante serviço a Mato Grosso do Sul".

Foram eles, inclusive, que expuseram com clareza a dissonância da base governista e do grupo bolsonarista local, que precisou literalmente “rebolar” para não desagradar nem à senadora Tereza Cristina, respeitada nacionalmente, nem ao clã Bolsonaro, ainda idolatrado por parte do eleitorado conservador.

Nesse ponto, o contraste foi evidente: enquanto a esquerda sustentou seu posicionamento político de forma clara e consequente, a direita e o Centrão preferiram se esconder atrás de justificativas genéricas, tentando transformar uma questão de princípios em mero jogo de conveniências.

CAMPO GRANDE E O ESPELHO DA POLÍTICA NACIONAL

O episódio, à primeira vista um simples debate de plenário, acabou se tornando um microcosmo da política nacional: um espaço onde a racionalidade cede à conveniência e onde o medo de desagradar pesa mais que o compromisso com a verdade.

Em Campo Grande, a Câmara refletiu o Brasil real: um cenário de contradições e lealdades partidas. Ao defender Tereza Cristina, Marquinhos Trad acabou expondo as rachaduras de uma política municipal cada vez mais refém das pautas nacionais e dos extremos que se anulam na prática, ainda que se ataquem no discurso.

O placar final teve 21 votos favoráveis e 3 contrários, totalizando 24 votos, e selou o episódio como um retrato fiel do que se tornou o jogo político em Campo Grande: uma arena onde uns falam por convicção, e outros por conveniência; onde uns enfrentam o extremismo, e outros se escondem atrás dele.