RIO DE JANEIRO
Chacina de Claúdio Castro contra a favela expõe falência da segurança pública
O saldo parcial inclui 130 mortos, sendo 126 cidadãos e quatro policiais
A operação policial que deixou ao menos 130 mortos até a manhã desta 4ª feira (29.out.25) expôs mais uma vez a crise estrutural da segurança pública no Rio de Janeiro. O episódio é considerado uma das ações mais letais da história do estado acentuando a ausência de planejamento e coordenação entre os órgãos de segurança.
A ação, deflagrada na 3ª feira (28.out.25) contra o Comando Vermelho (CV), tinha como meta cumprir cerca de 100 mandados de prisão. O saldo parcial inclui 130 mortos, sendo 126 civis e quatro policiais, 81 presos e 93 fuzis apreendidos. Durante o confronto, centenas de milhares de moradores ficaram sob fogo cruzado.
Mais de 100 linhas de ônibus deixaram de circular, escolas suspenderam aulas e unidades de saúde fecharam as portas. O número de vítimas de balas perdidas ainda não foi totalmente contabilizado. Uma mulher foi baleada dentro de uma academia, e um homem em situação de rua também foi atingido.
A operação ocorreu após um fim de semana de intensos confrontos entre o CV e o Terceiro Comando Puro (TCP), que já haviam provocado mortes em comunidades como o Morro do Borel e Costa Barros. Entre as vítimas, estão Marli Macedo dos Santos, de 60 anos, morta dentro de casa, e Elisson Nascimento Vasconcelos, de 33 anos, atingido quando saía de um pagode.
A crise da segurança no Rio não é nova. O estado convive com conflitos entre facções, corrupção policial e ausência de políticas públicas duradouras. Especialistas apontam que o atual modelo de enfrentamento, baseado em grandes operações e confrontos diretos, não tem reduzido o poder das facções nem a letalidade das ações policiais.
Durante entrevista, o governador de extrema direita Cláudio Castro (PL) afirmou que a operação foi “planejada”. A declaração provocou críticas de setores da sociedade civil, que questionam o impacto do suposto planejamento em uma ação que paralisou boa parte da capital fluminense.
Desde o início de sua gestão, Castro acumula as três operações mais letais da história recente do Rio: 28 mortes no Jacarezinho (2021), 24 na Vila Cruzeiro (2022) e agora 130 na ação desta semana.
A violência crescente, somada à falta de integração entre as forças policiais, reforça a percepção de que o problema ultrapassa as fronteiras estaduais. Especialistas defendem que apenas um esforço nacional, envolvendo governo federal, estados, Judiciário, parlamento e sociedade civil, poderá oferecer uma resposta efetiva.
Segundo análises recorrentes sobre o tema, o combate à criminalidade precisa ir além das incursões armadas, com foco em rastreamento financeiro das facções, fortalecimento de corregedorias independentes e combate à corrupção dentro das forças de segurança.
Enquanto isso, a população segue exposta. A cada nova megaoperação, moradores perdem o direito de ir e vir, escolas são fechadas e famílias se escondem dentro de casa, temendo se tornar as próximas vítimas de um conflito que parece não ter fim.
