RIO DE JANEIRO
Ativistas e entidades criticam massacre policial no Rio e pedem responsabilização
Operação foi 'amadora' e representou uma 'lambança político-operacional'
Ativistas e representantes de movimentos sociais classificaram como “massacre” a operação policial realizada nesta semana nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. A ação, considerada a maior dos últimos 15 anos no estado, deixou mais de 130 mortos, segundo estimativas de moradores e autoridades locais.
Na manhã desta 4ª feira (29.out.25), dezenas de corpos foram levados por moradores para a Praça São Lucas, na Penha. Parte das vítimas foi retirada de áreas de mata e entregue ao Corpo de Bombeiros. A contagem ainda é incerta, mas, somando os mortos confirmados na 3ª feira (28.out.25) — 64, incluindo quatro policiais — e os encontrados depois, o total pode ultrapassar 130.
O ativista Raull Santiago, nascido no Morro do Alemão, foi um dos primeiros a noticiar a retirada dos corpos por meio de transmissões ao vivo nas redes sociais. Ele afirmou que a tragédia evidencia a desigualdade que marca a realidade das favelas cariocas. “Essa é a face da cidade maravilhosa. O poder direciona o seu ódio e traz, na prática mais brutal possível, o seu recado para quem vive em comunidades como a nossa”, disse.
Santiago também destacou o sofrimento das famílias que perderam parentes. “Infelizmente, pela minha realidade, eu já estou acostumado a ver corpos, baleados, estraçalhados. Mas, com isso aqui, eu nunca vou me acostumar”, afirmou.
O presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, também acompanhou a retirada dos corpos e pediu a responsabilização do governador Cláudio Castro (PL) pela tragédia. Segundo ele, o episódio repete o padrão de outras operações letais no estado. “O que há de novo nesse massacre é apenas a quantidade de mortos. O que não muda é a política de segurança pública, a destruição da vida do morador de comunidade. As causas já foram elucidadas, mas falta vontade política”, declarou.
O governador Cláudio Castro defendeu a operação, afirmando que foi “planejada ao longo de seis meses”, resultado de mais de um ano de investigações e realizada com autorização judicial e acompanhamento do Ministério Público.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil, como a professora Jacqueline Muniz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), avaliaram que a ação teve falhas graves de execução. Para ela, a operação foi “amadora” e representou uma “lambança político-operacional”.
A Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) divulgou carta pública classificando o episódio como o “massacre dos Complexos da Penha e do Alemão”. A entidade afirmou que as ações policiais têm tratado as favelas como “territórios inimigos” e os moradores como “cidadãos de segunda categoria”.
“Segurança se faz com presença do Estado, não com invasão. Com políticas sociais, não com políticas de morte. Com vida digna, não com luto permanente”, conclui o documento da Faferj, que pede a desmilitarização das abordagens policiais e a criação de uma nova política de segurança pública baseada em direitos, educação, cultura, emprego e habitação.
