INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
PM entra armada em escola de Educação Infantil após pai reclamar de desenho de orixá
Os policiais permaneceram na escola por mais de uma hora e foram embora junto com o pai da aluna
Quatro policiais militares armados entraram na Emei Antônio Bento, no Butantã (SP), na 4ª feira (12.nov.25), após um pai acionar a PM porque a filha havia desenhado um orixá. O caso está sendo apurado pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Segundo a Agência Brasil, o pai alegou que a filha estaria sendo obrigada a participar de uma aula sobre religiões de matriz africana. No dia anterior, 3ª feira (11), ele já havia ido à escola para demonstrar sua insatisfação e, de forma inadequada, retirou do mural o desenho de Iansã feito pela criança.
Os policiais permaneceram na escola por mais de uma hora e foram embora por volta das 17h10 junto com o pai da aluna.
Em nota, a diretora Aline Aparecida Nogueira informou que a escola “não trabalha com doutrina religiosa" e que o "trabalho centrado a partir do currículo antirracista”. Ela disse ainda ter sido “coagida e interpelada pela equipe por aproximadamente 20 minutos”.
O episódio gerou indignação entre as famílias da unidade, que se prontificaram a prestar depoimento sobre o ocorrido.
REPERCUSSÃO
O episódio ocorre no mês em que o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra (20.nov), data que reforça a importância do ensino da história e cultura afro-brasileira — exatamente o tema da atividade alvo da denúncia.
Em nota à Agência Brasil, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Militar abriu uma apuração sobre a conduta da equipe que atendeu à ocorrência, incluindo a análise das imagens das câmeras corporais. A professora registrou boletim de ocorrência contra o pai da estudante por ameaça.
A Secretaria Municipal de Educação declarou que o pai foi informado de que o trabalho apresentado pela filha integra uma produção coletiva do grupo. A pasta ressaltou que a atividade faz parte das propostas pedagógicas previstas no Currículo da Cidade, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena.
O Sindicato dos Profissionais de Educação manifestou apoio à equipe da Emei Antônio Bento e afirmou que a presença dos policiais gerou constrangimento, intimidação e abalo emocional na comunidade escolar. A entidade disse que a atividade tem respaldo pedagógico e repudiou qualquer violação da autonomia docente.
A deputada federal Luciene Cavalcanti e o deputado estadual Carlos Giannazi, ambos do PSOL, acionaram o Ministério da Igualdade Racial para acompanhar o caso.
