AGROMILÍCIA
Valdecir, jagunço que matou o indígena Vicente em Iguatemi, é preso
Durante o ataque, jagunçada também matou um segurança da Fazenda Cachoeira atropelado por um trator
O jagunço paraguaio Valdecir Alonso Brites, de 45 anos, foi preso nesta 3ª feira (18.nov.25) pelo assassinato de Vicente Fernandes Vilhalva durante ataque de ao menos 20 jagunços contra a retomada de Pyelito Kue, na Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, em Iguatemi (MS).
Valdecir, de acordo com os indígenas, teria atuado ao lado de pistoleiros no ataque no domingo (16.nov.25).
Além do indígena, também morreu no conflito o vigilante Lucas Fernando da Silva, que estaria também trabalhando na Fazenda Cachoeira havia apenas uma semana. Ele foi atropelado por um trator de uma das fazendas que derrubava barracos da retomada.
Segundo o Cimi, o ataque foi ordenado pela chamada "agromilícia" — formada por grileiros de terras indígenas.
Em carta à Funai, o Cimi explicou que Valdecir vive fora da aldeia há anos e que não é indígena, e sim paraguaio.
O documento detalhou que ele morou na área por dois anos por ser casado com uma indígena, mas deixou a comunidade.
A carta afirmou que ele voltou à comunidade no domingo junto com um bando de jagunços fortemente armado.
O indígena Eliéber Riquelme Ramires, ferido no ataque, apontou Valdecir como autor dos disparos.
Um adolescente indígena de 14 anos também foi alvejado no braço.
A Sejusp chegou a tratar Valdecir como indígena, afirmando que ele teria matado um dos “seus”. No entanto, a informação é falsa.
Sob ataques cruéis de "agromilícias" armadas, a comunidade pediu que a Polícia Federal investigue possível cooptação de Valdecir por fazendeiros da região.
JUSTIÇA DECRETA PREVENTIVA
Equipes do Ministério dos Povos Indígenas e da Funai chegaram a Mato Grosso do Sul para acompanhar o caso.
A comitiva se deslocou para Iguatemi e visitou a Polícia Civil nesta terça. Veja a nota MPI
Vicente morreu após ser alvejado por um tiros de grosso calibre na cabeça.
A Justiça Federal proibiu a atuação de forças policiais estaduais na área ainda na 2ª feira (17.nov.25).
SITUAÇÃO DA TI
A Terra Indígena Iguatemipeguá I permanece em processo administrativo de regularização, mesmo após mais de uma década da publicação de seus estudos oficiais.
O tekoha Pyelito Kue/Mbaraka’y integra o conjunto de áreas incluídas no Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a Funai e o Ministério Público Federal em 2007.
O acordo estabelecia a obrigação de concluir, em três anos, os relatórios de identificação de várias terras Guarani e Kaiowá no estado.
O Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação de Pyelito Kue foi publicado somente em 2013.
O documento delimitou a área como Terra Indígena Iguatemipeguá I, com cerca de 41,5 mil hectares distribuídos por quatro municípios do sul de Mato Grosso do Sul.
Apesar da identificação concluída, o território permanece sem homologação, o que mantém o processo demarcatório suspenso em fases posteriores.
A ausência de conclusão da demarcação faz com que propriedades rurais sobrepostas continuem disputando o uso da área.
O conflito fundiário se agravou ao longo dos anos devido ao atraso no reconhecimento definitivo do território.
A região já foi centro de ampla repercussão nacional em 2012, quando uma ordem de despejo mobilizou manifestações pela permanência da comunidade.
Na época, a Justiça Federal autorizou a retirada dos indígenas da Fazenda Cambará, área sobreposta à TI, reacendendo o debate sobre a morosidade demarcatória.
Após forte mobilização social, o Tribunal Regional Federal suspendeu o despejo e permitiu que as famílias permanecessem em apenas uma pequena porção da área reivindicada.
Desde então, o território segue judicializado e sem definição final do Estado quanto à homologação.
A comunidade afirma que a indefinição jurídica contribui para a recorrência de ataques, pressões e tentativas de expulsão.
