RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Esquerda celebra fim do tarifaço ao Brasil e extrema direita silencia
Vitória do presidente do Brasil não é aceita pela direita que inventa motivos fracos ou se cala
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar a tarifa de 40% sobre a importação de produtos brasileiros como café e carne foi suficiente para movimentar — e muito — as redes sociais brasileiras. Mas a comemoração não veio exatamente em uníssono: enquanto setores da esquerda celebraram a vitória diplomática do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a extrema direita optou por uma postura mais… meditativa. Ou, como definiu um parlamentar governista, “ensurdecedora”.
A cena política rapidamente se dividiu entre aqueles que atribuem a decisão ao diálogo presidencial e aqueles que creditam tudo ao chamado “poder do agro”, agora alçado a mediador universal entre Brasil e Estados Unidos, ainda que a diplomacia formal continue pedindo passagem.
Curiosamente — ou nem tanto — alguns dos mais vocalizados admiradores de Trump adotaram, desta vez, um silêncio digno de retiro espiritual. Deputados federais alinhados ao bolsonarismo evitaram comentar o recuo tarifário, embora o próprio Trump tenha mencionado Lula como interlocutor direto no processo. É a espécie de contradição política que renderia boas teses de doutorado, mas, no curto prazo, rendeu apenas silêncio mesmo.
Até senadores de Mato Grosso do Sul, que meses atrás viajaram aos Estados Unidos para tentar reverter o tarifaço, preferiram destacar a força do agronegócio. Afinal, atribuir a decisão à pressão do agro é sempre uma saída elegante — e politicamente segura — quando a alternativa seria admitir que o governo Lula teve algum protagonismo no episódio.
VIAGEM DE QUASE MEIO MILHÃO
A expedição de parlamentares de direita e extrema direita ao território norte-americano, realizada após o anúncio inicial do tarifaço, acabou fazendo história mais pelo orçamento do que pelos resultados. Foram R$ 476,5 mil gastos — R$ 272,3 mil só em passagens — para uma missão que, no fim das contas, não conseguiu audiência com ninguém do alto escalão do governo Trump. A agenda incluiu encontros com nove congressistas, nenhum com influência direta na Casa Branca.
Entre os destaques financeiros da comitiva, o senador Nelsinho Trad (PSD) registrou o bilhete mais caro: R$ 52.242,69. Somando diárias e seguro, chegou a um custo individual de R$ 77,7 mil. Já em justificativas políticas, o senador argumenta que sua ida aos EUA foi fundamental para defender o setor agropecuário — ainda que a missão tenha retornado sem qualquer resultado prático.
DO POP AO PRAGMATISMO
Do lado governista, houve quem comemorasse ao som de Taylor Swift. A deputada Camila Jara (PT) publicou em seu Instagram a manchete anunciando o recuo de Trump, embalando o post com “The Fate of Ophelia” e um sucinto “Xô, tarifaço!”.
Já o ex-deputado Fábio Trad (PT) foi mais direto ao comentar “o silêncio da direita” diante do desfecho favorável ao Brasil.
Na oposição, Tereza Cristina e Nelsinho Trad apresentaram a hipótese de que "o agronegócio" fez Trump recuar, reforçando que a retirada das tarifas confirma a relevância dos produtos brasileiros no mercado americano.
A senadora ressaltou que ainda há “muito a trabalhar”, sugerindo que o episódio não encerra o debate sobre competitividade agrícola.
Os alardeados bolsonaristas, deputados federais Marcos Pollon (PL), Rodolfo Nogueira (PL) e Dr Luiz Ovando (PP) e deputados estuais como João Henrique Catan (PL) não falaram sequer um "a" sobre a queda do tarifaço que beneficia o Brasil, mas foi conquistada por Lula. Como mostramos aqui, quando o trafifaço foi imposto esses mesmos personagem da extrema direita celebraram.
DIPLOMACIA SE IMPÕE
A decisão de Trump realinhou expectativas, reposicionou discursos e mostrou que, no jogo diplomático, gestos importam — sobretudo quando contrariam narrativas previamente consolidadas. A esquerda comemorou sem pudor. A direita, por sua vez, procurou reorganizar a narrativa para que o crédito não recaísse, em hipótese alguma, sobre o diálogo entre Lula e Trump. Afinal, admitir isso seria dar ao adversário político uma vitória simbólica tão marcante quanto a econômica.
E assim, em meio a comemorações, silêncios estratégicos e notas cuidadosamente calibradas, o Brasil assiste a mais um capítulo em que política externa e política interna se entrelaçam — sempre entregando, para além da economia, uma boa dose de ironia nacional.
