EXTREMISTAS DE DIREITA
Banco Master tem ligações com Tarcísio, Bolsonaro e cúpula da extrema direita
Comandado por pastores, Banco aplicou golpe bilionário no Brasil e lucrou alto com Centrão e Direita
O colapso do Banco Master não revelou apenas uma fraude bilionária. Expôs um sistema de relações que envolve finanças de alto risco, líderes da extrema direita e governadores estratégicos — entre eles, Tarcísio de Freitas (chefe do Executivo paulista).
A cada nova evidência, a rede de influência do banqueiro Daniel Vorcaro se mostra mais extensa e mais politicamente sensível.
DO PÚLPITO ÀS MANOBRAS FINANCEIRAS
Antes de tentar transformar o Banco Master em potência, Daniel Vorcaro vivia uma realidade bem diferente. Ele começou como pastor ligado à igreja de André Valadão — pastor de extrema direita, em Minas Gerais — longe do eixo financeiro paulistano.
Depois migrou para o mercado imobiliário, onde construiu as primeiras conexões que o levariam às finanças.
Em 2017, comprou o falido Banco Máxima — prestes a sofrer intervenção do Banco Central (BC) — e assumiu o controle.
Dois anos depois, rebatizou a instituição como Banco Master e adotou uma estratégia agressiva de alavancagem.
O modelo incluía venda de CDBs sem lastro e operações de risco elevado, enquanto sua vida de ostentação ganhava destaque.
O CÍRCULO POLÍTICO DA EXTREMA DIREITA
A ascensão de Vorcaro no universo político não foi acidental. Ele se aproximou justamente de figuras decisivas da extrema direita e de partidos do chamado Centrão.
Entre os aliados mais próximos estão:
- Artur Lira, ex-presidente da Câmara;
- Ciro Nogueira, senador e líder do PP;
- Antônio Rueda, presidente do União Brasil.
Esses nomes aparecem em fotos, eventos e registros de convivência contínua com o banqueiro.
Lira, por exemplo, passou a frequentar o mercado financeiro por portas abertas pelo próprio Master.
A FAMÍLIA VORCARO E A ROTA DOS BILHÕES
A investigação da CVM também alcançou o núcleo familiar do banqueiro. Foram identificados indícios de crime em um aporte de R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão teria passado por empresas ligadas à irmã de Daniel, Natália Vorcaro.
Natália é casada com o pastor e operador financeiro Fabiano Zettel, sócio do fundo Moriah. Zettel foi o maior doador individual da campanha de Tarcísio: aportou R$ 2 milhões.
Essa conexão familiar amplia a interseção entre religião, mercado financeiro e financiamento político.
SOCIEDADE COM A EX-MINISTRA DE BOLSONARO
Outro elo relevante é o sócio de Vorcaro, Augusto Lima, também preso na operação. Lima é casado com Flávia Arruda, ex-ministra de Jair Bolsonaro e figura central da direita brasiliense.
O casal integra o mesmo grupo político orbitado por Lira e Ciro Nogueira. Com isso, é clara a presença do Master no núcleo duro do bolsonarismo.
TARCÍSIO, DOAÇÕES E PRIVATIZAÇÃO DA EMAE
No centro da política paulista, as conexões também se multiplicam. Os R$ 2 milhões que Tarcísio recebeu de Fabiano Zettel durante sua campanha — teria que dar "retorno financeiro aos pastores banqueiros.
Eleito, um dos primeiros atos de governo de Tarcísio foi promover a privatização da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), vendida por R$ 1,04 bilhão.
E ironicamente quem comprou a empresa foi a Letsbank, parte do conglomerado do Master, chefiada por Zettel o doador mais generoso da campanha de Tarcísio. Após sucatear a Emae ao mercado, a estatal, sob comando dos banqueiros pastores passou a aplicar R$ 160 milhões em CDBs.
O episódio é uma "ponta solta" no trânsito político-financeiro do governador.
GOVERNADORES EM ROTAS PARALELAS COM O MASTER
A lista de governadores de extrema direita conectados ao banco é extensa. Três deles se destacam pela profundidade dos vínculos:
-
Cláudio Castro (RJ): direcionou mais de R$ 1 bilhão do Rioprevidência ao Master, mesmo alertado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio.
-
Ibaneis Rocha (DF): permitiu que o Banco de Brasília S.A (BRB) injetasse quase R$ 2 bilhões no banco e apoiou sua compra — barrada pelo BC.
-
Ratinho Júnior (PR): usou o Master para estruturar a privatização da Copel Telecom.
A recorrência da instituição em privatizações conduzidas por governos aliados à extrema direita chamou atenção de investigadores.
O GUARDIÃO DO MASTER NO CONGRESSO
Entre os aliados de Vorcaro, o senador Ciro Nogueira aparece como um dos mais atuantes. Em abril, trabalhou para impedir que o Congresso abrisse uma investigação sobre o banco.
O movimento reforçou suspeitas de que havia esforço político para blindar o conglomerado financeiro.
A relação entre o senador e o banqueiro é considerada estratégica pelos investigadores.
CPI, BRB E O FANTASMA DE UMA INTERVENÇÃO NO DISTRITO FEDERAL
Em Brasília, deputados do PSOL e do PSB protocolaram pedido para criação da CPI do Banco Master. O objetivo é investigar a atuação do a Banco de Brasília S.A nas tentativas de compra do Master, barradas pelo BC.
No mesmo contexto, o Banco Central avalia federalizar o BRB, retirando-o do controle do governo do Distrito Federal.
É uma medida raríssima e que remete à onda de intervenções financeiras do início do Plano Real.
IMPACTO POLÍTICO SOBRE TARCÍSIO
Embora não seja o protagonista do escândalo, Tarcísio se vê cercado por personagens e operações que agora estão sob investigação federal.
A proximidade com doadores e o destino de recursos pós-privatização o colocam no centro do debate público.
A imagem de gestor eficiente — que ele tenta preservar — será testada à medida que as investigações avançarem.
