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Resenha Política / Campo Grande

Passar em branco: a Câmara bem que tenta, mas a população não

Vai precisar mais do que boa vontade para que o prefeito Gilmar Olarte consiga tocar os negócios da prefeitura em paz. Ainda que tenha afastado Juliana Zorzo de uma área crítica, tenha colocado o secretário Caco no ostracismo, e tenha designado Rodrigo Pimentel como homem forte de sua administração, o simples fato de mudar ou extrair peças não acobertam a penúria financeira a qual Campo Grande foi levada.

Mais que a oposição na Câmara Municipal, o prefeito agora tem pedido de cassação protocolado na Câmara pelos agentes culturais da Capital. Quando tudo parecia ruim, piorou. Os servidores da Saúde (e a própria população que, em último caso é a mais penalizada) querem a cabeça de quem resolveu cortar os gastos tomando por linha de frente a Saúde Pública, sem bulir com os contratados de tantas áreas que sangram, também eles, o erário. Ninguém sabe quem é, nem o que fazem. É o que se diz. Como gasolina para afagar o fogo na Saúde, a Prefeitura não consegue explicar as várias obras paradas, correndo o risco de perderem as verbas destinadas, e elas se concentram nos pontos mais nevrálgicos para a população: obras de Ceinfs e UBS paralisadas.

Quando o prefeito resolve se distanciar (ainda que geograficamente) do problema, se vê envolvido em outro. Indo de encontro à lei, embarca de carona no jatinho particular de empresário que tem vultosos negócios com a Prefeitura. Só foi, mas voltou em voo de carreira. Nem assim conseguiu sossego, pois não explicou quem pagou a passagem da primeira-dama, que nada tem a fazer oficialmente pela prefeitura, uma vez que os negócios tratados eram no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Se não consegue se distanciar dos problemas, também não se livra deles ficando na sua “Casa”, pois que as saídas são bloqueadas por moradores da Cidade de Deus que cobram a promessa de moradia digna. Ficaram sem energia, sem guarida e foram cobrar ao Prefeito.

A pouco de se afogar em tantos transtornos, Olarte cria canal de comunicação direta.“É impossível administrar a Capital sem ouvir a população, sem ter uma linha direta. A nossa Ouvidoria-Geral tem projetos e ações que encurta esta distância do poder público e os cidadãos”, explica Olarte.

Que não seja apenas um repositório de mensagens, e que elas sejam, ao menos respondidas, uma vez que fica difícil de entender: se ele não responde satisfatoriamente os que lhe cobram diretamente, porque o serviço de, entre outros, registro de reclamações? Ou quer manter sempre e mais distância, ou fechou o cerco e terá reclamações de todos os lados.

O lado bom de tudo isso, para o prefeito, é que a Câmara Municipal resolveu blindá-lo. Caiu na Câmara, o que era reclamação se transforma em desculpas plausíveis e até elogios. A Casa de Leis pode pecar em muitos aspectos, mas não na oratória.

Nem tudo é fogo e mármores quentes

A se acreditar nas promessas de meio de mandato, coisas boas também estão vindo. A parceria feita entre Prefeitura e o Sistema Fecomércio, que inclui Sesc e Senac, de gestão compartilhada da Morada dos Baís. Haverá economia e a boa gestão privada, dando a certeza de que teremos esse importante ícone da cultura sul-mato-grossense, bem cuidada e preservada.

A questão da cultura, parece que sob pressão, e mesmo em época de economia minguante, acendeu a luz do final do túnel. Com o intuito de fortalecer o setor cultural o secretário Rodrigo Pimentel reuniu-se com o secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação de Mato Grosso do Sul (Sectei) Athayde Nery.

Pimentel pediu apoio financeiro do Governo do Estado para viabilizar outras ações culturais em Campo Grande. “Precisamos da participação do Governo do Estado para retomarmos a normalidade na questão cultural em Campo Grande. Para isso, solicitei ao secretário Athayde Nery a viabilização de recursos estaduais, via convênios, para a Fundac. A participação do Governo neste processo é muito importante para o município”, explicou.

Sem ainda contornar os gargalos administrativos, a prefeitura deu um grande passo para resolver o gargalo no trânsito da rotatória das avenidas Nelly Martins e Mato Grosso e abriu licitação que prevê a instalação de 10 semáforos nas áreas de intervenção equipados com controladores que regularão o tempo de duração do verde e do vermelho, conforme o fluxo de veículos.

Para respirar um tanto, a prefeitura de Campo Grande vai licitar nas próximas semanas os quatro lotes do Corredor Sudoeste do transporte coletivo, a primeira obra do PAC de Mobilidade Urbana orçada em R$26 milhões.

O projeto de Mobilidade Urbana tem um curso total de R$ 116 milhões, abrangendo a criação de três corredores do transporte coletivo (Sudoeste, Sul e Norte) numa extensão de 61,1 km, cobrindo uma malha de integração dos terminais Morenão, Bandeirantes, Aero Rancho, General Osório e Nova Bahia. Todo este trajeto será recapeado, incluindo avenidas como Assaf Trad, Gury Marques.

Serão construídos quatro novos terminais (Parati, São Francisco, Cafezais e Tiradentes), ampliado o Terminal Morenão, além da construção de um viaduto na rotatória da avenida Interlagos com Gury Marques, orçado em R$ 27,8 milhões; instalação de 500 abrigos (ao custo de R$ 3,2 milhões)

E se o problema é o caixa vazio, a prefeitura deve evitar mais despesas constantes decorrentes das cheias. Olarte esteve em reunião com o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi e garantiu R$ 270 milhões  para obras de drenagem, e deverá por fim aos problemas de drenagem nas sete regiões da Capital.

Eleições

Desse jeito fica dividida a torcida da deputada Mara Caseiro (PTdoB) que transferiu seu domicílio eleitora para a Capital. Se Olarte não conseguir equacionar os problemas que enfrenta, será um oponente fraco para as eleições 2016; se conseguir essa proeza, caso venha a ganhar as eleições (depois das eleições de 2012, tudo é possível), Mara administrará uma cidade com menos problemas.

Câmara Municipal

Com os protestos constantes contra a Prefeitura, a Câmara ganhou visibilidade, mais pelo fato de haver sido descoberta como espaço público para o exercício da cidadania, e menos pelo que se espera dela em defesa do cidadão, uma vez que a blindagem em torno dos desacertos do executivo chega a parecer uma comédia de ficção.

Mas a coisa começa a se ajustar e as ações meritórias conseguem apoio unânime dos vereadores, como as parcerias feitas com particulares com contrapartida para o município. Ainda que não seja um negócio maravilhoso, é um ganho. Na sabedoria dos empresários, a Câmara também soube usar a máxima: Melhor 10% de alguma coisa do que 100% de coisa nenhuma.

E, se aprovado o projeto de Chiquinho Telles (PSD) e Paulo Siufi (PMDB), ganha a tão cobrada transparência total, e os projetos serão votados nominalmente para que a população saiba que, primeiro, os vereadores estão sabendo o que votam, depois, saberão quem vota o quê, e se a favor ou contra a população.

Ainda restou um pé a queimar no mármore quente: a mudança na Lei Orgânica da Câmara Municipal de Campo Grande, que beneficiou o vereador, na época, Elizeu Dionízio (SD), será investigada pelo MPE(Ministério Público Estadual), por suposta irregularidade.

De tudo, enfim, torcemos pelo melhor tanto no executivo quanto no legislativo. Se no período entre eleições não temos força, e se pouco se pode quando alguns vereadores se arrogam o papel de lideres do prefeito, que o Ministério Público olhe por nós.