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AVISO

'Parem de destruir a natureza ou teremos pandemias piores', alertam cientistas

Se a destruição da natureza não tiver um fim, é provável que doenças ainda mais mortais e destrutivas atinjam a humanidade no futuro, de forma mais rápida e frequente.

Desmatamento e exploração desenfreada da natureza interferem no surgimento de pandemias, relatam cientistas - Pixabay

“Há uma única espécie responsável pela pandemia de Covid-19: nós”. E, se a destruição da natureza não tiver um fim, é provável que doenças ainda mais mortais e destrutivas atinjam a humanidade no futuro, de forma mais rápida e frequente. O alerta vem dos principais especialistas em biodiversidade do mundo.

“Assim como nas crises climáticas e de biodiversidade, as recentes pandemias são uma conseqüência direta da atividade humana - particularmente nossos sistemas financeiros e econômicos globais, baseados em um paradigma limitado que valoriza o crescimento econômico a qualquer custo”, diz o grupo de cientistas em artigo publicado nesta segunda-feira.

O texto é assinado pelos professores Josef Settele, Sandra Díaz e Eduardo Brondizio, que lideraram o estudo sobre a “saúde planetária” mais abrangente já feito, publicado em 2019 pela Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES). Peter Daszak, que prepara a próxima avaliação do IPBES, também escreveu o artigo.

Nele, os especialistas dizem que este pode ser só o começo de um ciclo de doenças, mas que “temos uma pequena janela de oportunidade, para superar os desafios da crise atual, para evitar semear as sementes das futuras”.

Os pesquisadores afirmaram que o “desmatamento desenfreado, expansão descontrolada da agricultura, agricultura intensiva, mineração e desenvolvimento de infraestrutura, bem como a exploração de espécies selvagens” criaram o que classificaram como uma “tempestade perfeita” para a propagação de doenças.

Segundo o grupo, essas ações levam a surtos globais de doenças ao colocar mais pessoas em contato e ao entrar em “conflito com animais”, dos quais 70% das doenças humanas emergentes se originam.

Urbanização e viagens

No caso do coronavírus, há dois fatores importantes, dizem: a urbanização e o crescimento explosivo das viagens aéreas pelo mundo, o que fez com que um vírus inofensivo nos morcegos asiáticos levasse “sofrimento humano incalculável”, além de interrompesse economias e sociedades em todo o mundo.

Diante disso, alegam que seja provável que as pandemias futuras “ocorram com mais frequência, se espalhem mais rapidamente, tenham maior impacto econômico e matem mais, se não tomarmos muito cuidado com os possíveis impactos das escolhas que fazemos hoje".

No artigo, destacam ainda que as iniciativas de recuperação econômica implementada pelos países durante esta pandemia devem incluir o fortalecimento à proteção ambiental. E exigir mudanças das indústrias para que considerem a conservação da natureza em seus processos.

Investimento em saúde

Os cientistas chamam atenção para a necessidade de financiar e adequar programas de vigilância e serviços de saúde em países com maiores riscos diante de pandemias. "É um investimento vital no interesse de todos para evitar futuros surtos globais", destacam no artigo.

Destacam ainda que os investimentos feitos hoje nestes sistemas de saúde mais fragéis serão ainda superiores do que os possíveis prejuízos que pandemias futuras possam causar.

"Podemos sair da crise atual mais fortes e resistentes do que nunca, com ações que protegem a natureza, para que a natureza possa ajudar a nos proteger", concluem.