19 de abril de 2024
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ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

Delegada que pediu busca e apreensão no Planalto foi retirada do caso

Denisse Ribeiro investigava atos antidemocráticos e sofreu interferência direta da direção geral da Polícia Federal

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A direção geral da Polícia Federal interveio no trabalho da delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro, que investigava atos antidemocráticos e pediu busca no Planalto. Ela buscava provas de que o governo distribuía dinheiro para canais bolsonaristas que estimulavam um golpe.

Essa decisão foi tomada duas semanas após seu pedido, ao Supremo Tribunal Federal (STF), para que fosse realizada busca e apreensão na sede do governo federal.

Segundo levantou o portal de notícias UOL, o pedido para a realização da segunda fase da ação foi feito em 25 de junho de 2020, sendo que os investigadores mantinham como foco a busca por provas de que agentes públicos distribuíram dinheiro do governo para canais bolsonaristas.

Esses canais seriam responsáveis por estimular movimentos na internet e nas ruas pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo, e a volta do AI-5 (Ato Institucional número 5), o mais duro dos anos da Ditadura Militar (1964-1985).

Estavam no alvo de Denisse Ribeiro a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que funciona dentro do Planalto, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, os endereços do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e um canal bolsonarista no YouTube.

Segundo apurou o UOL, em material replicado por diversos sites de notícias, oito dias após o pedido ser enviado ao STF, Jair Bolsonaro teve uma reunião com o então ministro da Justiça, André Mendonça, de acordo com a agenda oficial de 2 de julho. Em 6 de julho, o titular da pasta se encontrou com o diretor-geral da PF na época, Rolando Alexandre de Souza.

A transferência, por ordem de Alexandro de Souza, aconteceu em 9 de julho e foi feita pelo diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Igor Romário, Com isso o caso saiu das mãos de Denisse e foi para o Serviço de Inquéritos (Sinq), que também funciona na sede da PF.

Na época, Rolando apontou que a saída de Denisse do caso não teve relação com o pedido de buscas feito por ela. "Alexandre de Moraes (...) é o presidente do inquérito e, se existe alguém que não admitiria qualquer interferência, seria ele. Se ele não se importou com base em tudo que foi dito e explicado, o que dirá os outros", disse.

A pedido da corporação, a policial fez um relatório parcial das investigações que incluía, também, a informação sobre a sua saída. O documento foi remetido ao relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes. Mas já existia uma ordem do magistrado para que ela e outros delegados fossem mantidos no inquérito dos atos antidemocráticos. As buscas, porém, nunca foram realizadas.

Souza disse que, apesar de o primeiro despacho ordenar a troca de setor e de delegados do caso, Denisse conduziria as investigações da Operação Lume, mas em outro setor. "Ela iria junto: o inquérito iria para o Sinq, com ela junto", afirmou. "Só que ela não quis ir pro Sinq", complementou.