Na manhã desta 2ª feira (10.mai.2021), três seguranças do supermercado Atakadão Atakarejo e mais quatro homens foram presos, suspeitos de estarem envolvidos nas mortes de Bruno Barros da Silva, 29, e seu sobrinho, Yan Barros da Silva, 19, no dia 26 de abril, em Salvador.
O enredo narra que Bruno e Yan foram flagrados por seguranças furtando pacotes de carne no supermercado Atakadão Atakarejo, no bairro de Amaralina. Ambos foram encontrados mortos no porta-malas de um carro com tiros e sinais de tortura, no bairro da Brotas.
Não houve um registro de boletim de ocorrência por parte do "Atakarejo" e a principal suspeita, segundo informações da Folhapress, é que tio e sobrinho tenham sido entregues por seguranças do supermercado a traficantes do bairro, que ficaram responsáveis pela execução.
Hoje (10.mai) foi deflagrada a Operação Retomada, com cerca de 200 policiais civis, militares, agentes da inteligência da Secretaria de Segurança Pública e do Departamento de Polícia Técnica, que realizaram incursões por Salvador, nos bairros do Nordeste de Amaralina, Mata Escura e Fazenda Coutos, e na cidade de Conceição do Jacuípe.
Ainda houve o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na sede do Atakadão Atakarejo, onde foram apreendidos computadores e outros equipamentos.
De acordo com a Polícia Civil, quatro pessoas foram presas no logo no início da manhã, sendo um dos seguranças e três suspeitos, com prisão temporária. Ainda por volta das 10h30 (pelo horário de Brasília), mais dois seguranças e um suspeito de envolvimento com o tráfico foram presos.
Andréa Ribeiro é diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegada responsável, e não informou a existência de outros mandados de prisão a serem cumpridos.
"A ação visa cumprir os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão e trazer aos autos elementos novos que possam nos ajudar na elucidação do crime", disse a delegada através da Secretaria de Segurança Pública da Bahia.
Segundo apurado pelo portal G1 Bahia, os seguranças mentiram no depoimento do caso, em um primeiro momento e pediram R$ 700 para liberar as vítimas. De acordo com a delegada, outra vítima de violência física em circunstâncias parecidas no ano passado também foi ouvida.
Em seu relato a jovem, de apenas 15 anos, conta que foi espancada, além de ter o braço cortado e perfurado com barra de ferro depois de furtar produtos no supermercado Atakarejo. Ela sobreviveu pois conta que conseguiu fugir.
"Começamos a perceber que a ação era algo muito padrão dentro do estabelecimento, não foi uma atuação direta nesse caso que culminou no duplo homicídio. Nós conseguimos identificar, a partir da comparação entre a fala deles [seguranças], o depoimento deles, e a ação anterior a essas falas, de que eles não estariam falando a verdade", detalhou a delegada Andréa Ribeiro.
Também o Ministério Público do Estado da Bahia, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa da Bahia e a seccional local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acompanham o caso.
Dez dias após o assassinato de Bruno e Yan o Atakarejo lançou uma nota de repúdio, manifestando solidariedade à família das vítimas. Hoje, o supermercado apresentou uma segunda publicação onde informa que: "não comenta decisões judiciais e vai continuar colaborando com as autoridades competentes para que o fato policial seja esclarecido o mais rapidamente possível".
Em sindicância interna os seguranças foram afastados até o esclarecimento dos fatos. "A empresa reafirma o compromisso com o seu código de ética e conduta e que jamais irá tolerar qualquer ato de violência".
RACISMO E ÓDIO
Ainda na 3ª feira passada (04.mai.2021), segundo apurado pela Folhapress, o secretário da Segurança da Bahia, Ricardo Mandarino, reconheceu que há componentes de racismo e de ódio nas mortes de Bruno e Yan.
"Trata-se de um delito resultado desse conceito vil, tosco, desumano, deturpado de que 'bandido bom é bandido morto'. Há, nessa ação abjeta, um componente forte de racismo estrutural e ódio aos pobres. Na cabeça dessa gente torpe, todo pobre e preto é bandido", afirmou o secretário.
Entidades do movimento negro de Salvador têm realizado protestos cobrando apuração do crime e punição para os culpados.
Em nota, a Polícia Militar informou que tomou conhecimento de que teria ocorrido um possível furto no supermercado. Ainda, segundo apuração da mídia local, funcionários teriam negado o fato, apesar da rede não anunciar quem são esses funcionários que negaram o que aconteceu e o motivo.
"Ouvi muitos gritos, como se estivessem agredindo os dois rapazes. Muito, muito, muito mesmo. Quando estava saindo, eu vi muitas pessoas armadas, umas 10 a 20 pessoas armadas e vi o portão abrindo, e os dois rapazes pedindo por favor para não deixar levarem eles", disse.
** (Com informações agência Folhapress e Portal G1)