FEMINICÍDIO | CAMPO GRANDE (MS)
Ódio do marido e inércia de testemunhas: Natali levou mais de 15 facadas
Vítima implorou: 'Pelo amor de Deus, para! A gente tem uma filha'
Natali Gabrieli da Silva de Souza, de 18 anos, foi atingida por mais de 15 facadas desferidas pelo marido Cleber Corrêa Gomez, de 30 anos, às 5h do sábado (1.jul.23), na Rua Leopoldina de Queiroz Maia, no Bairro Parque do Lageado, em Campo Grande (MS).
Para a polícia, a jovem foi vítima do ódio de seu companheiro e da inércia de testemunhas.
“Muita gente não acredita que o autor vai ter uma maldade tão grande de fazer uma barbaridade dessa. Porque o que aconteceu com a Gabrieli nesse final de semana, para quem vê o corpo dela na situação mutilada que estava. Uma testemunha nos disse que ela gritava: ‘pelo amor de Deus, para! A gente tem uma filha’. E ele estava com muito ódio, é um crime de muito ódio, da forma como ele mutilou o corpo da vítima, sabe? Então, assim, acredito que as testemunhas que estavam no local se tivessem tentado interferir, teriam evitado isso”, disse a delegada responsável pelo setor de investigação de crimes de feminicídio, Analu Lacerda Ferraz, em coletiva à imprensa nesta 2ª feira (3.jul.23), na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), na Capital sul-mato-grossense.
Como mostramos aqui no MS Notícias, Natali foi morta após uma confraternização regada a bebida na casa em que vivia com o feminicída.
Ao lado de Analu, a delegada titular da Dema, Elaine Benicasa, disse que o ódio de Cleber está configurado.
“O próprio local e as fotos do corpo nós podemos perceber que foram mais de 15 facadas mutilando a vítima, o que retrata mais uma vez um crime de ódio, que é que caracteriza os crimes de feminicídios, onde o autor possui ódio em razão da condição de ser mulher”, observou Benicasa.
Analu esclareceu que o ciúme obsessivo de Cleber levou ele a quebrar o celular de Natali, o que deflagrou uma briga, seguida de agressões, perseguição e do feminicídio.
“Estava tendo uma festa no local dos fatos, antes, entendeu? Então, todos eles tinham ingerido bebida alcoólica. As agressões, pelo que a gente observou no local e pela reconstituição, teve discussão do casal anterior, ele quebrou uma garrafa de cerveja na cabeça dela ainda dentro de casa, ela saiu correndo na rua pedindo socorro e ele esfaqueou a vítima na rua com mais de 14 facadas”, detalhou Analu.
Cleber foi preso em flagrante por uma equipe do Grupo de Operações e Investigações (GOI). Levado à Deam, ele preferiu permanecer em silêncio.
Familiares do autor foram ouvidos pela polícia, mas a intenção da delegacia é nesta tarde ouvir os familiares da vítima, pois o irmão e cunhada do autor, que estavam no local do crime, nada fizeram para impedir o assassinato. “Hoje existe uma cultura na nossa sociedade que as pessoas costumam dizer que em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher, né? Então, as pessoas tendem a ficar inerte e não agir, e evitar esse tipo de situação. Porque, acredito que se as pessoas que estavam no local tivessem intervindo, nesse tipo de situação, não teria acontecido da forma que aconteceu”, disse Analu.
Anteriormente, havia a informação de que Natali foi perseguida com a filhinha do casal nos braços, mas o irmão de Cleber negou a informação. “A gente ouviu uma testemunha que é o irmão do autor. Segundo essa testemunha, a criança não estava no colo da mãe no momento dos fatos”, apontou Analu.
Familiares de Cleber teriam alegado que Natali era ciumenta e que isso teria deflagrado a briga. A delegada desqualifica esse tipo de depoimento. “É muito fácil diante de uma situação dessa se tentar colocar a culpa na vítima, né? Que a vítima que desiquilibra, que a vítima que é ciumenta, que a vítima que começou a discussão, mas quem acabou morta foi a vítima, né? Com 14 facadas, e não o autor”, rebateu Analu.
No mesmo sentido, Benicasa disse que ainda que a mulher fosse ciumenta, nada justifica o ato de Cleber. “Não há justificativa para se tirar a vida de ninguém. Independentemente das alegações desses autores, de ciúmes, de na verdade ele ser a vítima de um possível relacionamento abusivo, não há justificativa alguma de se cometer um feminicídio, então há de sempre lembrar disso”.
Para as delegadas, a oitiva dos familiares de Natali, agenadada para acontecer na tarde desta 2ª feira, deve trazer detalhes de como era o relacionamento do casal antes do crime.Há informações de que frequentemente Natali era agredida pelo esposo em razão de ciúmes. Benicasa alertou para o fato de que, entretanto, não havia nenhuma denúncia feita por Natali contra o feminicída. “A vítima não possuía nenhum boletim de ocorrência registrado, mais uma vez zero registro de ocorrência. De nenhum tipo, na verdade, muito menos de violência doméstica”, lamentou a investigadora.
Benicasa e Analu reforçaram a importância de as mulheres, em qualquer sinal de relacionamento abusivo, denunciar a situação à Deam.
SERVIÇO
Casa da Mulher Brasileira. Rua Brasília, lote A, quadra 2, s/ nº - Jardim Imá - Campo Grande (MS). Telefone: (67) 2020-1300.
