INDONÉSIA
Corpo de Juliana Marins é resgatado após 7h de operação no Monte Rinjani
A trilha do Monte Rinjani já registrou ao menos 180 acidentes e oito mortes
O corpo da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, foi resgatado nesta 4ª feira (25.jun.25) no Monte Rinjani, na Indonésia, após mais de sete horas de operação conduzida por equipes da Agência Nacional de Busca e Resgate (Basarnas).
Juliana desapareceu no sábado (21.jun.25) após se separar de um grupo de cinco turistas durante uma trilha no segundo maior vulcão do país.
Seu corpo foi encontrado na 3ª feira (24.jun.25), a mais de 600 metros abaixo da trilha principal, em uma área de difícil acesso.
A morte causou comoção mundial e deflagrou questionamentos sobre a segurança nas trilhas internacionais de alta dificuldade.
Especialistas, montanhistas e turistas com experiência no local apontam falhas graves que podem ter contribuído para a tragédia. “Após a entrega oficial do corpo pela Basarnas ao hospital, o processo de repatriação ou procedimentos posteriores ficarão a cargo das autoridades e da família”, afirmou o chefe da Basarnas, Marechal do Ar TNI Muhammad Syafi’i.
Segundo ele, o local onde Juliana foi encontrada dificultou o resgate e prolongou a operação.
Inicialmente, o corpo foi levado até o vilarejo de Sembalun e de lá transferido de avião para o hospital Bayangkara.
Três equipes participaram da ação, incluindo membros do esquadrão Rinjani, especializado em operações de salvamento em montanhas.
Um montanhista voluntário registrou parte da descida do corpo e relatou as dificuldades no terreno. “Meus sentimentos pela morte da montanhista brasileira. Não pude fazer muito, só consegui ajudar desta forma . Que suas boas ações sejam aceitas por ele. Amém!”, escreveu em uma rede social.
A operação enfrentou neblina intensa, variações bruscas de temperatura e obstáculos naturais durante o trajeto.
FALTA DE EXIGÊNCIA DE EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA
Turistas relataram que não há obrigatoriedade de itens básicos como cobertor térmico, luvas ou casacos.
“Não tem obrigação de equipamentos de emergência. Hoje você faz qualquer prova aqui em Itatiaia, você tem que levar cobertor, casaco, luva, gorro. Lá (na Indonésia) não, eles não exigem nada”, disse a triatleta e montanhista Isabel Leone.
ABANDONO NA TRILHA
Juliana se sentiu cansada e parou para descansar, mas o guia do grupo seguiu à frente antes de retornar para procurá-la. “A atitude do guia de se separar de um ou outro participante está incorreta. Se começaram em grupo, precisam terminar em grupo”, afirmou a montanhista Aretha Duarte.
“Ela não deveria ficar sozinha em momento algum. Cabe ao guia adaptar o ritmo ao mais lento”, completou.
FALTA DE PREPARO DOS GUIAS
Segundo relatos, muitos guias atuam sem equipamentos adequados, levando pouca água e comida.
“A precariedade dos guias lá é grande. Vários andando descalço, levando peso absurdo, pouca água, pouca comida”, afirmou Leone.
TERRENO INSTÁVEL E CLIMA EXTREMO
O Monte Rinjani tem histórico de acidentes. Desde 2020, foram registradas 190 ocorrências, com nove mortes e 180 feridos.
“É muita chuva, frio intenso e condições bem traumáticas”, contou o cinegrafista Claudio Carneiro, que gravou no local.
Leone, que também esteve lá, declarou: “Hoje eu vejo o risco que eu passei. Me comove muito pensar que poderia ter acontecido comigo".
RESGATE LENTO E DESORGANIZADO
Drones localizaram Juliana ainda no sábado, mas as equipes só conseguiram alcançá-la três dias depois.
“O tempo pode fazer a diferença entre a vida e a morte”, alertou Aretha Duarte.
A primeira tentativa de resgate falhou por falta de corda longa o suficiente para chegar até ela.
INFORMAÇÕES DESENCONTRADAS
Durante os primeiros dias, houve confusão na comunicação com a família.
A informação de que Juliana teria recebido água e comida foi desmentida por autoridades brasileiras no dia seguinte.
USO TARDIO E LIMITADO DE TECNOLOGIA
Drones com câmera térmica foram usados, mas não tiveram precisão suficiente para auxiliar a tempo.
Internautas e especialistas questionaram o preparo técnico das equipes de resgate.
RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA CONTRATADA
A empresa responsável pela trilha não teria oferecido suporte emergencial imediato, segundo especialistas.
“Ela contratou uma agência e estava esperando uma rede de apoio com pessoas certificadas”, afirmou Duarte.
OBSTÁCULOS DIPLOMÁTICOS E LOGÍSTICOS
O pai de Juliana enfrentou atrasos para chegar à Indonésia, por conta do fechamento do espaço aéreo no Oriente Médio.
A distância entre os países dificultou a articulação entre embaixadas, governo e equipes locais.
Juliana Marins era natural do Rio de Janeiro, morava em Niterói e era formada em publicidade pela UFRJ.
Atuava também como dançarina de pole dance e buscava novas experiências em viagens internacionais.
