28 de março de 2024
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CURANDEIRISMO | PROXALUTAMIDA

Bolsonaro dá entrevista à rádio, mente sobre CoronaVac e indica novo 'medicamento'

Voltou a defender o chamado tratamento precoce, indicou novo "remédio" e ocultou detalhes

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Jair Bolsonaro (sem partido) criticou ontem (17.ago) a vacinação do estado de São Paulo com o imunizante Coronavac. E entrevista à Rádio Capital Notícia Cuiabá (MT), mentiu que "quem tomou Coronavac está morrendo".

"Olha o que está acontecendo com a Coronavac, ninguém tem coragem de falar. Gente que tomou as duas doses, foi infectada e está morrendo. Por que ela está morrendo? Porque acreditou nas palavras do governador de São Paulo que disse que quem tomasse as duas doses da Coronavac e for infectado jamais morrerá e a pessoa fica em casa, achando que tomou as duas doses e não vai morrer e acaba morrendo", disse. 

A declaração é mentirosa, pois segundo cientistas, as vacinas não têm 100% de eficácia contra a Covid-19, assim como qualquer outra vacina ou tratamento de saúde existente. Bolsonaro postou o vídeo da entrevista editado em seu canal no YouTube.  

A proteção é maior para impedir quadros graves de Covid-19, hospitalizações e mortes, mas a proteção pode ser consideravelmente menor para a transmissão ou infecção assintomática.

Mesmo vacinados os indivíduos podem contrair o vírus, adoecer e morrer, embora em frequência muito menor do que os não vacinados. Essa sempre foi a explicação científica, ignorada por Bolsonaro para tentar criar uma nova 'narrativa' à população.  

Na entrevista, Bolsonaro também se defendeu de afirmações de que o governo decidiu tardiamente a compra de vacinas para o enfrentamento à pandemia. Segundo ele, os imunizantes só foram comprados após estarem disponíveis e com aprovação da Anvisa.

"Quanto às vacinas, o nosso governo tomou todas as providências. Não existia vacina para comprar ano passado, bem como no início do ano não tinha vacina disponível para todo mundo. Tirando os quatro países que produzem vacina, o Brasil está a mais a frente. Eu sempre fui contra comprar vacina sem a certificação da Anvisa", disse. A fala também é mentirosa, pois, no momento em que as vacinas foram ofertadas ao Brasil, principalmente as 11 ofertas feitas pela Pfizer, ignoradas pela gestão bolsonarista, já havia disponibilização em todo o mundo.  

Bolsonaro ainda voltou a defender o chamado tratamento precoce, do qual está sendo acusado de charlatanismo e curandeirismo.

"Quando eu falo em tratamento precoce, a grande maioria tomou ivermectina e hidroxicloroquina. Tem outro produto, lógico que não tem comprovação cientifica, a proxalutamida. Busquei uma maneira de atender o povo, junto com médicos. Então, não é que eu sou um charlatão, curandeiro, nem inventei nada. Eu dei uma alternativa", argumentou. Apesar disso, o gestor se cercou de médicos, uma minoria, que adota os medicamentos para tratar bactérias, e não vírus, o caso do Sars-Cov.  

Apesar de mentir sobre a liberação da Anvisa às vacinas, Bolsonaro não citou na entrevista que a aplicação da proxalutamida contra a Covid-19, precisa de aval de agências regulatórias como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a FDA (o equivalente nos EUA).

Ao contrário de outros medicamentos que Bolsonaro prescreve sem qualquer base científica para lidar com a doença, como a cloroquina e a ivermectina, a proxalutamida ainda não foi descartada como ineficaz nesta pandemia.

Seu uso não teve ainda nenhum estudo publicado em uma revista científica de prestígio. A prática estabeleceu que todo resultado de pesquisa apresentado por cientistas seja revisado por outros especialistas. A rechecagem dos dados feita por pares dá mais solidez ao trabalho.