08 de dezembro de 2025
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LÍDER BRASILEIRO

Lula reforça soberania do Brasil: "Queremos paz, não ser reféns dos EUA"

Em entrevista à CNN, presidente critica medida unilateral de Trump e defende solução comercial com base no diálogo. Casa Branca reage e afirma que Trump "não quer ser imperador do mundo

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta 5ª feira (17.jul.25) que o Brasil está aberto ao diálogo com os Estados Unidos, mas não aceitará medidas unilaterais como as tarifas de 50% impostas recentemente pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros. “O Brasil aceita negociação, mas não imposição”, declarou o presidente, durante entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional.

Lula expressou surpresa com o anúncio das tarifas, especialmente pelo fato de o tema estar em negociação entre os dois países há meses. Segundo ele, o governo brasileiro chegou a enviar uma proposta formal aos EUA em maio, após diversas rodadas de conversa, mas não recebeu resposta oficial — apenas o anúncio público das sanções no site da presidência americana.

“Foi uma surpresa. Estávamos negociando desde março. No dia 16 de maio, enviamos uma carta com nossa proposta. Em vez de resposta, veio uma publicação com as tarifas”, relatou o presidente. Ele ainda criticou os argumentos utilizados na carta americana, que, segundo ele, contém “inverdades”, como a alegação de que o Brasil causa prejuízo comercial aos EUA. “Nos últimos 15 anos, os EUA tiveram superávit de US$ 410 bilhões em relação ao Brasil”, afirmou.

REAÇÃO DA CASA BRANCA

Mais cedo, a imprensa americana repercutiu outra fala de Lula, na qual o presidente brasileiro afirmou que não quer que o país se torne “refém dos Estados Unidos” e que Trump “não foi eleito para ser imperador do mundo”.

A declaração levou a uma resposta direta da Casa Branca. Durante coletiva de imprensa nesta quinta, a porta-voz Karoline Leavitt afirmou que “o presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo”. Segundo ela, Trump é “um presidente forte dos Estados Unidos da América e também é o líder do mundo livre”.

Leavitt também defendeu as novas tarifas, alegando que estão em consonância com os interesses do povo americano e justificadas por questões comerciais e ambientais. Segundo ela, o Brasil apresenta “regulações digitais que prejudicam empresas americanas de tecnologia e inovação” e “fraca proteção à propriedade intelectual”.

A porta-voz também criticou a política ambiental brasileira: “A tolerância do país com o desmatamento ilegal coloca produtores, fabricantes e agricultores americanos em desvantagem competitiva”, afirmou.

MULTILATERALISMO, SOBERANIA E PAZ

Durante a entrevista, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com o multilateralismo, o comércio justo e a governança global. Disse ainda que, caso o impasse não seja resolvido por meio do diálogo, o Brasil poderá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) ou aplicar a Lei da Reciprocidade aprovada pelo Congresso Nacional.

“Vamos utilizar todas as palavras do dicionário tentando negociar. Se não der, vamos à OMC, sozinhos ou com apoio de outros países”, afirmou.

Ao falar de Trump, Lula evitou classificá-lo ideologicamente. “Eu não vejo o Trump como presidente de direita. Eu vejo como presidente dos Estados Unidos. Foi eleito e tem o respaldo do povo americano”, declarou. Segundo o presidente brasileiro, o momento exige diálogo e respeito à soberania de cada país.

RELAÇÕES INTERNACIONAIS E MEIO AMBIENTE

Lula também comentou o papel do Brasil em fóruns multilaterais como o BRICS e destacou o trabalho de sua gestão na abertura de novos mercados. “Em dois anos e meio, abrimos 379 novos mercados para produtos brasileiros”, afirmou. Ele também defendeu maior liberdade nas transações comerciais dentro do bloco: “O BRICS não foi criado para brigar com o norte”.

Na agenda ambiental, Lula afirmou que o Brasil já reduziu o desmatamento na Amazônia em 50% e reiterou o compromisso de atingir desmatamento zero até 2030. Fez ainda um convite ao presidente norte-americano: “Espero que o presidente Trump venha à COP30, que vai ser no coração da Amazônia”.

GEOPOLÍTICA, ONU E PAPEL PELA PAZ

Questionado sobre os conflitos internacionais, Lula defendeu uma atuação mais ativa da ONU nas guerras da Ucrânia e de Gaza, criticando o que chamou de falta de representatividade na governança global atual. Ele cobrou ações mais eficazes de líderes globais, inclusive de Trump: “Espero, sinceramente, que o presidente Trump, ao invés de vender mais armas, seja mais cuidadoso para tentar fazer a paz”.

Ao final da entrevista, Lula negou que haja uma crise nas relações bilaterais. Segundo ele, o Brasil segue disposto a negociar. “O Brasil gosta de negociar em paz. É assim que eu ajo, e acho que é assim que todos os presidentes deveriam agir.”