COMBATE AO GOLPISMO
Arrastão da Polícia Federal vai encurralar mais golpistas em MS
Bolsonaristas radicais e até o mandato de um campeão de votos estão entre os atingidos pela 'Operação Pátria Livre'
Se depender da Polícia Federal, todos os envolvidos nas tentativas de golpe de Estado e de atentados contra a democracia brasileira ao longo dos últimos meses responderão por seus crimes. Dos acampamentos em frente aos quartéis e depredações do patrimônio ao financiamento e aos discursos de apoio a estas ações, os longos braços da polícia estão alcançando pessoas que direta ou indiretamente agrediram o estado democrático de Direito.
Com este objetivo, a PF deflagrou em janeiro a Operação Lesa Pátria e chegou à sua 16ª edição na 3ª feira (5.set.23), cumpridos 53 mandados de busca e apreensão em sete estados: Minas Gerais (26), São Paulo (12), Paraná (6), Santa Catarina (3), Tocantins (2), Ceará (2) e Mato Grosso do Sul (2).
A PF cumpre a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, de responsabilizar os apoiadores e financiadores dos atos de 8 de Janeiro, data principal das manobras golpistas bolsonaristas.
No exercício de suas obrigações institucionais e fiel às investigações em curso, a PF alinhou entre os alvos desta operação em Mato Grosso do Sul duas pessoas abertamente ligadas ao bolsonarismo e a mandatos de extrema-direita. Uma delas é assessora parlamentar do deputado estadual mais votado em 2022, Rafael Tavares, do PRTB, partido do ex-candidato ao governo, Capitão Contar, um dos principais porta-vozes locais do extremismo direitista.
O outro alvo da PF, o administrador de empresas Rodrigo de Souza Lins, de 40 anos, também é filiado ao PRTB. Suplente de deputado estadual, afirma ser interlocutor da Democracia Cristão no Estado Apresenta-se no Facebook como criador de conteúdo digital, membro da Organização Brasileira dos Patriotas (Abrapa), presidente e fundador do Instituto Nacionalista de Direita do Brasil e diretor dos Guardiões MS, "um grupo de militares da reserva e civis da sociedade brasileira, com objetivo de zelar pela Constituição, tudo envolvendo o conservadorismo e o tradicionalismo".
O contraditório — chega até a ser irônico — é a diferença abismal entre o discurso e a prática. Investigado pela Polícia Federal e alvo de mandado de prisão, Lins garante ser contra a anarquia e o vandalismo e afiança que suas manifestações sempre estão "dentro da lei e da Constituição". Dele, porém, não se tem conhecimento de qualquer protesto contra as manifestações que pediam intervenção militar, anulação das eleições, deposição do presidente Lula, manutenção de Jair Bolsonaro no poder e tudo que resultou na violenta quebradeira de 8 de janeiro, em Brasília.
BALANÇO
Até a 15ª fase, a "Operação Pátria Livre" contabilizava 78 mandados de prisão e 277 mandados de busca e apreensão cumpridos e 17 inquéritos instaurados. Estes resultados decorrem do posicionamento firme e independente da PF e de seu diretor-geral, o gaúcho Andrei Augusto Passos Rodrigues.
Aos 52 anos, com graduação em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e mestre em Alta Gestão em Segurança Internacional pelo Centro Universitário da Guarda Civil da Espanha (CUGC) e Universidade Carlos III de Madrid (UC3M), Rodrigues é delegado há mais de 20 anos. Foi chefe das delegacias de Repressão a Entorpecentes em Manaus (AM), Repressão a Crimes Fazendários em Porto Alegre (RS) e do Aeroporto Internacional em Brasília (DF).
Integrante da comissão que elaborou o Manual de Planejamento e Gestão de Operações da Polícia Federal, Andrei Rodrigues foi assistente da Diretoria-Executiva, como Chefe de Segurança (nas Eleições de 2010) da então candidata Dilma Rousseff à Presidência da República. Responsável pela segurança da Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, também foi coordenador-geral de Polícia Fazendária e chefe da Unidade de Gestão Estratégica da Diretoria de Tecnologia da Inovação da Polícia Federal.
Na campanha presidencial de 2022 foi responsável pela segurança do candidato Lula. No Gabinete de Transição, integrou os Grupos de Trabalho de Justiça e Segurança Pública e de Inteligência Estratégica. Sua posse na direção-geral da PF ocorreu em 10 de janeiro passado, dois dias depois da vandalização golpista no Distrito Federal. Ao tomar posse e depois de ser saudado pelo ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança, Rodrigues fez este compromisso:
"Nossa atuação será pautada pelo estrito cumprimento da lei e pelos princípios do Estado Democrático de Direito. "Este será o Norte inafastável na gestão das investigação, que serão coordenadas com base no trinômio da qualidade da prova, da autonomia investigativa e na responsabilidade, com absoluto rigor em relação a desvios ou personalismos. (...) Os projetos pessoais, interferências ou pressões não irão pautar qualquer ação institucional. Absolutamente nenhum desvio de finalidade será tolerado".
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