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Datafolha: 54% dizem que Bolsonaro iria fugir, mas 33% alegam 'surto'

Extremistas de direita inventam uma desculpa atrás da outra para não assumir que o presidiário Jair Bolsonaro tentaria fugir

Datafolha confirma que o povo brasileiro está ao lado de Alexandre de Moraes, exceto lunáticos bolsonaristas que apoiam a tese fraca de 'surto paranoico' que teria levado Jair Bolsonaro a tentar derreter a tornozeleira eletrônica. Foto: Isac Nóbrega/PR.

Uma pesquisa Datafolha divulgada nesta 2ª feira (8.dez.25) escancarou aquilo que parte do país já intuía: a narrativa de Jair Bolsonaro de que teria danificado a própria tornozeleira eletrônica durante um “surto paranoico” convenceu apenas um terço da população. Segundo o levantamento realizado entre 2 e 4 de dezembro, 54% dos brasileiros acreditam que o ex-presidente preparava uma fuga, alinhando-se à avaliação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em contrapartida, 33% aceitaram a tese do surto, enquanto 13% sequer souberam opinar — um silêncio que, diante da situação, fala quase tão alto quanto os números principais.

QUEM AINDA PASSA PANO PARA O PRESIDIÁRIO

Os índices mostram um padrão claro: quanto mais alinhado ao bolsonarismo, maior a disposição para engolir a versão do “surto”.

Entre evangélicos, a adesão chega a 46%. Nas regiões Norte/Centro-Oeste e Sul, 40% concordam com a justificativa. E o dado mais previsível — porém ainda assim revelador — aparece entre os eleitores de Bolsonaro no segundo turno de 2022: 66% aderem à narrativa, como um ato reflexo de fidelidade política.

Do outro lado, nordestinos e eleitores de Lula lideram a percepção de que Bolsonaro tentava fugir — ambos com 66%.

A divisão aponta para algo além do episódio: um núcleo radicalizado que aceita qualquer explicação servida pelo ex-mandatário presidiário, por mais improvável que seja, mesmo diante de fatos, laudos e imagens que mostram o contrário.

CRONOLOGIA DE UMA MADRUGADA DESASTRADA

O caso que alimenta a discussão de "surto" começou pouco depois da meia-noite, em 22 de novembro. Bolsonaro estava em prisão domiciliar e monitorado por tornozeleira desde agosto, por descumprir medidas cautelares enquanto aguardava o desfecho do julgamento que o condenou a 27 anos e 3 meses de prisão.

Às 0h07, o equipamento disparou alerta de violação. Ao chegar à casa do ex-presidente, agentes encontraram a tornozeleira com marcas de dano — feitas com ferro de solda. Bolsonaro tentou explicar que teria batido em uma escada e, depois, que apenas “testava” o dispositivo.

A justificativa não resistiu ao menor escrutínio. Moraes entendeu que havia risco real de fuga, especialmente após a convocação de uma “vigília de oração” feita pelo senador Flávio Bolsonaro para aquela mesma noite — um movimento incomum até mesmo para os padrões do bolsonarismo.

A VERSÃO DO ‘SURTO’ E O DESCONCERTO DA MILITÂNCIA

Diante da repercussão, bolsonaristas ensaiaram primeiro o discurso de perseguição religiosa. Minutos depois das imagens da perícia virem à tona, a narrativa mudou: Bolsonaro teria surtado.

Alguns influenciadores passaram dias descrevendo o episódio como um “estado emocional fragilizado”, enquanto advogados aventaram uma mistura improvável de medicamentos como explicação.

A tentativa de blindagem soou mais como improviso desesperado do que como defesa racional.

O próprio Bolsonaro, em audiência de custódia, alegou paranoia — desta vez com a ideia de que a tornozeleira teria uma escuta embutida. A estratégia, porém, não convenceu o ministro Moraes, que manteve o ex-presidente preso.

FRANCA DESORGANIZAÇÃO

Desde a prisão, Bolsonaro permanece na superintendência da Polícia Federal, recebendo visitas regulares da família, com Michelle Bolsonaro à frente. A rotina discreta contrasta com a sequência de reveses jurídicos e políticos que isolaram o ex-presidente e fragilizaram ainda mais sua base.

Enquanto isso, a pesquisa Datafolha indica que até setores tradicionalmente simpáticos ao discurso do ex-capitão começam a se distanciar — ou, no mínimo, a hesitar.

O episódio da tornozeleira não é só mais um capítulo na longa lista de crises que cercam Bolsonaro: é o retrato de uma liderança acuada, uma militância dividida e uma opinião pública cada vez menos disposta a comprar narrativas improvisadas e delirantes do agora presidiário.