16 de abril de 2024
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"REPARAÇÃO DE DANOS"

Bolsonaro recua e seguidores fiéis ficam no limbo; 'calor do momento'

Bolsonaro notou que havia feito algo "fora das 4 linhas"

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Em 7 de setembro, o Presidente Jair Bolsonaro fez o percurso do Palácio da Alvorada até o local de hasteamento da Bandeira Nacional no tradicional Rolls-Royce, destaque ao motorista, tricampeão de Fórmula 1, Nelson Piquet e a escolta feita pela Cavalaria dos Dragões da Independência. Na ocasião, ao falar com seus apoiadores, Bolsonaro ao invés de pedir união ao país e também tentar corrigir o racha institucional entre poderes que ele vinha promovendo, disse ao povo que os ataques à democracia estariam vindo do STF e incitou seus apoiadores a seguirem ele para uma luta travada por Bolsonaro para proteger seus aliados e familiares de que sejam investigados. "Todos nós temos responsabilidade. Todos nós temos o dever de lutar para aquilo que se faça de melhor para cada um de nós", explicou. Mas não foi neste local que Bolsonaro disse algo que mais tarde lhe faria redigir a Declaração à Nação (no final do texto) e deixar seus apoidores fiéis e até os radicais no limbo

Ao sair da manifestação em Brasília, Bolsonaro foi à São Paulo, na Avenida Paulista, onde outros apoiadores o esperavam ansiosos. Eles gritavam palavras de ordem, bradavam por intervenção militar e derrubadas dos poderes Constitucionais, fechamento do Congresso e fizeram isso usando cartazes em português e inglês, alegando, que assim estariam protegendo a Constituição, porém ignorando parte de trechos do documento constitucional. Íntegra do discurso em Brasília.  

CITADOS:

Ao chegar na manifestação na Paulista, Bolsonaro foi aclamado, além dele, seus filhos e até Fabrício Queiroz, foram tietados pelos apoiadores que ignoram quaisquer crimes pelos quais estejam sendo investigados, Fabrício, inclusive, esteve no local usando tornozeleira eletrônica. Ao subir no palanque, Bolsonaro iniciou os ataques aos ministros do STF com ofensas de baixo calão, tendo como alvo principal o magistrado Alexandre de Moraes, que comanda o inquérito das fake news. "Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou. Ele tem tempo ainda […] de cuidar da tua vida. Ele para nós não existe mais. Liberdade para os presos políticos. Fim da censura. Fim da perseguição aqueles conservadores, aqueles que pensam no Brasil", disse o presidente sendo ovacionado.  

RELAÇÕES:

Acontece, que quando saiu daquele reduto, Bolsonaro notou que havia feito algo "fora das 4 linhas", que tanto fala. Ele estaria cometendo crime de responsabilidade ao dizer que não respeitaria uma decisão do Supremo ou de um dos ministros, mas isso só passou a preocupar o Chefe do Executivo Federal quando no dia seguinte [8.set] o presidente do Supremo Tribunal Luiz Fux, discursou apontando o crime e qual o poder deveria investigá-lo. "Ofender a honra dos ministros, incitar a população a propagar discurso de ódio contra a instituição do Supremo Tribunal Federal e incentivar o descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas, ilícitas e intoleráveis em respeito ao juramento constitucional que todos nós fizemos ao assumirmos uma cadeira nesta Corte”, introduziu. Um pouco adiante no discurso, Fux completou: “O Supremo Tribunal Federal também não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do Chefe de qualquer dos Poderes, essa atitude, além de representar atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional”, cravou.  

Daqui em diante Bolsonaro passou a buscar seus auxiliares e nesta quinta (9.set) ou recuava do que havia dito naquele palanque ou responderia à Justiça por mais um crime, então numa Carta à Nação, Bolsonaro disse. "Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum", disse, em um documento com 10 tópicos, que fazem nada mais do que pedir perdão pelo que disse durante o ato do 7 de setembro. Veja a íntegra do documento abaixo.  

Declaração à Nação

No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.

2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.

3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.

4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.

6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.

7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.

8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.

9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.

10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Jair Bolsonaro

Presidente da República Federativa do Brasil.