O pré-candidato à presidência da República Sergio Moro (Podemos) confessou nesta sexta-feira (28.jan.22) que pegou ao menos R$ 3,7 milhões para dar consultoria à empresa americana Alvarez & Marsal.
A revelação aconteceu durante transmissão ao vivo na internet, ao lado do deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP), seu aliado político.
Moro havia dito, anteriormente, que os valores recebidos "não chegavam nem perto" dos milhões que vinham sendo cogitados.
O ex-juiz disse que recebeu salários brutos de US$ 45 mil durante os 12 meses em que prestou serviços para a empresa. A quantia, na verdade, foi arredondada. Documentos disponibilizados depois pelo ex-juiz apontam que o salário mensal seria de US$ 45,8 mil.
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Além disso, o ex-ministro do governo do presidente Jair Bolsonaro também disse que recebeu um bônus de US$ 150 mil. No entanto, como não permaneceu até o fim do seu contrato de dois anos, precisou restituir a empresa. Moro então divulgou em reais os valores devolvidos: R$ 67 mil.
Moro ainda afirmou que recebeu uma parte dos rendimentos no Brasil, pois atuou pela unidade brasileira da consultoria enquanto aguardava a emissão de seu visto de trabalho para os Estados Unidos.
Um dos documentos mostrados pelo ex-ministro chama a atenção por apresentar inconsistência. Em um dos contra-cheques emitidos nos Estados Unidos, a situação civil de Sergio Fernando Moro é descrita como "solteiro" — ele é casado com Rosângela Wolff Moro. A assessoria do ex-juiz informou à Folha se tratar de um erro material de cadastro.
O pré-candidato desafiou seus principais concorrentes na eleição de outubro a divulgarem valores e questões polêmicas, motivos de questionamentos junto à opinião pública. O ex-juiz pediu que o presidente Jair Bolsonaro (PL) explique valores que teriam sido recebidos por ele e por seus familiares no esquema da rachadinha.
"Acho que o Bolsonaro, se eu puder dar uma sugestão para ele, ele poderia abrir as contas lá do gabinete parlamentar dele, do filho dele, do Queiroz", afirmou Sergio Moro sobre o presidente cujo governo fez parte.
"A proposta é a seguinte: vamos aqui fazer um desafio. Eu vim aqui abrir as minhas contas, absolutamente transparente. Vamos ver se o Bolsonaro abre as contas da 'rachadinha' dos gabinetes parlamentares, dele e das pessoas ligadas a ele. Vamos ouvir esclarecimentos sobre aquele cheque, que não são da primeira-dama, são para ele mesmo", completou.
Também pediu esclarecimentos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre montantes supostamente recebidos da empreiteira Odebrecht, por meio do caso envolvendo o sítio de Atibaia.
"E do Lula, vamos levantar o mesmo desafio: vamos abrir as contas lá do sítio de Atibaia, como é que a Odebrecht e a OAS fizeram aquelas reformas, quem pagou. Vamos aí também saber do Lula quanto ele recebeu e como recebeu por aquelas palestras, que é muito mais do que eu recebi", completou. Apesar disso, o ex-juiz investigou as contas de Lula e não conseguiu produzir provas que sustentasse suas acusações e agora Lula coleciona 24 vitórias na justiça.
Os valores recebidos tornaram-se no último mês foco de pressão sobre o pré-candidato e devem dar munição para ataques durante o período de campanha eleitoral. Isso porque a Alvarez & Marsal foi nomeada judicialmente para administrar a recuperação judicial de firmas que foram alvos da Lava Jato — em sentenças assinadas pelo próprio ex-juiz.
O Tribunal de Contas da União (TCU) instaurou procedimento, sob a relatoria do ministro Bruno Dantas, para averiguar suposto conflito de interesse na atuação de Moro. Além disso, parlamentares iniciaram um movimento para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a questão. A iniciativa, no entanto, perdeu força nos últimos dias.
O ex-juiz da Lava Jato assinou contrato para trabalhar como consultor do braço investigativo da Alvarez & Marsal em novembro de 2020, sete meses após deixar o Ministério da Justiça do governo Jair Bolsonaro. Ele permaneceu prestando consultoria até o fim do ano passado, quando deixou a função e se filiou ao Podemos com o intuito de disputar a presidência da República.
O processo no TCU foi iniciado em dezembro do ano passado, após representação do subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado.
O subprocurador queria esclarecimentos sobre eventuais prejuízos aos cofres públicos a partir da prática ilegítima denominada "revolving door" — na qual servidores públicos atuam como consultores na iniciativa privada nas mesmas áreas em que costumavam atuar anteriormente.