24 de abril de 2024
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FARDAS MANCHADAS

Viúvas de 64 se assanham com instabilidade e 'rabiscam' nova aventura golpista

Militares de pijama e na garupa de Heleno ameaçam a democracia e tentam intimidar o Brasil

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Que os democratas brasileiros levem a sério e não durmam no ponto: as ameaças de um novo golpe contra a democracia - a exemplo de 1964 - já tomaram forma e começam a traçar seus caminhos. O enredo sinistro tem como principais protagonistas o presidente Jair Bolsonaro, alguns de seus ministros – os da chamada ala ideológica -, militares que fazem parte do governo e da reserva, além de empresários e lideranças evangélicas.

A preparação de um cenário favorável ao golpe inicia-se com a desconstrução gradual das bases institucionais e políticas da
democracia no Brasil. Um dos sinais evidentes desse processo foi a série de agressivas e orquestradas manifestações de rua com
palavras-de-ordem contra o Congresso e o Judiciário, além dos apelos pela intervenção militar e a reivindicação de instrumentos de exceção, como o Ato Institucional Nº 5 (AI-5).

RASTILHO

Na sexta-feira, 22, o rastilho golpista foi aceso. E por um militar do escalão superior do governo, o general Augusto Heleno,
ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, autorizou a
divulgação do vídeo da polêmica reunião ministerial de 22 de abril e despachou para a Procuradoria-Geral da República (PGR) três
notícias-crime, um ato de praxe, para o procurador-chefe Augusto Aras se manifestar sobre os pedidos feitos por deputados da oposição de apreensão dos celulares do presidente e de seu filho Carlos Bolsonaro.

Sem meias palavras, e em nota oficial “à Nação”, Heleno reagiu com uma clara ameaça à divulgação do ofício protocolar de Mello: ““O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude [hipótese de apreensão do celular do presidente] é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis
para a estabilidade nacional”.

No dia seguinte, já com a lambuzeira feita, Heleno tentou desconversar, afirmando não ter ameaçado ninguém e sequer ter acenado
com intervenção golpista. Mas já era tarde. O texto que assinou e distribuiu não deixa dúvidas, tanto que um grupo de 90 oficiais da
reserva do Exército divulgou uma nota de apoio a ele. E também em tom de ameaça, os signatários atacam o STF e a imprensa, além de insinuar uma "guerra civil". O general Heleno agradeceu – o grupo é formado por vários de seus ex-colegas da turma de 1971 na Academia Militar das Agulhas Negras.

PENDORES GOLPISTAS

São termos pesados, como se o grupo sentisse uma sensação de elevado incentivo para disseminar seus pendores golpistas.
“"Faltam a ministros, não todos, do stf (grafado em letras minúsculas), nobreza, decência, dignidade, honra, patriotismo e senso
de justiça. Assim, trazem ao País insegurança e instabilidade, com grave risco de crise institucional com desfecho imprevisível, quiçá, na pior hipótese, guerra civil".

Em tom policialesco, o texto adverte: "Alto lá, 'ministros' do stf!" e diz que os autores do texto se mantém calados "em nome da paz no
País". Sem citar nomes, os militares sugerem que ministros são delinquentes e que, por culpa do STF, que decidiu contra a prisão após condenação em segunda instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está livre.

No mesmo compasso, e quase ao mesmo tempo, Jair Bolsonaro saia às ruas mais uma vez, e repetindo provocações anteriores: circulando sem usar máscara entre as pessoas, produzindo aglomerações, abraçando, carregando crianças no colo, posando para várias selfies.  Quem se lembra, na reunião de 22 de abril, cujo vídeo foi publicado na íntegra sexta-feira passada, Bolsonaro foi enfático e objetivo ao afirmar ser muito fácil dar um golpe no País.

Novos capítulos desta novela, cada vez mais perigosa e imprevisível, vão acontecer esta semana. O empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro e um dos principais colaboradores de Jair Bolsonaro na campanha presidencial, fez um acordo de delação premiada e está fazendo revelações bombásticas ao Ministério Publico. Já pediu segurança pessoal para prevenir-se de ameaças que vem recebendo por contar detalhes de ações criminosos de antes, durante e depois da campanha supostamente envolvendo Jair Bolsonaro e seus filhos.