26 de abril de 2024
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Paulo Duarte: “No PT, ônus e bônus são responsabilidades coletivas”

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Depois de surpreender os petista de Mato Grosso do Sul, o prefeito de Corumbá, Paulo Duarte, concedeu uma entrevista exclusiva ao MS Notícias e explicou, em detalhes, os motivos que o levaram a optar por se manter na presidência do P até final de mandato mesmo contra vontade de alguns membros do partido, que enxergam dificuldade na conciliação de duas funções complexas como comandar prefeitura de Corumbá e gerenciar atividades do PT no Estado.

Duarte conta que decidi continuar presidindo o Diretório Regional do PT porque, entre outros motivos, respeita os filiados, tem consciência dos grandes desafios da legenda – como as eleições municipais de 2016 – e também atendeu a apelos de dirigentes nacionais e da militância local. Na entrevista, Paulo Duarte conta como desistiu de renunciar à presidência e faz uma análise da derrota de Delcídio Amaral nas eleições passadas. “No PT, a história é feita de vitórias e de derrotas eleitorais, mas todos esses resultados são absorvidos como responsabilidade coletiva”.

MS Notícias - Quais os motivos determinantes que levaram o senhor, após as eleições, anunciar que deixaria a presidência do PT? Foram as cobranças do resultado eleitoral, as demandas acumuladas na Prefeitura ou ambas as coisas?

Paulo Duarte- A minha primeira ideia nunca, em momento algum, foi levando em consideração o resultado das eleições, até porque o resultado alcançado é de responsabilidade do conjunto do partido. Apenas, naquele momento, avaliei outras demandas.

MS Notícias- Agora o senhor resolve continuar presidente e diz que atende apelos de dirigentes nacionais. O chefe de gabinete do presidente Rui Falcão não confirma e diz que o senhor foi até lá para comunicar sua permanência. Quais os motivos que determinam sua permanência?

Paulo Duarte - Ao tomar essa decisão levei em consideração o pedido da Direção Nacional do PT que, em reunião, em São Paulo, solicitou a minha permanência no cargo. Outros fatores também me fizeram tomar essa decisão: os pedidos de membros da Executiva Estadual, os desafios que o partido terá neste ano de 2015, a sua reestruturação interna, o respeito pelos membros do partido, a continuidade dos planos e ações e, principalmente, os resultados obtidos no último pleito eleitoral. Para essa decisão também levei em consideração o respeito às instâncias partidárias que me conduziram à presidência no ano passado, em razão de um entendimento de todas as forças do partido, além, é claro, o meu perfil e temperamento, que não me permitem deixar de enfrentar os desafios que me são apresentados. Sigo, com muita força, foco e fé, como diz o samba de Paulinho da Viola: “Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar”.

MS Notícias – Como recebeu a decisão dos prefeitos petistas que fizeram acordo com os tucanos na Assomasul? Eles devem passar por processo disciplinar ou até ser expulsos?

Paulo Duarte – Entendo que o PT deve fazer, prioritariamente, uma avaliação do comportamento dos seus filiados que não fizeram a campanha de Delcídio e da Dilma. Essa é uma questão de grande importância e o encaminhamento foi feito pelo Partido logo após as eleições.

MS Notícias- Qual a postura apropriada para o PT quanto ao governo do tucano Reinaldo Azambuja: uma relação cordial bem calibrada, como faz o deputado Vander Loubet, ou praticar a oposição sem trégua, como apregoa Zeca do PT?

Paulo Duarte – Vou responder o óbvio! A postura, não apenas da bancada, como de todos os membros do PT, é mais que natural, que é fazer oposição! As pessoas confundem o “fazer oposição” com brigas e baixarias. Eu, por exemplo, como deputado estadual, sempre fiz oposição ao ex-governador André Puccinelli, porém nunca faltei com o respeito que lhe era devido como pessoa e como governante do Estado. O trabalho de oposição é ficar de olho nas ações de quem está à frente do governo de qualquer ente público, é fiscalizar e cobrar, sem baixarias.

MS Notícias - Quando e como serão preenchidos os cargos federais no Estado e como a direção do PT vai tratar desse processo, sabendo que a bancada congressual tem preferências distintas?

Paulo Duarte – O preenchimento dos cargos federais é uma discussão que deve passar pelo Partido e pela Bancada Federal.

MS Notícias - O que o PT precisa fazer para retomar a condição de partido competitivo e afirmar-se como melhor alternativa de poder nas eleições de 2016?

Paulo Duarte – Aqui em Mato Grosso do Sul o PT é, sim, competitivo. Perdemos as eleições, mas obtivemos resultados importantes. O senador Delcídio alcançou uma votação expressiva e a principal diretriz para 2016 é fortalecer o partido para disputar com chances os principais colégios eleitorais.

MS Notícias - Há quem afirme que administrar uma cidade de mais de 100 mil habitantes e presidir um partido presente nos 79 municípios são incompatíveis e o acúmulo de demandas pode afetar os resultados. De que forma o senhor vai responder a esses desafios?

Paulo Duarte – Os desafios sempre fizeram e fazem parte da minha vida e da minha rotina. A gestão do partido deve ser feita de forma participativa e colegiada, principalmente dos membros da Executiva Estadual.

MS Notícias - O deputado Zeca opina que sua permanência como presidente não será boa para o partido. Ele argumenta que sua eleição para presidente foi um equívoco, porque seria fruto de um acordo para um projeto que levou 10 anos e fracassou, que era levar Delcídio Amaral ao governo. Qual sua opinião sobe essa análise do Zeca?

Paulo Duarte – Sou presidente eleito do PT e prefeito da cidade que sempre deu ao Partido dos Trabalhadores as mais expressivas votações inclusive na última eleição, quando o senador Delcídio obteve 76% dos votos válidos, a maior votação de todo o Estado. O próprio ex-governador Zeca teve, como candidato a deputado federal, aqui na cidade branca, mais de 10 mil votos. Portanto, agora é hora, passada a eleição, de trabalhar pela população. Não é o momento de colocar questões pessoais ou de grupos, questões que só enfraquecem o partido. Não tenho dúvida alguma que todos esses fatores fazem do Zeca um aliado fundamental para que continuemos promovendo os avanços reivindicados pela população e, ao mesmo tempo, fortalecendo e capacitando o PT como força política comprometida com as grandes causas da sociedade. Temos em nossa história partidária um contexto em que as vitórias e os insucessos eleitorais serviram para afirmar os acertos e apontar os erros. Mas derrota eleitoral nunca será um fracasso se todos os militantes assumem o ônus e o bônus de construir um partido de massas, capaz de enfrentar e de vencer os grandes e legítimos desafios da população.