16 de maio de 2024
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CULTURA & CONHECIMENTO

Protagonismo de Glorinha reverenciado em Roda Acadêmica da ASL

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Leve, descontraído, intimista, verdadeiro e edificante – estes são alguns dos adjetivos que resumiriam o acolhimento do público que foi até à sede da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL) na noite de quinta-feira, 25, para mais uma Roda Acadêmica. No evento, as leituras e conversas passearam pela generosa oferta de saberes e construções humanas de Maria da Glória Sá Rosa, a inesquecível professora Glorinha, apresentadas por três acadêmicos que conviveram com ela: Maria Serrano, Américo Calheiros e Henrique de Medeiros.

           Como convidados, os músicos Lenilde Ramos (também escritora) e Paulo Simões e a professora Albana Xavier Nogueira, também alojados no amplo círculo afetivo da homenageada, deram depoimentos emocionados sobre a Professora Glorinha. Na abertura, em uma parceria chancelada com a UFMS (Universidade Federal), a série “Música Erudita” ofereceu aos presentes uma audição especial para a virtuose do violonista, professor e pesquisador musical Evandro Doto. Ele tocou composições de três grandes mestres na área: Geraldo Ribeiro, Aníbal Augusto Sardinha (Garoto) e Levino Albano da Conceição. Os Chás e Rodas Acadêmicas são frutos da parceria entre a ASL e a Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura de Mato Grosso do Sul, pela Fundação de Cultura do Estado. 

           PRESENÇA DE VANGUARDA - Cada apresentador abordou acontecimentos, conversas e trechos nas relações com a professora Glorinha. Os relatos evidenciaram a presença de vanguarda, marcante e assídua, nos momentos mais emblemáticos para a afirmação das identidades e vocações de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “São várias Glorinhas. Dedicou-se à educação e à cultura em seus mais diferentes compartimentos. Abriu horizontes para a arte, criou soluções e fomentou o crescente envolvimento da sociedade, especialmente os jovens, nos universos do conhecimento”, salientou Marisa, que foi sua colega de bancos escolares e com quem participou do primeiro vestibular no Estado.

           Calheiros lembrou da saudável inquietude de Glorinha e de sua obstinada busca por garantias para a produção cultural e pelo mais amplo acesso da sociedade a este bem fundamental. “Ela era professora e tinha um amor por nossa terra desde criança. Depois que chegou de Mombaça, a cearense Glorinha viveu num vai-e-volta constante entre a cidade natal e Campo Grande, onde acabou fixando-se em definitivo”. 

           Medeiros fez suas observações com base em crônica que escreveu para o livro organizado pela escritora Sylvia Cesco, “A Glória Desta Morena”. Ele apontou com ênfase diversos protagonismos que fizeram de Glorinha uma personalidade de imensurável valor histórico, cultural e humanístico. E afirmou, reportando-se à dinâmica interativa de alguém que todos reconheciam pelas virtudes de nunca deixar de propor e construir conhecimentos, cultura, liberdade e afetividade: “Glorinha, como vemos aqui, é aquela que une e reúne”.

           Os convidados capricharam na descrição de singularidades que realçavam a personalidade de Glorinha. Lenilde era vizinha; as famílias de Simões e da professora eram amigas; Albana compartilhava com ela incríveis histórias de avivamento afetivo e artístico-cultural, não só na pesquisa registral, mas nas soluções do ativismo intelectual para o usufruto coletivo. 

           REVOLUÇÃO - “Ela foi audaciosa. Fez uma revolução cultural”, assinalou Marisa. “Seus nove livros são fontes indispensáveis para quem estiver à procura de informações sobre as identidades locais”, emendou Calheiros. “Sua sólida influência é um estímulo que atravessará gerações, sobretudo no aspecto de entender que são a educação e a cultura que acendem as luzes da liberdade”, definiu Medeiros. 
          Glorinha foi de uma polivalência impressionante para os mais variados acervos da história e da produção artístico-cultural. Esteve como criadora ou vanguardista de movimentos musicais um deles, o histórico “Prata da Casa” , nos palcos (criou o teatro Universitário Campo-grandense), no folclore, na dança, nas artes plásticas, no cinema (criou o Cineclube de Campo Grande), na pintura, no artesanato, na literatura, entre outros. 


           Lecionou Português, Francês, Literatura e História da Arte. Fundou a Aliança Francesa de Campo Grande e abriu espaços no rádio e na TV para a divulgação cultural. Publicou nove livros autorais e com parcerias. Entre os muitos títulos acadêmicos, era graduada em Línguas Neolatinas (PUC/SP) e imortal da ASL. Professora universitária aposentada, faleceu em 28 de julho de 2016, aos 88 anos.