O Quilombo Urbano São João Batista terá sua história contada e preservada a partir de um projeto intitulado “Quilombo em Atividade” que começa a ser realizado neste mês de novembro em Campo Grande. O projeto criará um site e registará as memórias e histórias dos habitantes da comunidade, que é constituída por um núcleo familiar de 100 pessoas, moradoras em sua maioria da região do Pioneiros e em bairros como Piratininga e Aero Rancho.
Em cinco meses de trabalho, os realizadores pretendem promover 6 atividades, pesquisa e registro audiovisual, construção de um site sobre o quilombo, e sobre a vivência de Capoeira Angola. Além disso, farão dois cursos — um voltado para professores e outro sobre elaboração de projetos culturais.
A ideia, segundo o pesquisador Marcos Vinicius Campelo é estabelecer uma troca com o quilombo. "Eles estão partilhando conosco seus conhecimentos e queremos partilhar com eles algo que possa ser útil para a comunidade, como o curso de elaboração de projetos que pode contribuir para ampliar as atividades já existentes na Associação Familiar da Comunidade Negra São João Batista (AFCN), a partir da formação de jovens e outros interessados na elaboração e captação de recursos para desenvolvimento de projetos", explicou o pesquisador, que é proponente do projeto.
![As pessoas sendo entrevistada na comunidade](https://cdn.msnoticias.com.br/upload/dn_arquivo/2020/11/foto-3.jpeg)
O site, criado para receber os registros que serão feito por meio de audiografia (junção de áudios-registros com frotografia) será repassado, posteriormente à comunidade dando ênfase ao protagonismo local.
O "Quilombo em Atividade" terá também espaço de debates que serão promovidos a fim de tocar assuntos presentes na rotina social e repercutidos na mídia, como o racismo e a importância do fortalecimento da identidade racial como ferramenta de combate a violência, garantia e promoção de direitos.
HISTÓRIA
A história da Comunidade Negra São João Batista começou a ser contada a partir da matriarca Sr.ª Maria Rosa Anunciação, filha de negros, ex-escravos, cujos ancestrais são originários da Bahia e Minas Gerais.
Maria e família migraram para MS, primeiramente habitando Coxim, mais tarde em 1945, a família veio para Campo Grande em busca de melhores oportunidades.
![Rosana Anunciação, presidente de honra da Associação Familiar da Comunidade Negra São João Batista, sendo entrevistada no Quilombo em Atividade](https://cdn.msnoticias.com.br/upload/dn_arquivo/2020/11/foto-2.jpeg)
No início do século, em 2000, a comunidade fundou a Associação Familiar da Comunidade Negra São João Batista (AFCN). Em 2006, receberam a certificação do quilombo pela Fundação Palmares e desde então vem desenvolvendo inúmeros projetos voltados ao fortalecimento e resgate da cultura afro-brasileira, assim como projetos sociais, que atendem jovens e famílias em situação de risco. “Tudo começou com o sonho do meu pai, Reginaldo, que pensou na constituição da associação e chamou a nossa atenção para trabalhar com as famílias que estavam em situação vulnerável. Então, a formação da comunidade sempre foi voltada à inclusão e valorização, tanto das pessoas quilombolas que são nossos familiares, pessoas que passam pela nossa tradição, quanto de outras pessoas da comunidade do entorno”, diz Rosana, presidente da Associação.
PRESENÇA DA COMUNIDADE
![Marcos Vinicius Campelo, Vanessa Bohn e Rafael de Sá, que fazem parte do projeto Quilombo em Atividade](https://cdn.msnoticias.com.br/upload/dn_arquivo/2020/11/foto-5.jpeg)
Umas das idealizadoras do projeto, a artista visual, Vanessa Bohn explicou que a comunidade é forte e atuante no município de Campo Grande e no estado do Mato Grosso do Sul. “Desenvolvem um importante trabalho de resgate, fortalecimento e perpetuação da cultura e saberes afro-brasileiros”, acentuou.
Vanessa detalha os objetivos do projeto. “A proposta audiovisual é trazer à tona todo esse contexto de vivência e ancestralidade da comunidade, contando a história do Quilombo a partir da história de vida de cada pessoa. Serão captados os depoimentos e realizaremos uma série de fotografias que culminarão na sobreposição de som e imagens trazendo a luz o que chamo de audiografias. Este material irá compor o site do projeto formulando uma espécie de mapeamento poético do Quilombo São João Batista”, finalizou a artista visual.
O projeto foi contemplado com recurso do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC/2019), oriundo da Prefeitura de Campo Grande por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).