18 de abril de 2024
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"QUEM MATOU MARIELLE?"

Sucateado, Gaeco causa desinteresse em promotora do caso Marielle e Anderson

Enquanto Simone Sibilio volta para a atribuição de origem, a Promotoria do 2º Tribunal do Júri, o Gaeco será assumido pelo promotor Bruno Gangoni

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A impossibilidade de manter a equipe de 28 profissionais, somada ao cansaço acumulado em dois anos e meio de investigação, encerrou a passagem da promotora Simone Sibilio pela coordenação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). À frente desta unidade, Simone dividia com a promotora Letícia Emile a condução do inquérito sobre a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Ela chegou a ser convidada pelo novo procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, a continuar no caso, mas pessoas próximas disseram que a promotora preferiu declinar após saber que o Gaeco seria reestruturado e teria uma equipe menor —- inicialmente de seis promotores, mas que poderia crescer após o processo de reformulação.

Enquanto Simone Sibilio volta para a atribuição de origem, a Promotoria do 2º Tribunal do Júri, o Gaeco será assumido pelo promotor Bruno Gangoni, que já trabalha na unidade e teve passagem pelo Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp).

Na madrugada da quinta-feira, de 4 de maio de 2020, o grupo de hackers Anonymus divulgou supostos dados sobre o assassinato de Marielle Franco. Através de um perfil no Twitter, o grupo divulgou um link que apontava para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) como mandante do crime.  

"Não queremos trazer notícias não verdadeiras, não somos nenhum grupo iniciante e nem estamos com o propósito de fama, diferente de todos os grupos brasileiros, aqui nós apuramos os fatos e trazemos conforto e conhecimento sobre o que estão nos escondendo, aqui nós apoiamos todos, nós? Somos negros, asiáticos,  judeus, muçulmanos, lgbt, e toda classe oprimida e desfavorecida! Vocês não estão sozinhos, estamos com vocês", publicou o grupo.

Além do texto explicando o motivo da suposta exposição, dados pessoais de pessoas confirmadas e outras supostamente envolvidas na morte da vereadora estão disponíveis, como CPF, número de cartão de crédito, filiação, telefones e endereço.

Segundo informações do jornal 'O Dia', o grupo de hackers apontou para Flávio Bolsonaro como o integrante da família presidencial que atua junto com uma milícia. A suposta prova seria um documento da Câmara, do deputado Rogério Correia (PT-MG), que pede uma investigação especial para apurar as ações criminosas das milícias do Rio de Janeiro.

Inquérito da Polícia Federal revela que o delegado Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil do Rio de Janeiro, teria recebido R$ 400 mil de milicianos para proteger os reais culpados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes.

Segundo reportagem de Flávio Costa e Vinícius Konchinski, publicada no portal Uol no domingo (10 de novembro de 2020), Barbosa foi citado pelo miliciano Jorge Alberto Moreth – o Beto Bomba – que, em conversa telefônica com o vereador Marcello Sicilliano (PHS), afirmou que Barbosa recebeu dois pagamentos no valor de R$ 200 mil como propina de milicianos. Segundo ele, o dinheiro teria sido entregue pelo inspetor “Marcos” da Delegacia de Homicídios (DH).

“Mas a DH tá junto na sacanagem, né irmão?”, perguntou Siciliano.

“Tá junto porque levaram duzentos cruzeiros na primeira e depois levaram mais duzentos porque viu que ia babar. Então o malandragem lá, o delegado, botou tudo em você junto com aquele rapaz lá que tá preso [referência ao miliciano Orlando Curicica, falsamente acusado de ser o mandante]”, respondeu Beto, no diálogo gravado em fevereiro deste ano.

A promotora do Ministério Público do Rio Carmen Eliza Bastos de Carvalho, que participou da coletiva sobre o caso Marielle Franco na quarta-feira de 30 outubro de 2019, fez campanha para o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro em 2018. Imagens de seu perfil no Instagram, que circulam na manhã da quinta-feira 31 de outubro de 2019 nas redes sociais, revelaram que ela foi uma entusiasta da campanha do então candidato. “Há anos que não me sinto tão emocionada”, escreveu, no dia 1º de janeiro de 2019, quando postou uma imagem da posse do presidente.

Em entrevista à rádio CBN, em 21 de novembro de 2019, o então ministro Sérgio Moro indicou a federalização das investigações do caso Marielle Franco e Anderson Gomes, essa que estava sob jurisdição da Polícia Civil e apontou o nome do presidente por meio do depoimento do porteiro do condomínio, onde Jair Bolsonaro e a família tem apartamentos no Rio de Janeiro. Segundo Moro, a investigação estaria sofrendo fraude o que poderia ser melhor apurado pela Polícia Federal. 

*Com O Globo.