26 de julho de 2024
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SANGROU DEMAIS | PARQUE LAGEADO

Vídeos: Charles morre após se cortar e sangrar por mais de 40 minutos em casa

Samu falou que 'estava indo', diz viúva

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Charles Cabral dos Santos, de 33 anos, morreu às 5h30 desta segunda-feira (29.ago.22), horas após esmurrar vidraças de janelas em sua casa, na Rua Cenira Soares Magalhães, no Parque Lageado, em Campo Grande (MS).

Segundo registro de ocorrência (a íntegra), Charles estava embriagado e após discutir com esposa, se descontrolou e acabou desferindo muros contra duas vidraças, se cortou e perdeu muito sangue. “Ele meteu a porrada na janela da cozinha e da sala, mas o da sala o vidro não caiu tudo, quando ele voltou o braço cortou ali perto do antebraço e passou na veia artéria”, detalhou a viúva, Jaqueline Correia dos Santos, de 40 anos,

Jaqueline contou ao MS Notícias que seu esposo sangrou por mais de 40 minutos à espera do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que falou que ‘estava indo’. “Demorou e não veio, que a gente teve que se deslocar com um carro. A gente saiu gritando no meio na rua pedindo ajuda, apareceu um rapaz foi onde ajudou a gente e colocou ele dentro do carro. Se o Samu tivesse vindo meu marido estava vivo uma hora dessa (sic)”, explicou.

Charles foi levado ao Hospital Regional (HRMS), onde deu entrada com corte da veia artéria e posterior de extremidade distal de braço direito. Na unidade, retornou a consciência externa após 27 minutos, ficando com pressão muito baixa teve 4 ciclos de Paradas Cardiorrespiratórias, e não resistiu.

“A gente ficou esperando mais de 40 minutos e ele perdeu muito sangue. O Samu disse que estava vindo, mas no final, após tudo isso de espera eles disseram que não iriam vir, era 20h30 da noite quando aconteceu. Antes de chegar lá no hospital meu marido estava entrando em óbito, perdeu muito sangue, estamos lavando aqui o sangue que ficou aqui em casa ”, disse Jaqueline revoltada. Ela enviou vídeos da imensa quantidade de sangue que ficou no ímóvel. Veja abaixo:

ATENÇÃO, IMAGENS FORTES!

 

“Eu quero justiça, porque o Samu não veio buscar e por isso meu marido entrou em óbito. Ligamos para a polícia, Corpo de Bombeiros e todos eles falaram que não poderiam nos ajudar”, lembrou Jaqueline.

“Eu cheguei do IML agora e estou lavando a casa agora com a ajuda da minha filha. Ninguém ajudou, isso aí foi uma negligência, a gente demorou lá esperando porque o Samu falou que ia vir, que iria vir... quando um monte de gente começou a ligar, aí que eles foram falar que não iria poder, porque não estavam tendo ambulância no momento”, completou ela. 

“Tem muito sangue pela casa, ele perdeu muito sangue. Ele chegou no hospital em choque, ele estava em choque. Ele não tinha pulsação mais, aí eu comecei a me desesperar. Eles pegaram meu marido e ele teve 3 paradas cardíacas”.

Casal estava há 2 anos juntos. Foto: Arquivo 

Para Jaqueline essa situação acontece com muitas famílias simples nas periferias. "Vou falar, isso acontece com muitas famílias simples que nem nós, e muitas pessoas ficam com medo de falar, de meter a boca. Meu marido está morto por negligência, negligência do Samu”, finalizou.  

O caso foi registrado como morte a esclarecer e será investigado pela 5ª Delegacia Polícia da Capital.

OUTRO LADO

A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau), para oferecer oportunidade de explicação pública da denúncia feita pela viúva de Charles. A assessoria disse: "O Samu recebeu este chamado às 21h02 deste domingo, contudo todas as viaturas estavam em ocorrência, não sendo possível fazer o atendimento imediato". E completou: "Oriento que entrem em contato com o CBM, uma vez que temos a informação de que eles atenderam ao chamado".  

Apesar da afirmação da Sesau, a viúva garantiu que assim que ocorreu o acidente, vários telefonemas foram feitos, após as 20h30 e não as 21h, como afirma a secretaria. Segundo a Sesau, "a informação que temos é que, por volta das 22h40, os Bombeiros atenderam [a ocorrência]", a essa altura, não havia, porém, mas ninguém na casa da família Santos.  

O MS Notícias procurou a assessoria do Corpo de Bombeiro Militar, por meio BM5 (que fala pelo órgão à imprensa), para confirmar se de fato foram feitos chamados e se eles antenderam. Por mensagem, a assesoria do órgão disse que iria responder apenas por e-mail. Diante disso, o MS Notícias enviou as seguintes perguntas ao Corpo de Bombeiros por e-mail: 

  • O chamado foi de fato recebido entre às 20h30 e 21h da noite de 28 de agosto de 2022 para o endereço Rua Cenira Soares Magalhães, no Parque Lageado, em Campo Grande (MS)?
  • Se foram recebidos os chamados, porque nenhuma viatura foi fazer o resgate a tempo de resguardar a vida do cidadão? 
  • Quantas viaturas de resgate há neste momento disponíveis para Campo Grande? 
  • Quantas estavam em uso na noite do acidente que vitimou Charles? 
  • A viúva afirma que essas situações de "abandono" de resgate são comuns nas periferias de Campo Grande, e que as pessoas ficam temerosas em denunciar. Tal afirmação procede?

Por meio de Nota, posteriormente, a Sesau respondeu aos questionamentos da reportagem: 

A equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Campo Grande recebeu o chamado às 21h01 do último domingo (28), contudo todas as viaturas estavam empregadas em atendimento, não sendo possível realizar o socorro imediato, sendo a vítima em questão atendida pelo Corpo de Bombeiros, que informou via sistema o atendimento. 

Ressaltamos que Campo Grande conta hoje com quatro Unidades de Suporte Avançado (USA) e dez Unidades de Suporte Básico (UBS), sendo que todas estavam em ocorrências. A informação de "abandono de resgate em periferias da cidade" não procede, o serviço realiza atendimento em todo e qualquer local do município de Campo Grande, sendo abrangida toda a sua área urbana, incluindo o distrito de Anhanduí.