26 de julho de 2024
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GUERRA | ORIENTE MÉDIO

Israel corta água, alimento e energia de 2,3 milhões de palestinos

Ocidente exalta e financia narrativa israelita; palestinos gritam por brechas

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Países do Ocidente: Estados Unidos, França, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália, emitiram nesta 2ª feira (9.out.23), uma declaração conjunta de apoio a Israel, condenando a reação militar do Hamas e prometendo recursos para Israel 'se defender' e criar condições para um Oriente Médio pacífico e integrado.

As lideranças sustentam que as ações do grupo Hamas não têm justificativa ou legitimidade e que apoiam medidas justas e igualitárias para israelenses e palestinos, reconhecendo as aspirações legítimas do povo palestino.

O governo israelita tem em suas mãos a mídia mundial e consegue vender a narrativa de que deseja igualdade para israelitas e palestinos, mais isso está longe de ser algo parecido com a verdade.  

Apesar do suposto desejo de 'integração', nesta 2ª feira (9.out.23), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, determinou um cerco completo à Faixa de Gaza — e Netanyahu disse que a guerra está apenas começando — em tom de quem almeja vingança contra um povo e não apenas o grupo Hamas.

Além de cercar Gaza, o ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, ordenou o corte do fornecimento de eletricidade, alimentos e água para cerca de 2,3 milhões de pessoas que vivem espremidas na região de 365 quilômetros quadrados. Israel, quer com isso, conquistar um cenário para ocupação total da Faixa de Gaza, pertecente ao povo palestino.  

Imbuídos pelo sentimento israelita, a Comissão Europeia anunciou também nesta 2ª, a suspensão dos fundos aos palestinos até que a avaliação do ataque do Hamas no final de semana seja concluída. A União Europeia é a maior doadora dos palestinos, com 691 milhões de euros (R$ 3,8 bilhões).  

A GUERRA É SANGUE PELO SANGUE?

A mídia mundial encampou a narrativa de que a guerra deflagrada no sábado (7.ou.23), pelo Hamas, é sem objetivo e 'sangue pelo sangue'. Apesar de o governo brasileiro não interferir no conflito, um dos principais veículos de comunicação do Brasil  — a Folha de São Paulo  — defendeu a narrativas anti-hamas, em um editorial com título "Hamas terrorista", publicado no final desta 2ª feira (9.out.23).

SEM MÍDIA PALESTINA 

Uma das primeiras estratégias de Israel, assim que foi deflagrada essa nova etapa de uma guerra que ocorre há 75 anos nos territórios, foi alvejar veículos de imprensa palestinos.  

"Vários jornalistas palestinos foram assassinados em um ataque aéreo israelense contra uma rua que continha escritórios de imprensa a oeste da Cidade de Gaza", contou uma fonte palestina ao enviar fotos de vestes de comunicadores deterioradas. Eis a imagem:  

"Os jornalistas palestinos iriam mostrar a verdade ao mundo. Eles querem evitar isso", escreveu outra fonte palestina.  

Nesta segunda, o jornalista palestino Saed Al-Taweel foi identificado como um dos assassinados em um ataque aéreo israelense em Gaza.

VOZES PRÓ-HAMAS 

O grupo islâmico Hezbollah, do Líbano, e o governo do Irã deram parabéns ao ataque do grupo Hamas à cidade de Tel Aviv. Aliados da organização palestina, as lideranças disseram que o grupo tinha “o apoio divino” para realizar a ação e que o episódio “abriu um novo capítulo” na guerra contra a ocupação israelense dos territórios da Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Libaneses e iranianos são aliados históricos da resistência palestina. Ao lado do Hamas e da Síria, os 2 países compõem o chamado “Eixo de Resistência” contra Israel. “A operação de hoje é um ponto de virada no processo de resistência armada do povo palestino contra os sionistas. Por outras palavras, esta operação abriu um novo capítulo no domínio da resistência e das operações armadas contra os ocupantes. (…) Esperamos que o movimento de resistência consiga obter mais vitórias no caminho para a libertação da Palestina e a realização das aspirações do povo palestino” , afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Nasser Kanaani.

Segundo agências de notícias internacionais, o grupo libanês Hezbollah afirmou que o seu comando militar acompanha as investidas do grupo Hamas e está “avaliando a situação e a operação em curso”. O grupo afirma que o ataque é uma resposta aos “crimes de Israel” por ataques a locais sagrados. “A vontade do povo palestino e o fuzil da resistência são a única alternativa para enfrentar a ocupação” , disse, em nota. 

COMO É VISTO PELO MUNDO?

A Faixa de Gaza é um território palestino autônomo desde 2005, quando Israel retirou todas as colônias judaicas que ocupavam o local. O Hamas controla a região e não há eleições regulares.

Desde o início, o grupo Hamas foi considerado terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia, Japão, Israel e Canadá. A Austrália e o Reino Unido consideram só o braço militar do grupo, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, como terrorista. 

Brasil, Rússia, África do Sul, e outros, não consideram o Hamas uma organização terrorista. 

Historicamente, o governo brasileiro só aceita classificar uma organização como sendo terrorista se ela for considerada assim pela Organização das Nações Unidas (ONU). É o caso dos grupos islamistas Boko Haram, Al-Qaeda e Estado Islâmico — consideradas organizações terroristas pela ONU e portanto também pelo governo brasileiro. Esse critério faz com que o Brasil não mude a sua classificação de entidades consideradas terroristas mesmo quando há alternância de poder em Brasília.

DICA DE ALGUÉM EM GUERRA

Também em guerra contra a Ucrânia, a Rússia — que mantém relações com os países árabes, com o Irã, com o Hamas e também Israel — e defende a criação do Estado Palestino, pede desde sábado, o fim da violência.

"Estamos extremamente preocupados", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. O governo russo acredita que a interferência de terceiros pode aumentar a guerra no Oriente Médio. 

Nesta 2ª feira (9.out.23), pela manhã, em sua conta na rede socila X (antigo Twitter), Peskov criticou a [Organização do Tratado do Atlântico Norte] OTAN, dizendo que as armas enviadas para a Ucrânia, estão sendo usadas por supostos nazistas que atacam Israel. "Bem, amigos da OTAN, vocês realmente entenderam, não é? As armas entregues ao regime nazi na Ucrânia estão agora a ser utilizadas activamente contra Israel. E isso só vai piorar. Esperem mísseis, tanques e, muito em breve, aviões recém-chegados de Kiev no mercado negro", disse. Eis o post.

EUA 

Secretário de Defesa dos EUA,  o general aposentado Lloyd Austin, supervisionou um dos períodos mais brutais do imperialismo dos EUA no Oriente Médio: a Guerra do Iraque. Foto: Secretário de Defesa dos EUA, general aposentado Lloyd Austin, supervisionou um dos períodos mais brutais do imperialismo dos EUA no Oriente Médio: a Guerra do Iraque. Foto: Divulgação

A fala de Moscou ocorre em razão de no domingo (8.out.23), o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, ter ordenado que o navio da Marinha norte-americana USS Gerald R. Ford Carrier navegasse no Mediterrâneo oriental como uma demonstração de apoio a Israel. "Acabei de falar com o Ministro da Defesa israelita, Gallant, para reafirmar o apoio inabalável dos EUA ao direito de Israel se defender. Também lhe forneci atualizações sobre os recursos, incluindo munições, a caminho de Israel para ajudar a atender às necessidades urgentes das FDI", escreveu em sua conta na rede social X. Eis o post: 

A embarcação é o porta-aviões mais modernos da Marinha dos EUA e tem capacidade para cerca de 5.000 marinheiros, um convés para aviões de guerra e cruzadores.

Defendendo os israelistas, o presidente americano, Joe Biden escreveu no X que ao menos 11 americanos foram mortos no conflito. "À medida que continuamos a prestar contas dos horrores do ataque terrorista contra Israel neste fim de semana e das centenas de civis assassinados, vemos a imensa escala e alcance desta tragédia. Infelizmente, sabemos agora que pelo menos 11 cidadãos americanos estavam entre os mortos", disse na noite desta 2ª feira (9.out.23). Eis o post:  

VIDAS PERDIDAS 

Pessoas carregam o corpo de um palestino morto em ataques israelenses, no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 9 de outubro de 2023  Foto: Mahmoud Issa/ReutersPessoas carregam o corpo de um palestino morto em ataques israelenses, no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 9 de outubro de 2023 — Foto: Mahmoud Issa/Reuters

Ao todo, cerca de 1.200 pessoas morreram desde o início do conflito: 900 israelenses e 687 palestinos.

CESSAR-FOGO

Moussa Mohammed Abu Marzouk é membro do gabinete político do Hamas que anteriormente atuou como vice-presidente do ex-líder do Hamas Khaled Meshaal.Moussa Mohammed Abu Marzouk é membro do gabinete político do Hamas que anteriormente atuou como vice-presidente do ex-líder do Hamas Khaled Meshaal.

O Hamas declarou hoje que já está pronto para negociações de cessar-fogo com Israel. Segundo um representante do Hamas, o grupo está aberto a negociações de trégua com Israel porque “os objetivos foram alcançados”.

Porta-voz do Hamas, Mussa Abu Marzouk, disse à Al-Jazeera que o grupo estava aberto a "algo assim" e a "todos os diálogos políticos" que resulte num 'cessar-fogo'. 

MOTIVAÇÕES DO HAMAS

Outra voz do Hamas, Abu Obeida, explicou à comunidade mundial que a Operação Al-Aqsa Flood foi uma resposta à agressão israelita perpetrada contra o povo palestiniano e os seus santuários.

Num discurso televisionado, Abu Obeida descreveu que a ameaça de uma invasão terrestre israelita na Faixa de Gaza era ridícula à luz da forma como as suas tropas se comportaram durante a operação, enfatizando que a Resistência está preparada para todas as possibilidades de defender o seu povo.

Um número estimado de pelo menos 150 reféns são mantidos pelo Hamas. Também nesta 2ª feira (9.out), Abu ameaçou matar reféns se Israel matar mais civis palestinos. “Anunciamos que todos os ataques contra o nosso povo que está seguro nas suas casas sem aviso prévio, infelizmente iremos enfrentar a execução dos reféns civis do nosso inimigo”, alertou. Ele acrescentou que as execuções seriam transmitidas “em áudio e vídeo”.

A jornalista brasileira Heloísa Villela entrevistou o jornalista Ramzy Baroud sobre o conflito Israel x Palestina. De maneira didática, Ramzy explicou o porque de fato os palestinos decidiram regir por meio do Hamas em busca pelos seus direitos. Assista: