26 de julho de 2024
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André distensiona transição e sucessor tem liberdade de ação

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O governador André Puccinelli (PMDB) preparou ao sucessor eleito, Reinaldo Azambuja (PSDB), o melhor contesto para que sejam obtidas as informações necessárias à elaboração da radiografia administrativa que subsidiará as primeiras decisões de governo. O processo de transição não se limitará ao intercâmbio estanque entre a legítima curiosidade de quem entra e os humores de quem sai. A régua da transição será medida no mais alto nível entre os principais protagonistas do processo, Puccinelli e Azambuja.

Segundo Puccinelli – que participará pessoalmente de todo o desenrolar da transição -, compete ao governante, sem prejuízo de sua autoridade e das reservas específicas asseguradas por lei, fornecer ao sucessor todas as informações sobre a realidade administrativa e operacional. Para isso, ele oficializou as delegações de forma estratégica, concentrando as informações (relatórios, prestações de contas, projeções, gráficos e desempenho orçamentário por setor) nas áreas de Gestão, Planejamento, Arrecadação e Jurídico.

Com a experiente e gabaritada Thie Higuchi dos Santos à frente da Comissão, o governador pôs seu melhor staff à disposição dos interlocutores técnicos de Azambuja.  Entretanto, Puccinelli não esgotou seu papel na formalidade da abertura e do manuseio de documentos oficiais sobre a ação administrativa. Ele imprime interessante viés político de convivência em uma relação que chegou a ser traumática quando o tucano, para prejuízo enorme do PMDB, desgarrou-se do partido que tinha a hegemonia dos governos do Estado e da capital.

Os peemedebistas tinham – e têm – motivos de sobra para não dar boa-vida aos tucanos e complicar ao máximo a gestão de quem foi determinante para desalojá-los dos mais importantes postos de mando, a Governadoria e a Prefeitura de Campo Grande. Pior: Puccinelli foi atacado implacavelmente pelo ex-aliado, que deve ter-se convencido da necessidade de "bater" duro no PMDB para provar que representa a mudança. Vingar-se dessa suposta ingratidão parece não ser o desejo de um governador que só tem mais 50 dias para concluir seu  mandato. Ele quer tocar sua música de encerramento no diapasão nobre da política.

Com suas intervenções presenciais no dia-a-dia da transição, Puccinelli transfere ao sucessor informações bastante providenciais e decisivas para certas demandas de ponta, entre as quais de que forma e com quem tratou da renegociação - ou alongamento - do perfil da dívida interna de Mato Grosso do Sul e a maneira como gerenciou algumas questões conflituosas em sua gestão, a exemplo das reivindicações classistas e os impasses fundiários envolvendo, sobretudo, índios e proprietários rurais.

É essencial que, sem prejuízo de seu estilo, o próximo governante saiba como seu predecessor se comportou em situações pontuais. Leve-se em consideração que Puccinelli deixa o Governo em alta na administração e na política. Lidera os votos de dois dos três senadores e de metade da bancada guaicuru na Câmara dos Deputados. Com as portas da administração abertas e livre acesso às informações, Reinaldo Azambuja terá a mais ampla cobertura para plantar seu jeito de governar sem que o Estado sofra grandes abalos na dinâmica que se mostrou vitoriosa nos últimos oito anos.

Redação