26 de julho de 2024
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ELEIÇÕES 2022

Cleyton foi demitido por ser "eleitor de Lula"

Ele é negro, deficiente físico e cipeiro

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Cleyton Silva de Araújo, de 35 anos, tenta se recuperar emocionalmente da penalidade sofrida pelo local no qual trabalhava. O morador de Natal (RN), trabalhava no Supermercado Nordestão, que o demitiu com termo de "justa causa", após o funcionário ter sido visto numa manifestação pacífica durante uma licença médica. 

Advogados trabalhistas afirmam que o trabalhador poderia no máximo ter recebido uma adverstência, mas não poderia receber justa causa por isso. Cleyton alega que ele foi demitido pelo simples fato de admitir ser eleitor de Lula (PT), candidato a presidência. Dirigentes sindicais disseram ao site da Central Única dos Trabalhadores (CUT) que vão recorrer à justiça para reverter a demissão que consideram injusta e ilegal.

Cleyton, é negro, deficiente físico e cipeiro — trabalhador eleito pelos companheiros da empresa para atuar em programas que inibam os riscos no ambiente de trabalho. Ele contou que assina com o nome social tradicional de Doté Olissassi e falou sobre seu recheado currículo e suas inúmeras atividades político sindicais.

Doté é pedagogo, pós-graduado em Gestão Pública Ambiental, produtor cultural, participa do Núcleo Nacional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana e é atualmente presidente do diretório municipal do PT, da cidade de Extremoz (RN).

Segundo ele, a demissão não foi um ato isolado, ele já era perseguido na empresa há algum tempo. “Eu vinha sofrendo retaliações, perseguições e humilhações por parte de clientes e de funcionários que ocupavam cargos acima do meu e isso me acarretou vários processos de adoecimentos e quadros de ansiedade”, contou ao site da Cut. 

O trabalhador estava afastado há 15 dias quando foi a manifestação. Antes, ele havia ficado licenciado por 90 dias pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Para garantir a segurança alimentar e de ambiente seguro de trabalho, entre suas inúmeras atividades, Doté Olissassi participava de campanhas como influenciador da empresa e coordenar da CIPA.

De acordo com ele, as retaliações começaram quando ele decidiu não mais continuar o trabalho de marketing com a rede de supermercados Nordestão. Em seguida, assumiu a função de operador de caixa e foi demitido por justa causa.

O trabalhador, que tem experiência sindical e, portanto, conhece a legislação trabalhista, assim como disseram os advogados, acredita que merecia uma advertência. Para ele, a demissão foi por conta de sua atuação política e por ter atuação de liderança no local de trabalho.

PERSEGUIÇÃO AOS CIPEIROS

“É comum a prática de perseguir, adoecer e demitir funcionários de destaque, principalmente cipeiros, em especial porque pensam politicamente diferente da empresa”, afirmou Marcos Santana, presidente do Sindicato dos Empregados em Supermercados (Sindsuper/RN).

“Quando tomei conhecimento do ocorrido imediatamente mobilizei  sindicalistas, federação e a CUT, pois se tratava de perseguição à saúde de um trabalhador, de assédio moral e devido ao momento político, perseguição política eleitoral. Acionamos o setor jurídico da entidade e estamos seguindo com a ação”, complementou o dirigente.

A presidenta da CUT-RN, Eliane Bandeira, disse que ficou surpresa com o comportamento da empresa, que sequer aceitou dialogar com os dirigentes sindicais após cometer a injustiça.

“Ao tentar dialogar com a empresa tivemos uma péssima recepção enquanto representantes da classe trabalhadora. Fomos mal recebidos, clima de repressão e austeridade, não nos deixaram entrar, e nem entregar material educativo. Coisas que já tínhamos abolido há muitos anos nesse país. Mas a gente vai seguir firme, e ninguém vai soltar a mão de ninguém”, disse Eliane Bandeira, deixando claro que a luta pelos direitos de Doté Olissassi vai continuar.

*Com CUT.