25 de abril de 2024
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Dignidade de acusado de desvios milionários tenta emparedar Polícia e MP

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Por sentir-se ameaçado em sua dignidade, o empresário João Baird questiona as acusações que vêm sofrendo e, por meio de seus advogados, reivindica às autoridades pertinentes (Polícia, Ministério Publico e Judiciário) uma espécie de retratação, ilustrada por dois procedimentos: a suspensão das investigações e a concessão de um HC (habeas corpus) preventivo.

Em síntese: um dos pivôs que o MP e o Gaeco localizaram no núcleo do maior escândalo de corrupção política e empresarial na história de Mato Grosso do Sul quer uma certidão de vítima ou um atestado de inocência. Ele pede a paralisação do Procedimento Investigatório Criminal 18/2015 e antecipa-se à hipótese de ter sua prisão decretada, embora tenha sido flagrado – de própria voz ou em gravações telefônicas grampeadas com autorização judicial – em conversas indicativas de crimes de suborno e desvio de recursos públicos, algumas das tipificações sugeridas pelas autoridades que investigam as relações entre suas empresas, entre as quais a Itel Informática, e a Prefeitura de Campo Grande.

Há alguns anos, operações especiais do Gaeco e investigações do MPE, além de contratos de serviços milionários, como o monopólio de sistemas de informatização em vários órgãos públicos, revelam a presença amélia de João Baird e suas empresas como peças de uma poderosa engrenagem de manipulação política e financeira dos poderes Executivo (Prefeitura, Governo do Estado) e Legislativo (Câmara de Vereadores de Campo Grande). Na trama em que a maioria da Câmara derrubou o prefeito Alcides Bernal (PP) e levou o MP e o Gaeco a denunciar e investigar a suspeita de compra de votos dos vereadores, descobriu-se que Baird seria um dos interessados na troca de mandatário. Bernal foi cassado em março com o voto de 23 dos 29 vereadores, sob a acusação de cometer crimes e improbidade administrativa, e reassumiu duas vezes este ano, uma em maio, por algumas horas, e a mais recente em agosto.

A tentativa de Baird de emparedar Gaeco e Judiciário, pedindo o HC preventivo e a paralização do procedimento investigatório, é vista como um desafio à credibilidade e à inteligência das instituições. Antes que se conclua todos os trâmites relativos especificamente à Operação Coffee Break, diretamente ligada à participação dos vereadores na cassação de um prefeito, já existe na mesa das avaliações uma ficha que aponta o protagonismo suspeito de Baird como uma das mais influentes e articuladas eminências pardas do que existe em matéria de relação incestuosa entre poder publico e iniciativa privada no Estado.

Entre as peripécias atribuídas a Baird, constam em seu currículo o domínio de processos políticos e administrativos para vender serviços ao Estado e municípios. A Itel Informática, carro-chefe de seu comboio empresarial, toma conta de sistemas de informatização de órgãos municipais e estaduais, como a Prefeitura, o Governo, Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MS) e secretarias. Ele já sofreu a acusação de participar e um esquema que desviou R$ 48,7 milhões do Detran. Em sociedade com o empresário João Amorim, outro investigado, possui uma aeronave que cede gentilmente para viagens de políticos de sua área de relacionamentos privilegiados.

Baird é um dos maiores doadores de dinheiro para campanhas eleitorais em Mato Grosso do Sul. Sua generosidade contempla diversos partidos, incluídas as legendas que se opõem na disputa pelo poder. Sua rede empresarial engloba firmas que operam dentro e fora do País, por meio de offshores. Baird, chamado de “Bill Gates pantaneiro”, é citado hoje como dono de um dos maiores patrimônios acumulados com injeção de verbas publicas em terras sul-mato-grossenses.